quarta-feira, fevereiro 28, 2018

Tornei-me






por Rafael Belo
Havia desolação, ódio e vazio naqueles olhos. Mas, aqueles olhos não eram de um estranho a temer na rua. Era sim um desconhecido e ele era eu. Sou eu... O que sobrou de mim, o que eu me tornei... Não há respiração funda nem contagem regressiva que me contenha. Seja lá onde você estiver, desaprovaria. Tornei-me uma justiceira e se nossa menininha estiver por perto, jamais mostre esta carta antiquada a ela. Você agiria diferente, bebê? Se você estivesse ao volante, ao invés de mim, e eu estivesse morta, não você e se nossa filha terminasse... Terminasse... Esmagada sem jamais poder crescer aos nossos olhos? Talvez fizesse pior porque o vingativo era você não eu...!

O que mais eu poderia fazer? Ela era nossa vizinha. Vivia em casa, apesar de ter tanto dinheiro... Este foi o deus pequeno da salvação mesquinha dela. O dinheiro. Tinham testemunhas, ela estava bêbada... Nem era madrugada ainda... A comoção popular e midiática acabou logo. Fiquei sozinha. Esqueceram depois de outro crime brutal no trânsito... Sumiram provas, vídeos, quaisquer coisas relacionadas... Não consegui apelar no tribunal  e como é o tempo por aí? Ele passa devagar e arrasta correntes como aqui? Ele dói sem parar? Não acredito já terem passado cinco anos... Foi tudo um borrão. Se por acaso você recebesse esta carta...

A ideia mais estúpida que esta vaca já teve. Queria me denunciar quando disse que “dei um jeito na vizinha” e em todo mundo envolvido... Eu sabia, ela não disse nada, mas tinha todos os indícios. Não era do tipo ética, não... Provavelmente iria querer se promover com minha história... Enfim, esta injustiça não ficaria impune. O que eu poderia esperar de uma psicóloga com uma ideia tão antiquada... Será que ficou com medo de se tornar cúmplice se eu fizesse em algum meio digital? Se sim, até que não era tão burra... Bom, agora não posso perguntar mais. Ninguém pode...

Posso até estar fazendo o mal, mas e o mal que me fizeram? Não foi nada bom. Fez eu me revelar uma pessoa ruim? Só queria me sentir bem e fazer cada um dos envolvidos pagarem. Você deve estar se perguntando se eu durmo bem agora e eu posso afirmar que não importa. Ninguém vai sequer dormir enquanto não derem um resolução para tudo que houve comigo, com a gente, conosco... Bem, meu bem, você está morto, nem sequer pode opinar. No final, aquela vaca nem era tão estúpida assim... Vou levar este divã para casa porque quando fizerem o mesmo que eu fiz... Quando fizerem justiça comigo eu vou fazer de tudo para ter você de volta. por enquanto, vou para aqueles trilhos só nossos.
ps: parece que me tornei uma incendiária também e estas palavras devem chegar até você via fumaça. xo xo

terça-feira, fevereiro 27, 2018

Barrabás





olhos vermelhos boca espumante
bufante touro envenenado no revide
cheia de palpite a língua fere ferina
intempestiva adrenalina apertando as mãos

gosto de sangue nos lábios a cada mordida
enquanto a bala disparada dá uma afetação
prazer efêmero droga natural exalada no corpo

tudo torto exaltado forçando a palavra
escrava da manipulação amortecendo quedas no toco

esperança é funcionar vingança em busca de um alívio morto sem ressurreição.

+às 12h22, Rafael Belo, terça-feira, 27 de fevereiro de 2018+

segunda-feira, fevereiro 26, 2018

Fazendo o mal




por Rafael Belo
Há satisfação duradoura na vingança? Vejo um revide sedento por sangue e dor noticiado por toda parte aplaudido, repreendido, invejado… Querendo replicar no outro o mesmo e até mais naquilo que ele fez a ti.  E dos comentários por aí há sempre um desafio no estilo e se fosse você. O que você faria se fulano ou fulana te traísse? E dá-lhe defesa do posicionamento e lá vem um  textão novo e os “ah, se fosse eu” brotam sem parar. Mesmo dizendo não precisar dar satisfação a ninguém, a vontade de ser aceito cria narrativas de justificativas intermináveis em falas e postagens por aí.

Parece-me uma autopunição alimentando um monstro particular eternamente faminto, vestindo em nós diariamente a máscara de O Grito, de Munch, deixando clara esta expansão desesperada do vazio em uma multiplicação de dor desnecessária. É como se não houvessem inimigos por aí que não nós mesmos e nós não queremos domesticar os monstros, queremos atiçá-los para justificar nossos atos, falas e pensamentos. Se pensar bem, o mal externo se alimenta do nosso desequilíbrio, das nossas incertezas, das nossas raivas engarrafadas e guardadas na geladeiras para as bebermos geladas.

A vingança traz o nosso pior e o leva, o espalha querendo forçar o entendimento alheio de que não havia outro jeito, inexistia escolha e vai lá esbugalhar os olhos, abrir a boca e apertar as bochechas. Aflorando uma frieza morta só capaz de refletir o que é: frio e morte. Estamos nos esvaziando de um jeito até realmente virar o desespero que aparenta. Vamos alimentar a fome só para ela retornar mais voraz e nesta antropofagia seguimos famintos. Mastigando carne humana com o olhar ensandecido…

Não existe alívio em infligir dor, a não ser que a humanidade realmente tenha acabado e passamos a ser adoradores do sofrimento, do flagelo de tantos, da eliminação daquilo e de quem tememos, da morte como solução… O olho por olho, dente por dente nunca funcionou só causa outro efeito semelhante àquele que pensou ter terminado. No fim geramos mais violência, intolerância, desconfiança, alheamento, distanciamento e longe de fazer o bem, estamos fazendo mal e bem mau.

sexta-feira, fevereiro 23, 2018

Ninguém estava




por Rafael Belo
Alguém troca máscaras? Nem sei porquê estou pensando isso. Bem, elas eram bonitas. Mas, doíam tanto. Não é, não?! Eu vivia retorcida pelos cantos tentando alcançar o inalcançável. A dor não compensa, é necessária. O sofrimento sim, este era uma saga dramática e hipócrita acumulando migalhas por onde quer que eu fosse. Era para eu lembrar o caminho da volta… Era! Se eu não me perdesse indo e ficasse iludido esperando a solução. Eu queria uma intervenção. Pedia por isso de joelhos.

Ninguém estava prestando atenção de verdade. Era um variedade de algoritmos impedindo meu alcance anterior. Justo eu, a digital influencer. Agora era… Não. Eu já era solitária. Não tenho mais esta máscara e não mexo com ela agora com saudades. Vou leiloar esta face. Ser popular me causou tantos transtornos mesmo eu seguindo e fazendo a egípcia. Gostaria de ter o mínimo de saúde mental, saúde… Sanidade já me falta de um tanto. Impossível recuperar.

Como meus joelhos. Sem recuperação. Não vou fazer cirurgia. Não… Se bem… É. Remover cirurgicamente uma dor dessas, irmãos, seria sensacional. Intervenção nacional em mim… Solução imediata vai acabar, mas não quero nada a longo prazo. Eu tenho prazo de validade, mas todo mundo né?! Isso não é desanimar o rolê. Não bodei ninguém porque não disse nada. Da onde veio esta raiva? Nem eu esperava ter acumulado isso também. Comeram minhas migalhas…

Voltar não é opção. Respira mulher. Pira mais tarde. Vou aproveitar minha liberdade. Não vou tirar minha paz dando esta permissão invisível para manipulação. Gosto desta sensação de me pertencer. Vou alvorecer a todo momento. Vou libertar também meus sentimentos, não vou relaxar, mas estética? Só se for cerebral. Bem ou mal, esta sou eu. Sem satisfações. Não vou me privar das minhas emoções. Sou Valente comigo e não é de vez em quando, esta é uma solução permanente.

