sexta-feira, outubro 05, 2018

abra a Caixa (miniconto)







por Rafael Belo
Eu sinto ser tão antiga. Sinto-me a própria Esperança. Não a minúscula. A mitológica: A Esperança. Aquela que chamou Pandora para também ser livre. Todo mundo fala que da Caixa de Pandora todos os males da humanidade surgiram ou foram libertados. Mas, não falam que de lá também veio a Esperança. Eu chamei e fui ouvida. A Caixa também não era de Pandora. Esta foi criada por Zeus para abrir a caixa também do deus grego. Uma vingança contra o titã Prometeu que deu o fogo aos humanos e possibilitou o conhecimento a humanidade. Zeus temia que com isso os mortais se igualassem aos deuses.

Pandora era esposa de Epimeteu, irmão desse titã que nos deu o fogo. Aliás, Epimeteu estava junto com Pandora quando a curiosidade chegou e atingiu o objetivo de Zeus. A fama foi para Pandora e o castigo para Prometeu. Qual foi o castigo dele? Ser acorrentado a uma rocha onde uma águia devorava o fígado dele até a morte. Tudo se regenerava e se repetia no dia seguinte. No fim parece o começo. Eu sempre fui a última. Sempre fui um conselho ou o oposto de mim. Sempre fui perdida, mas me buscavam muito também. É preciso me ter, porém, e se não me tiverem?

A igualdade e o equilíbrio não servem aos poderosos porque pensar faz mal para eles. Então, por qual motivo dariam a esperança da mudança se esta não iluminasse apenas os focos que quisessem? Zeus tinham razão em temer. Prometeu tinha razão em libertar e isso sempre custou algo. Quando estou nas pessoas e sou capaz de lembrar quem eu sou e vejo que todas são Prometeu, mas só o castigo dado a ele. Eu mesma fui confundida e ele me tornei.

Mas, toda vez que conto minha história a Luz que sou ilumina. Não os focos manipulados e contaminados, tudo. Eu ilumino tudo. A Depressão, o Pânico e as fobias não suportam quando eu me reencontro. Quando chegando aquele fatídico clichê dolorido do fundo do poço, descobrimos que não tem fim. Perdemos a voz de tanto gritar para a confusão, o caos, para a gritaria e o barulho interminável lá fora infectando aqui dentro. Então, basta um foco de luz e tudo para. Um raio quase invisível de Esperança ilumina mais que qualquer densa e cega escuridão. Só peço paciência e silêncio. Quando conseguir, por favor me tire mais uma vez da Caixa.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito legal