segunda-feira, fevereiro 26, 2018

Fazendo o mal




por Rafael Belo
Há satisfação duradoura na vingança? Vejo um revide sedento por sangue e dor noticiado por toda parte aplaudido, repreendido, invejado… Querendo replicar no outro o mesmo e até mais naquilo que ele fez a ti.  E dos comentários por aí há sempre um desafio no estilo e se fosse você. O que você faria se fulano ou fulana te traísse? E dá-lhe defesa do posicionamento e lá vem um  textão novo e os “ah, se fosse eu” brotam sem parar. Mesmo dizendo não precisar dar satisfação a ninguém, a vontade de ser aceito cria narrativas de justificativas intermináveis em falas e postagens por aí.

Parece-me uma autopunição alimentando um monstro particular eternamente faminto, vestindo em nós diariamente a máscara de O Grito, de Munch, deixando clara esta expansão desesperada do vazio em uma multiplicação de dor desnecessária. É como se não houvessem inimigos por aí que não nós mesmos e nós não queremos domesticar os monstros, queremos atiçá-los para justificar nossos atos, falas e pensamentos. Se pensar bem, o mal externo se alimenta do nosso desequilíbrio, das nossas incertezas, das nossas raivas engarrafadas e guardadas na geladeiras para as bebermos geladas.

A vingança traz o nosso pior e o leva, o espalha querendo forçar o entendimento alheio de que não havia outro jeito, inexistia escolha e vai lá esbugalhar os olhos, abrir a boca e apertar as bochechas. Aflorando uma frieza morta só capaz de refletir o que é: frio e morte. Estamos nos esvaziando de um jeito até realmente virar o desespero que aparenta. Vamos alimentar a fome só para ela retornar mais voraz e nesta antropofagia seguimos famintos. Mastigando carne humana com o olhar ensandecido…

Não existe alívio em infligir dor, a não ser que a humanidade realmente tenha acabado e passamos a ser adoradores do sofrimento, do flagelo de tantos, da eliminação daquilo e de quem tememos, da morte como solução… O olho por olho, dente por dente nunca funcionou só causa outro efeito semelhante àquele que pensou ter terminado. No fim geramos mais violência, intolerância, desconfiança, alheamento, distanciamento e longe de fazer o bem, estamos fazendo mal e bem mau.

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