quinta-feira, fevereiro 22, 2018

dispensando



perdeu-se o nome no meio das noites mal-dormidas
entre as fomes mal-comidas ronronando feito gatas de rua
carentes de outros desejos enquanto enchem a lua
e nestas cheias misturadas transbordando marés de gente [quem se arrepende já encontrou as máscaras

bárbaras formas de intervenções veladas
nos jogam das sacadas antes mesmo de pensarmos em subir as escadas
qual a próxima jogada arrebatada em planejamento ?

está tudo nítido como o mítico Sísifo
e desta vez Ícaro voou sem queda

a insônia adormecida no Labirinto de Dédalo é uma nova era onde a gente estreia dispensando dramas e tragédias.

+às 12h56, Rafael Belo, quinta-feira, 22  de fevereiro de 2018+

quarta-feira, fevereiro 21, 2018

Já vejo o sol





por Rafael Belo
Estavam todos em casa quando cheguei. Eu sabia, por isso demorei. Sentia que iam interferir na minha vida. Mas uma intervenção?! P+#$@! Véi! Você só pode  estar de sacanagem! Eu vou expulsar todo mundo e … Não, não vou dar conta! Molho o rolê! Caraca! Bodei até minha raiva. Mas, e se eles tiverem razão. O que acontece?! Preciso molhar esta boca seca. Um brinde à vida ou a falta dela? Vou fazer mais um charme antes de irem qualquer lugar. Eita! Me viram! Corre!!!! Cadê meu fôlego? Mas, gente!! Quem sou eu, afinal?

Vou voltar… Não! Com certeza eles, no mínimo, sabem menos ainda. Meu fone, meu fone, meu.. AQUI! Preciso de uma trilha sonora para pensar. Minha playlist vai me ajudar. Se eu não sei nada nem eles sabem. Brincam como eu de um suicídio diário em um se jogar arbitrário onde a tortura acaba levando a loucura para outro estágio. Solução imediatas são sempre paliativas, eu preciso de longo prazo, me isolar talvez, mas de certa forma já sou. Eu desmonto todos estes gatilhos sociais…

Mas já me dei tanto tiro e tudo causado foi dor. Não acertei nenhum órgão vital e fiquei rastejando como um algoritmo vazio mutante distante de alcançar qualquer popularidade indesejada. Digitando  com sangue toda a codificação necessária deixando atrás de mim um rastro interminável de máscaras, dispensando quaisquer direcionamentos externos querendo dizer para onde vou e quem eu sou. Eu sou inconstante, mas uma constante mudança. Pô! Não queria me entender!

Não estou perdida. Mas, também não vou ficar dando satisfação. Eu sei que não vou dar spoiler de mim, porém não vou me esconder. Nada vai se resolver agora, eles precisam pensar a longo prazo e eu só meu próximo passo. Vou-me mudar daqui. Eu tenho dúvidas… Minha certeza é minha recusa a ser comum. Sai dessa vala há muito tempo é preciso continuar a me distanciar. Vou me apressar. Os escuto se aproximar. Estou indo me internar em um lugar só meu, por enquanto tudo para mim é agora e o quem vem caindo é a chuva à espreita, mas logo a frente à direita já vejo o sol.

terça-feira, fevereiro 20, 2018

a distorção





o bom é relativo viaja no motivo do nascimento da intenção
para mim é um para você não
a condução roda emotiva tensa evita a colisão
de repente o mundo gira mais rápido em intervenção

mudamos de prisão na teoria da relativação
os relatos esparsos possuem um compasso
fiado no esfregar da palha de aço

emaranhada nas mãos esfregando o rosto
posto abaixo da mais nova máscara do embaraço

onde todo espelho é espaço para preencher a distorção.

+Rafael Belo, às 09h42, 20 de fevereiro de 2018+

segunda-feira, fevereiro 19, 2018

Autointervenção



por Rafael Belo
Há sempre uma chuva à espreita ou seria o sol espreitando? O tempo vai passando e a gente patinando, esperando, esperando… Esperando uma nova desculpa para esperar. É possível surgir uma intervenção tardia, momentânea e totalmente paliativa, mas e depois? Quanto tempo demorou para a situação insustentável acontecer? Quantos soldados são necessários para sitiar uma cidade? E quase a totalidade das cidades com o mesmíssimo problema? Solucionar de uma hora para outra é só mais uma máscara.

Vamos vestindo várias máscaras ao mesmo tempo e nos deixando levar pelo pior de nós. Somos nossos próprios carrascos. Sabemos torturar como ninguém. Saímos nos punindo e tomando venenos em doses pequenas para nos enganar ao morrermos lentamente. Traficantes silêncios, escondemos informações, atiramos nas partes anatômicas do corpo onde até afetados, mas só para difundir o medo e permitir o controle. Bom, até o descontrole é vigiado, cercado com os limites certos…

Porém, certo e errado ficam vagando em um prisma pessoal tão carregado de dúvidas e paradigmas que a âncora é se agarrar as abaladas certezas inabaláveis. Qualquer coisa é válida para não perder o que se tem. E o que temos, afinal? Nossa saúde mental vai bem? Estamos bem ou vivemos dependentes de tantos gatilhos sociais que acabamos apontando para nossa cabeça, abrindo a boca e espalhando o que resta do nosso cérebro em algum fundo branco decorativo?

Há várias formas de suicídio e somos algoritmos de alcance variado, mudando  nosso impacto diariamente e o que funciona já deixa de funcionar. Precisamos conversar na mesma medida da necessidade de espaço particular. Pense bem nas consequências de esperar porque pouca coisa realmente se espera. Assim, é possível nos despertarem para o que nos tornamos. Mas, a intervenção é um caso extremo, praticamente figurativo simplesmente explicado pela frase: “deixamos acontecer”. É este o motivo de não haver casos isolados, é apenas uma questão de divulgação, mas se aconteceu a intervenção é solução imediata. Soluções definitivas ou de longo prazo não surgem de repente. Comece a ser valente, consigo mesmo e depois me conta.

sexta-feira, fevereiro 16, 2018

de outro jeito agora





por Rafael Belo

Enquanto espero o próximo feriado chegar fico aqui pensando no carnaval e nesta semana desnecessária. Meia semana, né?! Meio semana? Há metade, metade… Cara! Eu só trabalho pra trabalhar porque não sobra nada além de dúvidas e prestações e parcelas e… Eu vou viajar sempre que puder. Eu fico falando falando falando, mas cara… Você já foi em quantos rolês e os boys ficam falando falando falando? Querendo te pegar de qualquer jeito? Mil vezes ouvir uma mina falando merda…

Aí eu vejo o crush e esqueço tudo que prometi pra mim mesma. Mas, tenho força suficiente para alertar minhas amigas no grupo do whats “me salva do crush”. Piada interna que vão ter que presumir… Então, de repente todo mundo vira água. Um mar salgado particular feito de pessoas. Não é possível que dei todo este poder para este crush! Só falta o mar se abrir e … Nossa! Não! Ele também é uma gota neste oceano… isso não lacra de jeito nenhum… Está errado.

Nenhuma pessoa é uma gota d’água apesar de poder ser a gota d'água. É preciso muito mais tempo para sermos líquidos mesmo. Talvez mais alguns fins do mundo e quem sabe já possamos pensar na possível existência desta ideia. Até lá somos sal. Uma partícula salgada em tamanha quantidade que salgando a água e tal vira mar. Mas aí contabilizamos, ao contar nossas façanhas, apenas como nosso árduo suor tirado a chibata para podermos chegar até aqui. Olho como somos exemplo! Olha como somos maravilhosos!

