Por
Rafael Belo
Ella
sumiu durante um ano. Queria gravar suas próprias séries, mas se distanciou do
próprio mundo. Seria a cineasta com mais bagagem. Teria seus próprios recordes no
Guinnes Book e eram tantas probabilidades... Sua mente saia fumaça. Havia uma
quantidade de opções incontáveis e, Gabriella, preferia ser Ella. Todos diziam
seja isso, você é boa nisso, trabalhe com aquilo... Só faziam gerar irritação,
então, Ella se afastou. Já era órfã até de parentes parou com a vida tão
badalada indo a todos os eventos possíveis de participar. Resolveu não atender
celular, não responder nada das redes sociais...
Estava
sozinha como se sentia. Órfã de si mesma. Só absorvia aquelas imagens
intermináveis de séries sem fim. Utilizou suas habilidades de cracker para
criar uma nova identidade e com isso mudou todos os seus números. Ninguém mais
a conhecia nem poderia falar com ela. Recebia por pequenos trabalhos, mas com
grandes quantias. Era investigadora virtual. Procurava cada curtida, cada
compartilhamento, cada conversa... Enfim, tudo passível de incriminação e
procurava a cliente ou o cliente em potencial. Juntou dinheiro suficiente para
realmente sumir e assim o fez.
Não
se dava conta do tempo. Só via séries crackeadas e não tinha necessidade de
horário para nada. Mal se higienizava. Talvez tivesse o mal do século, mas não
parecia depressiva. Só desistira das pessoas e as pessoas desistiram dela. Na verdade,
Ella havia mudado tantas vezes na surdina... Era muito difícil localizar quem
não queria ser encontrado. Fazia questão de ser intratável e grosseira com
todos... Não deixou saudades. Mas, há sempre alguém em busca de você. Ella não
era diferente. Não tinha morrido. Então, um certo alguém a procurava por toda
parte. Não sabemos o nome dele...
Ele
havia enxergado o desejo dela de afastar o mundo e isso, não há explicação do
motivo, o atraiu. Ella era uma lenda na cidade onde morou por último “graças”
ao desconhecido obcecado – ou seria apaixonado – por ela. Contava histórias fantásticas
sobre a intratável criatura. Ele sabia quem Ella era. Talvez mais até se
compararmos a decadência dela. Tudo armazenado na cabeça dela era relacionado às
séries e a conversa era sobre séries. As conversas solitárias traziam
arrependimento do abandono do mundo. Não queria ser mais a órfã. Quando sua campainha
tocou, Ella abriu sem pensar e sorriu para Ele como quem se apaixona em uma
dessas séries pela primeira vez e começa a se despetalar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário