quarta-feira, outubro 31, 2018

Logo você (miniconto)






por Rafael Belo
Há quanto tempo não nos falamos? Há tanto capaz de nos fazer esquecer o motivo... Somos tão nocivos quando queremos, né?! Chamamos ainda de família. Aqui o único apoio é quando encontramos a testa no azulejo do banheiro para chorar. Eu pago meu terapeuta para quê? Óbvio! Tortura moderna. Enfrentar quem não se enfrentam. Mera característica familiar. Aeee! Viva! Esta é minha família. Já ouço o já esperava algo assim. Tudo disfuncional. T viado, tem sapatão, tem feminista, tem machista e os piores: artistas.

Tem também… Nossa, não tem televisão, não?! Não! Nem internet!! Será que seríamos bons assassinos pelo menos? Você todos são cúmplices do assassinato da minha coragem, da minha adolescência, da minha infância… Não está na ordem errada? Não! Do meu coração e, encurtando, da minha alma. Portanto, assassinos! Por isso eu saio por aí matando sentimentos e alegando legítima defesa. Já pensou em sequestrar? Não dá certo. Precisa alimentá-los e…

Você sabem! Aliás, não sabem! Nunca me ensinaram a alimentar nada. Então, morreram todos. Eu cresci sem nenhum. Sou imune. Bem, graças a vocês! Obrigado família! Sabe, eu não me sinto nada melhor com isso. Este terapeuta é um farsante. Totalmente fake. O psicólogo comum não resolveu, Rivotril não resolveu. Prozac foi doce… Talvez fosse até placebo… Enfim, estão todos me ouvindo? Você arruinaram minha vida. Não bebi nada deste whisky sei lá a raridade da década dele porque sabia que ia precisar dele depois de falar, não antes…

Eu não vou me matar. Só vou beber até cair agora. Saiam agora. Não vou usar a arma. Tenho porte, pagando à prestação e… Ah, agora querem saber da minha vida?! Saiam logo. Quero ver como é ficar sozinho no lugar onde eu deveria me sentir bem e protegido, não este, este, este… LIXO! Eu preciso acreditar que a família não faliu e nunca teve um só formato. Mas, eu surto toda vez que tento construir uma relação e… Agora entendi este sentimento! Eu não sei o que é uma relação. Você serviram para algo. Uma revelação. Olha! Estamos nos falando agora e… MÃE! Logo você chamou a polícia?! Acha que alguém vai sobreviver? Somos minoria…

terça-feira, outubro 30, 2018

caber






as diferenças procuram a semelhança
disfarçam distâncias para controlar
complicam o simples em nós mentais
confundem menos e mais
em um tropeçar que uso como equilíbrio

maior e menor dessignificam
o silêncio não é mais o mesmo
e o mesmo ressignifica a desconversa
em um negar constante do outro

a si mesmo a transformação do troco em milhão
uma valorização descabida

mas também onde cabemos neste mundo que criamos?

+às 13h08, Rafael Belo, 30 de outubro de 2018, terça-feira, Campo Grande MS+

segunda-feira, outubro 29, 2018

Sobre nossa carência





por Rafael Belo
Parece um constante déjà vu voltar para casa. Não falo de lugar. De tijolos, pedras, cimento. Falo de sentimentos e conexões. Você chega e sabe como a família de sangue ou escolhida vai ser comportar com tua presença. Você conhece aquelas pessoas, sabe do comportamento delas e você as ama. Provavelmente, o amor mais natural e espontâneo. Realmente é incondicional porque você discorda de muitas coisas ou de tudo. Você briga, fala, emburra, mas no fim - quando chega mesmo - vocês sorriem juntos e começam a lembrar.

Lembram de momentos e riem. Passam constrangimentos e você se renova com este passado vivo que te ama. Com este vínculo incondicional latente com a gente. Faz parte das nossas origens. Há uma pureza fenomenal e cativante nisso. Outros vínculos feitos a partir daí estão lá te acompanhando sem interferir, mas torcendo por ti. Fazem parte de você de alguma forma ou de várias formas. O sentimento deste círculo criado traz até paz. Nós somos mais do que imaginamos.

Podemos mais que os limites que impomos. E não, não estamos sós. Esta energia feita de seres humanos nos renova. É a prova que podemos mais. Sinto-me assim ao visitar minha família de sangue, minha família de laços e da vida. Aqueles que amo e os que estou aprendendo a amar. Há muitas raridades na minha vida e eu não quero guardar nada a não ser memórias, histórias e estas energias. Estamos livres por nos encontrar, por acreditar uns nos outros.

As tormentas, os tormentos estão inevitavelmente no caminho e podemos transformá-los para seguirmos mais fortes. Não sei quando vamos entender que a Humanidade é um reflexo da nossa família. Ela tem semelhanças físicas ou comportamentais e é diferente já a partir dali, do berço. A convivência e a bagagem que carregamos desde esse núcleo inicial tem esta base. Não deveria ensinar tolerância muito menos intolerância, mas este diferente existente para somar porque não importa quantas diferenças a gente tenha somos carentes de afeto e aceitação.

sexta-feira, outubro 26, 2018

Naturalmente (miniconto)





por Rafael Belo

Naturalmente renasci contigo. Quando todas as barreiras caíram. Todas as diferenças se foram e os indivíduos voltaram a ser eles mesmos. Mas até chegarmos aqui quase desistimos de nós mesmos e de tudo. Um mundo de muros que enfim desabou. O Amor nos salvou… Demoramos a acreditar. Esta liberdade sempre foi da boca para fora, quando chegávamos em casa silenciávamos e chorávamos sozinhos. Renascidos nada nos afeta mais. É. Isso sim é natural.

Estavam se partindo, se separando, se matando, se isolando e cada um em seu mundo. Diziam ser natural… É como reagem quando nos veem. A gente sorri e sobrevive a se importar só com o que queremos. Naturalmente, somos puros e o Amor venceria se descoberto. Mas, jogaram tantas camadas de ódio e de dor não permitindo enxergarmos nossas reais possibilidades. O natural era o antinatural e o antinatural era natural, mas quem fez as regras?

Natural é viver e deixar viver. Não é este nosso lema? Eles vieram atrás de nós. Não tinham nossa força. Temiam que fossêmos maus-exemplos e a liberdade fosse espalhada porque nossa liberdade entrava em conflito com a deles. Não tenho uma explicação lógica para o que aconteceu. Estamos vivos e todo mundo desde então você também. Algo falava de nós há um tempo questionável de existência. Na época me chamavam de Is e você de Tris.

Era natural as famílias decidirem nossos destinos. Quem hoje aceita que decidam por si mesmos? Nós pretendíamos nossa paz e nada mais. Nós chamaram pais das revoluções. Talvez despertadores… Mas sem nenhuma intenção. A verdade é que todos queriam se libertar. A raiva havia passado e todas as segregações ficaram no passado. Naturalmente, o Amor estava lá habitável esperando seus habitantes voltarem. Nós fomos os primeiros. Renascidos vendo um mundo novo renascer.

quinta-feira, outubro 25, 2018

querendo





eu estendo a mão
abraço cumprimento
diminuo o comprimento
alimento-me de sorrisos

acendi a escuridão
a luz me domina
em uma incrível liberdade

sou rural urbano união
toco o agora no ritmo emocionado

não há fronteiras aos olhos marejados querendo vida.

+às 10h53, Rafael Belo, quinta-feira, Campo Grande, 25 de outubro de 2018+

quarta-feira, outubro 24, 2018

mercenário (miniconto)



por Rafael Belo

Não acho natural esta chuva. Não vejo naturalidade no sol nascer diariamente. Naturalmente esta natureza esta toda errada. Onde já se viu tanta diferença enquanro queremos tudo igual. Poderíamos ser um forma de vida inteligente, mas ao diabo com a inteligência, não é a força bruta que sempre vence? Ouvi dizer que na verdade era adaptação … Saia do armário, mermão. Adaptação é o caro*”#-@! Você que não mate não para ver se não morre! Vou engravatado, todo disfarçado de bom moço para o meu gabinete em Brasília, só para cobrar a radicalização. Acabar com esta palhaçada Brasil!

Que terra boa de gente gentil, nada. Tudo falso, tio. Sabe qual é deste monte de diplomas nas minhas costas? É o disfarce perfeito. Usar o sistema corrupto para corromper já que não dá pra escancarar de vez. Isso que a gente vê na tevê não é nada. Eu e mais uns mil mercenários. Estamos acabando com a doença terminal do Brasil, o povo. Estamos infiltrados e já que estamos com carta branca pra matar, mataremos. Vamos deixar só quem pensa igual a nós e tem a mesma raça.

Vamos odiar com prazer. Chega de nos reprimir. Esta ponta do iceberg nem chega próximo do que somos. Coitados de vocês. Cheios de mimimis, exaltando o coitadismo… Contagem regressiva para um novo fim. Eu ando rindo e dizendo o que penso com muito apoio. Agradeço muito. Meu trabalho aumentou consideravelmente. Estou feliz com tanta violência. Amo a violência pra você nuca seriam capazes de matar com o prazer que eu mato. Eu repito: é matar ou morrer, cretinos!