Sério?! Mesmo?!  Vai fazer um favor e me poupe! Não conseguimos nem entender que líquido é todo o resto. Nós conseguimos liquidar o amor… Opa! Não! Desculpe-me! Consigamos fazer o amor ficar líquido. A gente não consegue conter nada. Precisamos nos reinventar, mas nem conseguimos nos desinventar. Nem o princípio básico da desconstrução… Minha mente está fazendo a maior confusão é meu sistema imunológico criando esta ilusão de imortalidade e capacidade de mudar tudo quando eu quiser. Quer saber? Eu vou falar umas coisas para este crush aqui! Você! Você mesmo seu lindo! Homão da p….! Mudei de ideia. Vamos começar de novo, de outro jeito, sem crush desta vez e, ah, toda a humanidade é os dois últimos espécimes raros de Arara Azul tentando evitar contato.

quinta-feira, fevereiro 15, 2018

minhas amarras





do sol absoluto para a tempestade interminável
assim o dia é avesso noite o claro é seu oposto
o raio contrário vira raio cai e caio no fundo do céu
levanto encharcado feito papel amassado em anotações perdidas

cai tanta água ruas rugem rios recém rompidos dos ventres das nuvens
curvem esta reta comigo unanimemente burra urra vento mistura chuva
turva a visão nesta conexão ruidosa do carnaval de fevereiro não há corpos inteiros

marinheiros das probabilidades o medo das tempestades é uma antiga gota d’água

quando mais um fim do mundo termina outro se inicia para nos provocar

saio do ar dessintonizo entre o pensar e o não pensar não me permito mais me irritar
na próxima chuva vou soltar minhas amarras voar com as azuis araras.


+ Rafael Belo, 22h26, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2018+

quarta-feira, fevereiro 14, 2018

Está tudo bem






por Rafael Belo

Estou aqui entre o pensar e o não pensar onde chamo do descanso das imagens. Eu saio do ar sem deixar de prestar atenção em tudo. É um estado de consciência absurdo e até os mínimos detalhes convertidos em imagens na minha mente se ausentam. Há uma multidão naquelas águas térmicas comigo. Só prestam atenção na minha existência quando subitamente trombam em mim ou alguém daquela realidade dá um spollier. Às vezes, mesmo assim não se desculpam.

Aquelas águas borbulhantes naturalmente hidromassagem comportam tanta gente e ainda assim não testemunho ninguém interagir fora do seu grupo nem no automático. Famílias, casais, pares, amigos basicamente com os celulares supostamente isolados da água pendurados no pescoço como placas de identificação, o utilizam para registram o momento e com medo de perder o aparelho se limitam a isso. As poucas vezes que interagiram comigo foi para tentar confirmar alguma afirmação sem minha cooperação para tanto. Já eu interagi bastante...

Enfim, a gente relaxa e se diverte conforme nos propomos. Mas, é estranho estar rodeado de desconhecidos barulhentos e mesmo assim em silêncio. Ali, naquela água borbulhando e massageando naturalmente, o mundo parecia um paradoxo habitado e desabitado ao mesmo tempo. É uma experiência de conforto e desconforto não coexistindo, mas colidindo vez ou outra. Você está lá sem compromisso, sem dever nada a ninguém, sem responsabilidades naquele período, sem a necessidade de se preocupar com nada e nem ninguém e aí você trai toda esta liberdade querendo de repente exatamente o oposto.

