sábado, outubro 22, 2011

O caminho da cabeça meio vazio


(*As folhas caem e os sentimentos ciscam apenas com o instinto de sobrevivência e nada mais além da vastidão...! ... captei no sítio dos meus sogros em Sidrolândia)


por Rafael Belo
Aquela dor de cabeça passageira decidiu não descer mais. Deixou de ser a constância dos olhos vidrados por horas na tela para tornar-se uma passageira perdida, mas ele achava ser tarde parar voltar a sentir. Passava das duas da madrugada de mais de sete anos de isolamento e insensibilidade. Aquela cabeça doída foi o início da frieza e de uma maldade. Tudo por causa de um tumor imaginado obstruindo o sistema límbico. Este responsável por motivações, comportamento agressivo e emoções.

Ele vagava simplesmente evitando qualquer ser respirando. Morava em uma pedreira abandonada nos confins das redes sociais. Vivia de óculos escuros e cara de mal – seja lá o significado disso. Quando raramente era visto era em um comentário ácido desproporcional direcionado a um bom dia qualquer. Mas, sua dor lancinante sempre parecia uma smile original sem qualquer expressão identificável. Cometia coisas não acertos ou erros, coisas. Nada cabia no dualismo simplista de maldade e bondade.

Quando menos esperasse, saberia que nenhum sistema límbico obstruído por uma imaginação imaginada seria responsável pelo que ecoa a alma, pelo som descompassado do coração. Encontraria o lugar para onde foi o que deveria ter sentido nos momentos que terminou relacionamentos, que foi assaltado, que viu a morte, que comprou sua primeira casa, que foi visto pela morte, que foi demitido, promovido, reconhecido, rejeitado, traído, ignorado, exaltado, confundido, procurado... Só não estaria preparado para encontrar este lençol freático escondido.

Incrível foi quando de fato aconteceu. Ele sentiu falta da fidelidade da dor e se surpreendeu por poder sentir falta e saber o significado de falta...! Mas, foi só. Esta solidão doeu e ele pensou na dor... Até esquecer e olhar para a tela escura. Não havia luz em parte alguma. Sem saber como se referir a si mesmo soube de um tempo aonde a luz vinha de dentro, o incluindo. Isto levou a horas olhando para um reflexo desconhecido imitando os seus movimentos. Lembrou que para ter reflexo em um espelho é necessária luz...
...Começou a percorrer um vazio e a contar os grãos de areia... Sabe-se lá o tempo do porvir para retornar deste espaço deixado... Pesou a cabeça nas mãos sentindo tanta bagagem quanto possível. Depois divagou e não soube mais o que fazer...!

Um comentário:

Luna Sanchez disse...

A falta faz falta, em especial quando o conceito pleno dela está presente.

Muito bom, Rafa, estava com saudades de te ler.

Um beijo.