Estão invadindo minha casa. Espera. Desarmaram todas minhas armadilhas, meu telefone não funciona, bloquearam meu celular… Ei! Por favor, não me matem. Não e natural tirar a vida assim, mesmo com justificativa. Temos leis. Temos todo um processo para seguir. Sou inocente! Nunca matei ninguém. Oi? Mercenário? Profissional da morte? É fakenews!!!! O que vocês fizeram com minha família?! Eu estou sentindo o cheiro de pólvora… Este vídeo é ao vivo mesmo?! Eu não vou tirar minha vida, ela é sagrada e… Vocês atiraram em mim?!! NÃO!!! Seus…

terça-feira, outubro 23, 2018

domesticados







naturalmente eu vejo cabeças explodirem
peles arrancadas à unha
aplausos ensurdecedores do delírio
a loucura coletiva está solta


a foice da morte está em todas as mãos
sangue no chão derramado
mentes atormentadas corpos assombrados


a idade das trevas tiro os vermes
dos buracos feitos à bala


nossa escuridão nos domesticou outra vez.
+às 22h35, Rafael Belo, terça-feira, Campo Grande, 23 de outubro de 2018+

segunda-feira, outubro 22, 2018

Foi assim mesmo que aprendemos






por Rafael Belo

Como se questiona a Natureza. Melhor. Questiona-se o ser natural. Mas eu sempre me pergunto sobre a naturalidade das coisas e vejo nossos reflexos nos animais mesmo estes não tendo toda nossa capacidade intelectual - eu disse capacidade… Eles não estão corrompidos pela visão encaixotada de que qualquer coisa fugindo da visão individual do mundo deixa de ser normal. Estas anomalias humanas nem sempre são tendenciosas, mas não deixam de ser endêmicas. É como se o trouxismo viesse direto do Harry Potter e revelasse a possibilidade da magia e mesmo assim negassêmos. O que é natural?

Não entendo o motivo do diferente incomodar. Aquilo e aquele não igual precisar ser taxado e tachado… Não somos capazes de nos educar, de educar nossos filhos e atacamos conscientes uns aos outros. Distorcemos o natural já houve época na qual o negro por causa da pele era acusado de não ter alma, de não ser humano, uma mão-de-obra considerada animal e hoje ainda há e parece despertar ainda mais. A escravidão na antiguidade não era por pele, era por nação derrotada… Vemos neste momento muitos desprovidos de tudo morrerem para poucos providos de tudo viverem. Aí vamos dizer que é natural…

É natural como a luz do dia viver de exclusão e de aparência? É normal a corrupção? A corrupção da alma é profunda… É normal os valores serem seletivos e dar importância apenas as vidas convenientes? Não somos pequenos deuses, somos grandes demônios atormentando o próximo. Não há tolerância. Não há aceitar ou inaceitável. Há cuidar da própria vida e ajudar um ser humano necessitado. Somos tão pobres e cada vez mais estamos ficando empobrecidos e vazios.

Você não sente a solidão nos entorpecendo brutalmente quando tentamos pensar sobre o que fizemos de bom no dia ou como podemos melhorar as coisas? Nada brusco, extremo e radical funcionou na história deste planeta, no entanto, naturalmente estamos repetindo e repercutindo nossas conveniências, nossas frustrações e esta crise de identidade infinita que o mundo vive. É natural viver de interesses, por interesses, com interesses e desrespeitando quaisquer coisas e pessoas no caminho… Foi assim mesmo que aprendemos…  Seguimos vendendo nossas almas, mas não ao clássico diabo, mas ao que há de pior em nós.

sexta-feira, outubro 19, 2018

Pertencimento e Liberdade (miniconto)





por Rafael Belo

Eu respiro. Você respira. Eu e você respiramos. Nos respiramos juntos. A gente se sente. Estamos em sincronia. O sentimento não mente e nos flutua neste oceano diário de desafios. Sem nós, mas com a gente escolhendo desenvolver o sentimento, viver cada momento neste instante que se esvai no corpo, mas fica dentro de nós. Fica no coração, se espalha na alma em um abraço espiritual. Fica tão bem… Na escolha no ganho seja lá o que acontecer. Palpável neste não ver.

Gentil e firme. Sem sermos só coração, sem sermos só mente, sem sermos só palavras e algo em nós permanece. O melhor de nós floresce e se oferece sem custo algum. Não há cobrança. É uma escolha… Ah, sim. Sou o Sentimento de volta. Desculpe a indelicadeza é que sou quem sou e não significa sentimental, sou direto e reajo. Eu pedi desculpas? Não. Esqueça! Como pedir desculpas de sentir?! Como pedir desculpas de ser eu?! Eu pareço confuso, mas vá lá… O meu significado vem da sua vivência.