Mesmo no conflito de qualidade e quantidade, aparentemente, os seres humanos só evoluem quando interagem fisicamente, pessoalmente e se permitem trocar ideias e conhecimento. Ah, também é desta forma que se vive mais e melhor. Então, Não importa o quanto alguém possa ser irritante é possível tirar uma qualidade dali mesmo isso tendo de vir da tua postura e de como nos abrimos para receber a forma do outro. Afinal, também podemos ser muito irritantes... Não é que a grama do vizinho seja mais verde neste nosso planeta abundante, mas tão cinzento e concreto, é que vários mundos acabam cada vez que rejeitamos ou aceitamos algo. Neste fim do mundo constante devemos a nós mesmo experimentar porque em algum momento mudamos de opinião querendo o avesso do que a gente tem, do que estamos vivendo e está tudo bem com isso.

sexta-feira, fevereiro 09, 2018

No ritmo da liberdade





por Rafael Belo
A noite não havia acabado como eu tinha pensado e sentido. Ao não pensar em mim ele não me atingiu totalmente e não era aquele abuso, aquela total violência capazes de me afastar e me tornar agressiva também. Não. Mais pessoas estavam na pista. Todas elas vieram até mim e pediram permissão para me tocar. Aquela energização me renovou.

Eu de imediato senti o poder que deveria sempre sentir. Abracei-o imediatamente. O olhei nos olhos e o permiti me tocar. Eu o conduzia ele me conduzia a música boa conduzia o som dentro da mente nos conduzia… Aquela magia contagia e todos estavam contagiados. Não era preciso abrir os olhos daquela dança. Era possível respirar o que estava acontecendo, era possível sentir e enxergar o movimento de todos sincronizados e ao mesmo tempo em uma dissincronia enorme, avassaladora, esmagadora de tão intensa e mesmo assim os passos estavam no ritmo da liberdade…

Estávamos dançando. Flutuando na pista. Tecíamos um rastro de estrelas. Fazíamos um novo universo no verso de cada poesia declamada em movimentos. Estrelas que somos, até parecíamos cadentes, mas subíamos e descíamos em um constância viva latente. Quem via prendia a respiração, adentrava em um espetáculo envolvente viajando em um universo expandindo e retraindo como um coração lidando bem com todo sentimento.

Este sentir intenso percorria aquele momento interminável e de repente há uma pausa, um abraço de corpo inteiro e a vida arrepia. Toda a pele eriçada depois da alma pulsar além da existência. Não há aparência. Toda a essência dança em estado de graça. Nada mais passa em vão. Estão todos em catarse. Foi dada a permissão para o toque ser gentil e cada par servil a própria canção.

quinta-feira, fevereiro 08, 2018

catarse corporal






no começo da madrugada
começa a dança cálida da construção da chuva
uma gota sugere um passo e vem do alto cair
delicada outra a poupa de sozinha ir

logo ligam loucas um complexo tô nem aí
são sincero som a surgir em movimento
no meio tenso vão do intenso a suave salvação

vão respirar de um leve chuvisco ao constante tamborilar
a permissão eterna de ser a forma certa de tocar

basta acontecer para a chuva surgir doce suor sem cair sem levantar apenas saindo do lugar do tecer do pôr-do-sol natural a catarse corporal.

+Rafael Belo, às 02h14, quinta-feira, 08 de fevereiro de 2018+

quarta-feira, fevereiro 07, 2018

Ao não pensar em mim



por Rafael Belo
Sozinha eu dançava e sentia meu próprio toque na pista. Tinha meu ritmo, o ritmo do som e era outra dança. O ar não tinha resistência, me dava assistência e dançávamos juntos também. Minha essência estava solta. Eu não estava louca apenas quem não se soltava ao movimento pedido pelo corpo é que devia estar enlouquecendo. Meus pensamentos só iam e vinham sem ficar com seus próprios passos elétricos. Até tudo ficar pesado. Meus movimentos foram acabados por um toque sem permissão.

Barras me cercaram. Uma gaiola se fechou. Ganhei uma prisão. A violência não era física. Não era psicológica. Era conduzida sem respeito. Eu não podia propor nada, aliás, propunha e era rejeitada. Como podia não ser ouvida?! Estava em um estado de espírito elevado e fui parada, interrompida. Antes eu chorava de alegria, estava em libertação. Agora choro de luto, frustração. Luto pela morte do diálogo que estava sendo minha dança até ser violentada por quem queira impor uma condução unilateral, egoísta.

