quinta-feira, fevereiro 27, 2020

Mover








badalei o badalo da vida
Vi o avesso de fora
balem meus sinos batem meus sonhos
vai-se meu sono para a noite voltar 

minha lã já não é troca
troca-se por si pelo Pastor
agora não há superfícies

pastoreio profundo o pasto do Éden
o Jardim infinito permitido em mim

Edificado estou pois o meu Mover é Eterno.

+às 08h08, Rafael Belo, Campo Grande-MS, quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020+

terça-feira, fevereiro 25, 2020

EU SOU OVELHA







por Rafael Belo

Somos injustos, somos cruéis, somos ingratos. É fato. Nosso ego e arrogância vive a nos cegar. É difícil admitir quando se é tanta carne e quase nada espírito, quando o nosso alimento é o desequilíbrio e o reflexo de como somos tratados pelo mundo. Nos falta fé e não vem a frase "no fundo" antes. Estamos aqui na superfície. Estamos rasos cheios de insegurança, desconfiança e atitude. Somos questionadores imprudentes porque segue nos faltando também nos colocar no lugar do outro e mais… Nos falta tanto, mas penso ser o maior destas faltas o arrependimento genuíno, o avivamento.

Deixamos de acreditar em tantas coisas e perdemos mais uma chance de nos edificar. Não falo olhando ao redor. Estou de olho no meu próprio umbigo e antes disto soar e parecer egoísmo já digo algo nada inédito: a partir do reconhecimento dos nossos erros, nossas falhas e ações para mudar isto é que processamos nossa fé. Saímos, assim, do raso, desta superfície mercantil de troca e nos entregamos, nos doamos, profundamente acreditamos e vivemos na imersão total da fé.

Há clareza e vivência. Os atrasos, os vícios, nossos constantes pecados vão diminuindo conforme vem o entendimento tão pedido. Devem usar sim a razão, mas não é sozinhos que garantirmos ser esta razão A Verdade, há o coração e A Palavra para nos orientarmos por isso, somos ovelhas. Não no sentido de dependentes, controlados, mas repletos de condições a nos adaptarmos ao local onde vivemos para fazermos a diferença e aceitarmos sermos pastoreados pela Força Tremenda a qual chamamos simplesmente de Deus.

Ovelhas são dóceis e tranquilas, reconhecem rostos dentro do rebanho, inclusive o seu pastor. Elas também sabem se automedicar quando doentes comendo plantas específicas para serem curadas e digerem grãos que outros animais não conseguem, afinal elas têm dois estômagos. Além disso, se generaliza ovelha para falar de toda a espécie e, talvez, porque o carneiro (macho da espécie) é agressivo e protetor diante das ameaças. Já cordeiro é o filhote e o jovem da espécie. Outro fator a nos colocar como ovelhas é o tempo. Elas foram o segundo animal domesticado entre 17 e 13 mil anos. Elas sabem também ser eficientes já que produzem lã  desde o nascimento e cada vez que é tosquiada, sua lã fica melhor. Ou seja, ela sempre produz, ela sempre frutifica, ela não fica parada, ela não espera nada acontecer.

Isto é edificar. Diferente de achar ter razão, como por muito tempo achei e lutei para deixar isto claro fazendo prevalecer esta minha justiça própria, está minha certeza do que é certo. Porém, não há a justiça dos homens de Lei e a Justiça de Deus ? Se eu agisse como antes seguiria sendo uma cobra picando sempre que pisado ou tentando pisar. Quando entendi transbordei e encho a boca para certificar: EU SOU OVELHA! 

sábado, fevereiro 22, 2020

Vaso Novo (miniconto)







por Rafael Belo
Estava sentada. Quando começou a chover continuei chovendo sentada. Eu chovia por dentro e a chuva me transbordava por fora. Estava ressentida, insegura… Esbravejava os trocos que jogavam em mim. Eu realmente me sentia uma mendiga, um ser humano invisível e abandonado… Começava a criar lógicas absurdas porque se eu era invisível como seria abandonada se para ser abandonada era preciso ser vista? Eu não fazia sentido.

A lógica real era eu estar procurando respostas no lugar errado. Neste lugar só pairava raiva e escuridão e não havia razão. Eu me questionava. Quando eu perdi a coragem de olhar nos olhos do outro ou de sustentar um olhar? Eu me reduzi em meu próprio inferno desabitado. Acreditei nas pessoas erradas e reino uma servidão escrava. Não contenho nada. Aliás, não continha. Era um vaso rachado sem serventia… Eu servia para a dúvida, para a incerteza… Nunca tive nada de verdade porque nada havia ficado. Este tudo dito na verdade não é nada. 

A chuva era um dilúvio. Meu dilúvio. Eu sentia algo na verdade, mas não aceitava. Quando vi aquela Luz. Olhei ao redor. Não estava mais no caos e na desordem só Centro daquela cidade qualquer. Estava em um quarto. Aquela Luz estava mais forte. Esta mais forte. Mas ao contrário da cegueira da escuridão, Ela me faz enxergar. Neste quarto a água está corrente e me imerge por inteira. Há uma conversa íntima, particular e eu já sou Luz também, sou um vaso novo.

quinta-feira, fevereiro 20, 2020

ressentido







Deixei de sentir todo peso
depois de ressentir devorar ressentimentos
perder-me a tempo de me ver perdido 
ressentir reacender quebrar meu vaso
na olaria mais antiga amassado refeito 
novo sujeito outro vaso
novo que reascende o reascendia 
descendia de ressentimento
Desentendimento de um mundo 
ressentido 
Só um caminho faz sentido.

+Rafael Belo, Às 15h44, terça feira 18 de fevereiro de 2020, Campo Grande-MS+

terça-feira, fevereiro 18, 2020

Preparação do porvir





por Rafael Belo

Nestas águas de Noé em dilúvios vindo das consequências, tudo é cobrado de quem deve. Quem não deve, não deve temer. Estamos constantemente sendo preparados para algo adiante. Entender demora. Os joelhos se dobram e no tempo preciso o entendimento vem. Não sabemos o que é preciso para chegarmos onde devemos ir. É um sentimento depois de enchentes, desabamentos e uma flagrante epidemia mundial.

Estamos no deserto sem perceber. Estamos na jornada do heroi sem saber. Herois da nossa própria história, mas procurando outros herois, indo assim para lugar nenhum onde a mente se esvazia habitando um inferno sem nome assolando o coração de julgamentos quando é na coragem do silêncio que o som do coração nos aquece com uma divina Voz. Destes nós feitos por nós, nos livra. Um peso sai das nossas costas mesmo cada um carregando sua cruz e este deserto, esta provação só nos prova não estarmos sós  no deserto necessário para nossa evolução.

Na trajetória podemos perder a confiança e nós mesmos. Enchemo-nos de pensamentos negativos, agressivos, julgamentos, cobranças, arrogâncias permitindo que tudo fique pior acumulando problemas sem enxergar as soluções, sem enxergar as mãos estendidas. Acredite! Elas estão esticadas. O coração fala com a gente, mas precisamos o libertar para realmente o escutar.

No fim sentimos que tudo foi preparação. Sentimos não ter sido o fim. Mas o começo. O recomeço. Uma nova oportunidade. Na verdade uma correção de trajetória. É quando sentimos a alegria no coração. Como podemos viver sem ser alegres? Como podemos viver reclamando, apontando, se enraivecendo, matando diariamente a esperança ? Nosso pensamento precisa ser elevado e nossa atitude humilde e fraterna para evoluirmos ou não passaremos de mentirosos.