Nós somos indivíduos. Cada ser é único e indivisível. Mas eu dou a sensação da capacidade de sermos mas de um porque eu sou muitos. Eu sou todos. Eu marco. Sou um marco, mas sempre associado a algo junto ao alguém.  Sou inesquecível, mas me transformo. Sou água. Não sou uma escolha, porém cada um escolhe como agir comigo. Uma parte de mim, a Dor, acaba sendo empecilho para o todo meu sem fim, o Amor. Não sou feito para entender o motivo de tanto zelo e exaltação da Dor.

Toque em mim e me deixe te tocar. Eu sou o colorido da vida e só posso nascer dentro de você. Peço não me prender porque não adianta. Eu reajo de outras formas no corpo. Eu solidifico, mas há quem saiba me liquefazer, me deixar acontecer e ser este agora tão lindo construindo os instantes prontos para serem inesquecíveis. Use esta parte mais comum em mim, o Medo, como impulso e os flashes da Felicidade poderão significar eternidade. Eu respiro profundo, você respira fundo e somos Pertencimento e Liberdade!

quinta-feira, outubro 18, 2018

algo bom






meu peito estufa
salta de mim como todo
o que senti se expressa
não guardo nada mais

o sentimento me domina livre
assim ganho o imaterial
desde então não perco jamais

penso e falo em silêncio
sem medo de machucar

é verão autêntico o desejo é primavera latente quem somos e neste outono necessário de recomeços até o inverno aquece quando a gente transforma o inesquecível em algo bom.

+às 09h20, Rafael Belo, quinta-feira, Campo Grande, 18 de outubro de 2018+

quarta-feira, outubro 17, 2018

sentimentais funcionais (miniconto)






por Rafael Belo

Eu nem sei quais foram as palavras nem as ações. Ah, eu sei sim. Não vou mentir. Vou além de saber… Eu sinto profundamente. Não esqueço. Como esquecer de mim mesmo? Bom, já aconteceu uma, duas, muitas vezes, mas não é o caso agora. Desde quando eu me dei por mim viva, tudo mudou. Todos falam de mim como se eu fosse fácil para ir e vir… Quando se dão conta, eu fico e elas negam. Você também faz isso, não negue uma terceira vez assim bem na minha cara!

Não diga passou, não foi nada, nem deu tempo… Eu lá sou dado ao tempo! Eu passo do meu próprio jeito. Ah, me desculpem a vocês ainda sem saber quem sou. Eu sou Sentimento. Voltem aqui. Não me deem as costas. Ei! Não tentem me esconder! Isso faz mal pra ti, não pra mim! Aí, aí aí… Voltem. Vocês sabem do pior, virá. Olhe nos meus olhos e vamos. Eu posso até passar uma hora, mas jamais te deixarei. Aliás, eu até me transformo em outro de mim.

Estou carente hoje… Ok! Sempre! Estou sempre carente. Não garanto, mas quem sabe se você me cativar eu te conte meus segredos. Como faz isso? Meu! Vocês são sentimentais funcionais? Não sabem tratar ninguém como gostariam de ser tratados? E todas estas descrições onde me encontrar envolvem no Tinder e no Happn…? Vão me ignorar agora? De novo? Você não aprendem mesmo, não é? Talvez eu só diga algo sobre mim, bem mínimo afim de não comprometer seu desenvolvimento …

Olha. Preparados. Vão anotar? Oi? Não, minhas palavras não podem ser registradas literalmente, mas eu sou registrado de muitas formas... Luz e sombra estão sempre envolvidos. Quem sabe ouvindo de mim vocês compreendam… No entanto, terão de fazer o seguinte: repetir. Sim, repetir palavra por palavra as minhas palavras. Não se trata de mim no outro somente ou tão quanto eu em vocês, é uma soma dos dois, mas além de tudo é puramente eu sem enfeites nem enrolação. Por que choram? Vou voltar para meu lugar. Vocês estão sem condições de me repetir. Veja como sou sincero.

terça-feira, outubro 16, 2018

oferecendo







não se pode esquecer sentimentos
eles envolvem toda a atmosfera carregada por nós
e ao invés de desatar apertamos os nós
tão fortes para outra dor disfarçar

vêm as palavras vão os feitos
deitamos nas beiras dos rios imaginários
esperando uma gentileza que nem nós temos

estamos esburacados recebendo balas perdidas
línguas ferinas ao invés de lamber as próprias feridas criam novos sangramentos

e não somos nós essas línguas exaltadas espalhando e tomando veneno?

+às 15h36, Rafael Belo, terça-feira, Campo Grande, 16 de outubro de 2018+

segunda-feira, outubro 15, 2018

não somos só coração







por Rafael Belo

A gente perde todos os dias quando poderíamos ganhar diariamente. A gente se deixa dominar pelo pior em nós. Desculpas, perdão não vão resolver para quem foi afetado porque esquecer palavras e feitos é fácil, porém, o que sentimos com isso não. E o sentimento… Ah, o sentimento envolvido com atitudes e palavras é denso, é profundo, esse deixa marcas, por isso, a gentileza é tão comemorada, tão exaltada, mas não no sentido de perder os ânimos, o controle, mas de se destacar diante dos dados atirados.

Jogamos um jogo que não entendemos e vamos ao ataque direto para não precisarmos nos defender depois. A melhor defesa não é o ataque este só causa um contra-ataque e é um ciclo vicioso. Fugi do foco. Cheguei até a gentileza e a deixei passar. Bom… Atenção, carinho e gentileza viram artigos de luxo em um mundo voltado a vitória a qualquer custo nos etiquetando com um luz zumbi da ansiedade da qual nos tornamos dependentes e nos leva o tempo que nos permitia olhar com cuidado e ser gentil.

Aliás, nós nos degladiamos com ele o tempo todo. Ou ele voa ou se arrasta, mas já perceberam que ele passa conforme estamos nos sentindo no momento? Temos que cuidar dos sentimentos. Principalmente, os libertar. Os sentimentos não precisam de gaiolas cantando tristes pela liberdade, mesmo se eles forem dor, raiva… Não os liberte em palavras ou em pessoas. Isto só o alimentará. Os descarregue em alguma atividade física como as artes marciais e converse com alguém sobre eles, mas não os prenda.

Nem os manipule para conseguir algo de alguém. Você perde também. Recuperar tempo e confiança é igual voltar a dormir direito. Depois de tanta insônia, de noites em claro, ansiedade enlouquecida não se retorna. É preciso começar tudo de novo porque o que fazemos sentir e o que sentimos não se esquece. Temos de lidar com isso. Assumir a culpa, receber o perdão não significa nem de longe que algo voltará a ser como antes. Por isso, não somos só coração. Podemos pensar antes de agir e falar.

sexta-feira, outubro 12, 2018

Venha falar comigo (miniconto)







por Rafael Belo

Venha falar comigo. Sente-se aqui. Conheça-me e mesmo assim só fale de mim quando estiver comigo. A noite é infância e eu estou a criança que nunca deixei de ser. Vamos ver brincadeiras reais por toda parte. O ódio nunca coube menos nem mais. A gente fala demais e sequer tem argumentos. Brincamos de democracia e como somos representados ? Decerto com memes e piadas, muito orgulho e superioridade… Ah, tem o diálogo, mas ele acontece quando estou no trabalho tentando provar constantemente que igualdade é para tudo e para todos…

Então, este “diálogo” é uma troca de favores. Mas, senta aqui para falar comigo, me olhe nos olhos, me diz quantas fontes você tem sobre esta tua defesa porque com certeza tu não sabe que jornalista estuda, pesquisa (pelo menos deveria) e quanto mais fontes melhor… Aliás, fonte é quem pode provar tua informação… Desculpe, perdi o tom. São coisas da Vida e, eu como a própria, tenho muito a falar, mas escuto também. Sem gritar, sem me exaltar, sem ofender, sem pegar minha bola e ir para casa.

Para mim está todo mundo andando de moto e de carona nesta moto. Acelerando, atacando e roubando minha paz. Não aceitam reclamação, opinião eu queria mesmo devolução. Não disse revolução porque se não estamos preparados para ouvir, para aguentar, resistir quem dirá nos organizar para algo que faça sentido. Nada faz sentido mais. Mas eu sou positiva porque a Vida só pode escolher viver. O problema de esperar em silêncio é o medo e a morte. Senta. Você já não cresce mais, mas pode crescer de outras maneiras.

Já sentou. Demorou de fato. Assim é mais fácil receber as notícias. Eu continuo. Mas até este instante não consigo entender estas diferenças criadas: raça, classe, status, gênero, educação… Só sabemos quem a outra pessoa é se ela nos dizer e só assim.  Às características individuais são justamente o que dizem junto com a personalidade. Tantas divisões e muros servem para o ódio e, infelizmente, para a própria proteção. Hoje ao invés do Amor vejo um antigo veneno no ar. Aliás, esta que você vê na variação da luz também estou eu. Vida e Morte não são duas, são uma só.  Eu só busco meu equilíbrio.

quinta-feira, outubro 11, 2018

reforma





desarmo-me de mim e de toda cerca
caminho incansável só com a sensação
desconstruo meu coração
grito sem perder a voz

nos dias quentes me fazendo mais forte
não deixam as fantasias me esconderem
mesmo fantasiado estou nu

um partido feito de alianças
inteiro encarando uma cruzada pessoal

pela reforma de nós mesmos.