A pista era minha mas eu queria sim dividir. Compartilhar o sentimento pleno. E aquele que me tocou abruptamente sem permissão, me tirou de mim, de supetão. Eu fiquei perdida e dizia não. Do outro só vinha força, intensidade distorcida… Era sem acordo só imposições seguidas… Aquilo levava minha respiração. Eu sentia angústia e não era minha. Eu sufocava e sabia que outra pessoa vinha em minha direção. Só vi quando chegou. Sentia que era paz e resgate.

“Tudo foi em um instante. Não poderia ter pedido, interagido antes? Há muitas formas de pedir permissão”, eu disse enfurecida. Me sentia violada, mais uma vez invadida. Enquanto eles conversavam eu ainda dizia. Será sempre seco assim? Dançar é uma troca e é aqui que eu me liberto. Sinto tudo melhor, sou a eletricidade se movimentando, o sorriso brotando… Tudo quando danço. Respeita-me! Respeite minha dança. Agora deixa eu me recuperar de você. Do que você fez ao não pensar no outro, ao não pensar em mim!

terça-feira, fevereiro 06, 2018

carne vazia




aquele toque sem jeito
tinha defeito de fabricação
vinha com outra energia
dessintonia outra intenção
agressivo insalubre prepotente
totalmente divergente
da liberdade de expressão
este teu toque tarado
veio aglutinado em sujeito safado
voltado para própria satisfação
tira este olhar do peito do corpo
olha meus olhos meu rosto
aqui habita minha alma onde nasce minha calma
comece pela palma com permissão
porque carne vazia sem respeito é agonia medo prisão.

+às 23h49, Rafael Belo, segunda-feira, 05 de fevereiro de 2018+

segunda-feira, fevereiro 05, 2018

E isso é respeito




por Rafael Belo

Eu não tinha parado realmente para pensar e sentir sobre a ausência do toque e desvio dos olhares. As consequências estão por toda parte e em cada um de nós. O sofrimento causado fica a flor da pele, rola em lágrimas aperta o peito e cria muitas turbulências no coração. A sociedade nos tornou distantes com o paternalismo e o machismo diário matando, espancando e tentando inferiorizar as pessoas. Nossa liberdade perdida exige uma batalha insana para conquistar a confiança do próximo.

No período em que eu morei em São Paulo, trabalhei em uma Ong e sempre fui de olho no olho e toque. Fiquei extremamente surpreso quando a diretoria me chamou no particular para falar que naquela cidade as pessoas se sentiam incomodadas com o olhar e o tocar. Ri de nervoso. Olhei para todos os lados pensando o quanto aquilo parecia surreal. Como assim?! Acabei dizendo: Ninguém falou nada. Fiz algo inconveniente? Alguém reclamou? Revi mentalmente todas as minhas conversas e tive certeza que nenhuma destas interações resultou em incômodo. Nada no olhar, na expressão, na postura de quem eu conversava indicava qualquer incomodo. Mas, a pessoa que me “alertou”... Esta sim se sentia incomodada.

Infelizmente, o cunho sexual do abraço e do cumprimento com beijo no rosto, incomoda. A intenção sempre fica no ar. A desconfiança se espalha e o medo é quase paranoico. Não é de graça. Pelo contrário, é mais que justificável. Principalmente se tratando das mulheres e de todas as pessoas que se identificam se relacionando de forma íntima com o mesmo gênero ou não se identificam com o próprio corpo ou ainda se transformaram na pessoa que se identificam.