+às 14h42, Rafael Belo, quinta-feira, Campo Grande, 11 de outubro de 2018+

quarta-feira, outubro 10, 2018

desconhecida emoção (miniconto)






por Rafael Belo

Eu choro. Choro toda vez que a palavra livre foge da minha boca. Ela escapa pelas cicatrizes da crueldade e do ódio mapeando o meu corpo. Das agressões que sofri e se você seguir as marcas pode chegar até minha mente travada. Ela segue torturada pelas torturas ensandecidas praticadas por mim e tudo veio de volta. Mataram-me diversas vezes mas não o suficiente para pagar quaisquer pecados meus. Uma hora eu era Deus outra eu questionava a existência dele.

A cada ano passado eu volto para uma época de atrocidades. Sou uma anomalia nesta sociedade. Sociedade de Paz. Eu, mulher não vejo gêneros… Não tenho nome há tanto tempo, mas tenho poder ilimitado. Este instante novo de vida é menos que um sopro, mas maior que um suspiro. Fui estuprada, dilacerada e violentada de tantas formas que minha melanina acentuada e meu nascimento social sempre me trazem como estatística. As pessoas fazem questão de esquecer…

Eu faço questão de lembrar. Não nego nada além da negação. Eu morri nas últimas Cruzadas, passei por todos os campos de concentração do Holocausto, mais recentemente eu estive no topo das Torres Gêmeas, lá atrás na devastação da Peste Negra, nos escombros de Portugal no Terremoto de Lisboa, na proa do Titanic, na Primeira Guerra Mundial, nos voos do Desastre Aéreo de Tenerife, estive em Chernobyl, em Hiroshima e Nagasaki, no Boeing da Gol , no voo 3054 da TAM, no voo 447 do Airbus A330 da AirFrance, no Terremoto de Porto Príncipe, nas Chuvas do Rio de Janeiro, no estouro da represa em Mariana, na Boate Kiss, no edifício Joelma, no Carandiru, nas Chacinas da Candelária, do Vigário Geral… Não lembro mais.

Eu posso ter matado, mas é certo que  morri também. Talvez eu seja a Memória ou a própria História, mas quem me tem hoje em dia? Estou defasada. Até quando sou citada viro negação ou fakenews… Por isso, estou uma imagem chorando em algum canto de luz rodeado em densidade por sombras. Tantas mortes pelo descontrole são imagens vivas na minha mente e eu choro copiosamente... Então, quando a palavra livre se desvencilha de mim e sai, há uma dor inexplicável ou talvez seja uma emoção que eu não reconheça. Será que sou a Morte?

terça-feira, outubro 09, 2018

encarando






diante de mim e ao meu redor
ando comigo até a exaustão
algo explode no meu peito
um grito que não dei

em mais um dia quente
com tanto ódio me cercando
não sei qual saci vestido de abóbora vai chegar

quando minhas fantasias me vestirem
ainda serei o centro do mundo

gritando ordens e ofensas encarando o cano fumegante da minha própria arma ilegal.

+às 16h30, Rafael Belo, terça-feira, Campo Grande, 09 de outubro de 2018+

segunda-feira, outubro 08, 2018

Cruzadas modernas







por Rafael Belo

Eu vejo ódio por toda parte. Ameaças, xingamentos, injúrias, difamações, tentativas de assassinatos, assassinatos… Medo tem sido a atmosfera mundial, mas aos meus arredores são os locais onde posso afirmar estar presente. As conquistas estão sendo questionadas em uma contradição sem fim e ao invés de evoluirmos voltamos para a vida medieval. Polarizamos algumas situações terríveis, as potencializamos e voltamos a vestir nossos anteolhos.

Distorcemos todas as coisas, as palavras e as pessoas para caberem naquilo que queremos. Somos selvagens. Quando chegamos ao limite não ponderamos, não colocamos na balança, não raciocinamos as ações e reações, então às consequências nos esmagam como a história está aí para quem quiser ler. Mas a preguiça e o descaso são mais fortes. É mais fácil tirar o tacape, agarrar as pedras e partir para os confrontos. Somos frutos do Sistema que sempre deu com uma mão e tirou com a outra, mas também frutos da cegueira.

Político faz lei, as fiscaliza… Mas nós que fazemos mudanças. Não precisamos depender de um sistema precário como está para mudar, para fazer o bem, para ajudar e se ajudar. Sabemos da corrupção humana, sabemos das opções, das possibilidades, das escolhas, da vastidão do mundo e da necessidade do equilíbrio entre mente e corpo para a evolução, mas não queremos. Queremos o fácil, o rápido e depois de milhares de vezes repetindo guerras, destruição e miséria nos últimos milênios, acabamos escolhendo de novo o mesmo porque somos especiais e desta vez fazer a mesma escolha vai ser diferente. Se tem algo que somos especialistas é na nossa idioticidade.

Somos muito idiotas e orgulhosos. Vamos morrer disso e sem sair do lugar. Damos loopings fantásticos em uma montanha-russa decadente e sem qualquer segurança para depois fingimos que o mundo não gira como uma roda-gigante. Sendo um pouco nerd e um pouco boçal, talvez Thanos saia do Universo Marvel e venha estalar os dedos por aqui. Democraticamente vai eliminar metade da população universal, não vai escolher partidos nem a ética ou a moral, muito menos respeitar alguém, além daquilo que o velho titã acredita. No entanto, não precisamos de ajuda para continuarmos fazendo nossas besteiras diárias e negarmos nossos preconceitos, ódio e egoísmos nestas Cruzadas modernas.

sexta-feira, outubro 05, 2018

abra a Caixa (miniconto)







por Rafael Belo
Eu sinto ser tão antiga. Sinto-me a própria Esperança. Não a minúscula. A mitológica: A Esperança. Aquela que chamou Pandora para também ser livre. Todo mundo fala que da Caixa de Pandora todos os males da humanidade surgiram ou foram libertados. Mas, não falam que de lá também veio a Esperança. Eu chamei e fui ouvida. A Caixa também não era de Pandora. Esta foi criada por Zeus para abrir a caixa também do deus grego. Uma vingança contra o titã Prometeu que deu o fogo aos humanos e possibilitou o conhecimento a humanidade. Zeus temia que com isso os mortais se igualassem aos deuses.

Pandora era esposa de Epimeteu, irmão desse titã que nos deu o fogo. Aliás, Epimeteu estava junto com Pandora quando a curiosidade chegou e atingiu o objetivo de Zeus. A fama foi para Pandora e o castigo para Prometeu. Qual foi o castigo dele? Ser acorrentado a uma rocha onde uma águia devorava o fígado dele até a morte. Tudo se regenerava e se repetia no dia seguinte. No fim parece o começo. Eu sempre fui a última. Sempre fui um conselho ou o oposto de mim. Sempre fui perdida, mas me buscavam muito também. É preciso me ter, porém, e se não me tiverem?

A igualdade e o equilíbrio não servem aos poderosos porque pensar faz mal para eles. Então, por qual motivo dariam a esperança da mudança se esta não iluminasse apenas os focos que quisessem? Zeus tinham razão em temer. Prometeu tinha razão em libertar e isso sempre custou algo. Quando estou nas pessoas e sou capaz de lembrar quem eu sou e vejo que todas são Prometeu, mas só o castigo dado a ele. Eu mesma fui confundida e ele me tornei.

Mas, toda vez que conto minha história a Luz que sou ilumina. Não os focos manipulados e contaminados, tudo. Eu ilumino tudo. A Depressão, o Pânico e as fobias não suportam quando eu me reencontro. Quando chegando aquele fatídico clichê dolorido do fundo do poço, descobrimos que não tem fim. Perdemos a voz de tanto gritar para a confusão, o caos, para a gritaria e o barulho interminável lá fora infectando aqui dentro. Então, basta um foco de luz e tudo para. Um raio quase invisível de Esperança ilumina mais que qualquer densa e cega escuridão. Só peço paciência e silêncio. Quando conseguir, por favor me tire mais uma vez da Caixa.

quinta-feira, outubro 04, 2018

devorandoeu







minha vida deixou de ser um #TBT sem fim
é tudo novo sempre em sequências de agora
eu escuto meu silêncio sussurrar do coração
os sinais verdes livres no meu caminho

quando a bateria chega ao fim eu não forço
recarrego ouvindo cada mudez em mim
levo meu tempo fora da gaiola voando solto

vou aos poucos começando de novo
neste start me up rolando

alimento-me da minha antropofagia e sigo a ressignificar.

+às 16h48, Rafael Belo, quinta-feira, Campo Grande, 04 de outubro de 2018+

quarta-feira, outubro 03, 2018

o mundo disfarça (miniconto)






por Rafael Belo
Estou molhada, mas tremo de indignação. Com a frieza já estou acostumada e todo este frio me abraçando, me fazendo me sentir menor. Mas me assusto com os flashes no céu. Não sei o que podem estar registrando. Já não vejo luz em mim e após o último trovão parecendo ressoar em um eco sem fim em mim, também já não há energia em lugar algum. Ninguém me viu chegar, ninguém me viu sair, ninguém me viu partir …

Minha memória sempre foi de peixe, então, já não sei dizer que festa estava, quem estava lá… Talvez alguém tenha morrido. E qual a diferença, afinal? Sinto eu ter morrido. Isso seria físico ou carnal? Talvez eu seja alguma entidade residual, um espírito perdido, uma alma assombrada ou um fantasma de um filme de Tarantino. Talvez esta tempestade tropical seja meu último aviso. Há tanta seriedade seca por aí e eu aqui toda molhada

Meus pés doem, meus calçados estão se desfazendo. Este é meu relógio, meu sinal do tempo. É o alerta. Este amarelo destaque no meio de tanto cinza e este novo dilúvio nunca prometido, aliás prometido que não teria mais. Olhando bem posso pensar melhor e enxergar que aqui, nesta inundação, não estou só há mais gente sozinha aqui comigo. Devo alertá-las a não preencherem o vazio? Elas nem me olham…

Parece que antes e depois de setembro todo o mundo disfarça finge que não existo. Só sou uma estatística, uma fonte jornalística, uma história para contar quando falam de ansiedade, dor, sofrimento, depressão e a palavra proibida: suicídio. Eu venho amarelando destes pensamentos da solidão, mas então chove. Eu me sinto perseguida pela chuva. Ela vem salvando minha vida porque quando chove me sinto viva. Mesmo agora sem energia, molhada, a cidade inundada e tanta gente afogada em egoísmo.

terça-feira, outubro 02, 2018

amarela dor





há tanto barulho
não me ouço quase nada
meu corpo é descontrole
na minha mente de enxames

são abelhas picando pensamentos
morrendo dentro da minha razão
estou em chamas impagáveis

estalo fogo ao meio dos zumbidos
tudo em mim esta mudo

meu falso silêncio é sentença de morte diária no banho de sol banhado pela banalização da minha dor amarela.

+às 17h31, Rafael Belo, terça-feira, Campo Grande, 02 de outubro de 2018+

segunda-feira, outubro 01, 2018

Falso silêncio





por Rafael Belo

Você já tentou sair da bolha e realmente prestar atenção? Tantas banalidades virando extremismo, tanta coisa séria virando banalidade, tanta caracterização, demonização e herois fabricados instantâneamente, mas não se engane - ou tente enganar - tudo isso vem se (des)construindo há muito tempo. Eu vejo nosso maior problema nos sentidos. Sentidos das significações, interpretações e humanos. Neste último a ênfase esta não no sexto, sétimo ou oitavo…. Esta na visão, no olfato, no paladar, na visão e, principalmente, na audição. Estamos perdendo todos os sentidos.
Usamos até fones de ouvido - perdendo realmente a audição - para não ter de usar outro sentido… Não queremos falar porque tememos nos desgastar com o outro, então nos isolamos. Não queremos tocar porque desconhecemos a reação ao toque, então não tocamos. Não queremos degustar  porque confundimos com o paladar e ficamos só falando mesmo. Não usamos nem o olfato para podermos sentir algo estranho no ar e acabamos não enxergando as pessoas como seres humanos.

Talvez a consequência seja a necessidade do alerta amarelo reforçado em Setembro para ligar todos os sentidos para o suicídio, mas é só um dos fatores aliado a cobrança intensa em todos os aspectos sociais e pessoais, porém, a impessoalidade, ou a frieza, e o descarte fácil de tudo e todos na confusão entre coisas e pessoas, junto a desatenção nos mata agressivamente em um falso silêncio. Às vezes, precisamos mesmo da nossa bolha para lembrarmos o quão desnecessário e prejudiciais nossos gestos e falas podem ser. Ao mesmo tempo, como amigos, família, sociedade, comunidade sair da bolha pode salvar o próximo. Por isso, acabar com a banalização tem que estar no nosso caminho.

Esta banalização de nós mesmos balanceada ao eucentrismo ou simplesmente ao superimportar consigo mesmo ainda utilizando a distorção da Liberdade de Expressão, causa um desrespeito agudo diariamente capitalizado em busca de curtidas que não valem nada. No entanto, quando há engajamento se perde o limite. Queremos ser evangelizadores das nossas crenças e vontades com a alma ainda colonizada invadindo as pessoas sem se importar em ouví-las. Estamos na era do desrespeito e do Pânico. Os sentimentos não só são banalizados como maltratados a ponto de só voltarem a aparecer depois de muito sofrimento gratuito. Vamos ouvir o silêncio e amparar o próximo como uma necessidade diária da nossa próxima alma.