Esta questão de identidade é fundamental para se permitir, se libertar, se sentir e sentir o outro. Aquela energia feita de desgaste, renovação, alma, pele e coração têm momentos e vivências tão específicos moldando o que agora é, que é preciso pedir permissão para se aproximar e isso é respeito. Neste fim de semana, a desobjetificação do outro foi mais intensa, clara e completa para mim durante a Oficina do Sentir. Acredite é transcendental você participar, ouvir e coexistir com a existência do outro ao invés de impor, invadir e conduzir. Que tal aprendermos a realmente sentir?

sexta-feira, fevereiro 02, 2018

Quanto tempo eu estive ausente? (Miniconto)






por Rafael Belo

Realmente não é só coisa de cinema. Quando a gente está presa ou enlouquece ou fortalece. Estava furiosa e agredi os policiais. Achei que não ia saber como vim parar aqui… Olhe bem: atrás das grades. Não foi o desacato nem a quantidade de macacos que arranquei a cabeça, mas pelo furor social iniciado nas redes sociais. Eu realmente virei um monstro e viralizei. Naquelas imagens não parecia sim fiquei chocada e até gritei barbaridades antes de perceber ser eu. Gritando como no filme ou na série 12 Macacos? Twelve Monkeys…

Caraca. Ainda bem que tenho nível superior me disseram. Isso deve explicar eu estar só, não esmagada… Não em superlotação… Espera. O número 12 representa renúncia pessoal, ação… É harmonia e tantas coisas bíblicas e astrológica e da numerologia… Que conflito é esse? Não vou me justificar. Cometi um crime ambiental e estou presa… Estão gritando repetidamente “as-sas-si-na”? Sim. Eu vou morrer? Meus Deus! Estou segura aqui dentro? É por isso que me prenderam…

Não consigo lembrar a quantidade de febre amarela que impedi de proliferar. Só consigo pensar no número 12 e nada mais. Ei! Fiquei sabendo só agora da insanidade que cometi… Por que eu não acreditei ser o mosquito o culpado? Alguém me diz alguma coisa, por favor? Aqui não parece uma prisão… Está tão frio... Que dor de cabeça... Preciso de um cobertor… Onde é aqui? Olá? Estou isolada. Gente! Meus cabelos estão encharcados e eu estou com um cheiro desagradável. Meu corpo dói. Estou tremendo… Como estes macacos vieram parar aqui?! Espera um pouco…


Eu tentei falar com um macaco já? Só estou eu neste lugar.. Ninguém me responde... Preciso me hidratar. Isso não é uma prisão… É uma sala de emergência médica para quarentena. Meu Deus! Como pude matar animais que confiavam em mim?! Eu os estava estudando… Por quanto tempo eu delirei? Afetou minha mente... Foi um delírio ou eu fiz tudo isso mesmo? Isto já estava aqui? Minha mente está pregando peças em mim... Tem uma pasta aqui com escrito “pe” zero… Onde estão os mosquitos?! Eu sou responsável por isso. Criar a doença. Criar a demanda. Criar a vacina… Isto aqui é a sala de contenção do meu laboratório. Não estou presa. Eu criei uma variação mais mortal da febre amarela e testei em mim mesma… Eu sou um monstro. Sou a versão feminina do Médico e o Monstro. A versão capitalista quem sabe. Sou Miss Hyde e Doutora Jekyll. Preciso de um nome melhor e invocar minha parte que está arrependida. Ela existe? Preciso encont?rar alguém ou pelo menos respostas...Quanto tempo eu estive ausente… Será que alguém está vivo lá fora?

quinta-feira, fevereiro 01, 2018

dramacídio





amanhã chega na manhã como um sono não terminado
limbo modificado coçando os olhos amanhecidos
não estou mais adormecido até um eu antigo despertou
os bocejos repetitivos querem espantar o tédio o dramacídio do que não passou

olhando o quanto somos repetitivos e aprisionados ao medo de ser perdedor
pensando na sabedoria popular na febre que voltou
os ditados vão costurados na boca como um lábio opressor

o outro lado se arremessou e finalmente soltou
a morte está viva na gente e ao perceber ela já passou

a gente não manipula o tempo não muda os eventos
é o acontecimento capaz de fazer pensar o pensador.

+Rafael Belo, às 09h30, quinta-feira, Primeiro de fevereiro de 2018+