por Rafael Belo
Eu escuto punhos acertando cabeças, rins e outras partes de corpos o dia todo, além de gritaria e acusações, mas nem sempre é literal, nem sempre é visual. São indiretas, traições, indignações e um sentimento de perseguição semeado diariamente para infernizar cotidianos. Mesmo pensado e elaborado estrategicamente esperando os mesmos resultados todos nós temos ao menos a leve desconfiança que reações - até calculadas - podem ser inesperadas. Não somos máquinas e até estas falham fatalmente pelo tempo ou pela manutenção. Como a queda do avião com Gabriel Diniz mostra que até a morte pode ser silenciosa e deixar todos em silêncio. Respiramos fundo e imediatamente vamos procurar saber se ela é real de verdade.
Uma simples carona… Se transforma em tantas reações levando ao famoso ponto de ruptura e procuramos justificativas em um monte de “mas” e “desculpas” ... Qual o sentido? Qual o objetivo? Onde queremos chegar? E todos os porquês nos levando a um fim idêntico... A morte nos une mais que a vida. Passamos a vida centralizando as coisas, controlando os passos, tentando cercar desejos e objetivos, criando dependentes funcionais e queremos chamar como isso? “É assim mesmo”? União? Tem dado muito certo… Divididos e defendendo governos (qualquer um deles) como se não fôssemos os cidadãos doutrinados a ser o elo mais fraco da corrente.
Seja lá quem votamos há alguém eleito, se não foi nosso voto, está eleito e somos os patrões independente de termos dado o voto ou não. É democracia ou não? Mas aqui estamos nós na tal “pós-verdade”, na grande era da informação onde predomina a desinformação, a viralização das fakenews e a disseminação do ódio como um vírus incurável. Só somos capazes de nos reunir por interesses comuns. É humano. É natural. É necessário. Não nos defendemos sós. Precisamos de testemunhas, de amigos, de outras vozes para não nos entregarmos a insanidade e, incluindo a regra básica da sobrevivência, nos tornamos mais fortes juntos. Mas, união não tem nada ver com esta leveza reversa onde mal dormimos a noite ou com sair às ruas como as massas populares que não somos mais, querendo apenas ter razão ou justificar nossas escolhas para cutucar os coleguinhas com dados e estatísticas.
Não há sobrevivência assim. Há morte. Há revolta. Há caos. Desta forma - emocionados - somos constantemente enganados com orgulho e julgamentos vivendo um luto após o outro, uma acusação após a outra, uma desunião ligada pelos motivos implantados em nós, nos achando tão superiores e espertos nesta vida, tentando acreditar que sozinhos realmente vamos longe, voamos alto e lá de cima... Passáros se esgotam, batem, aviões caem e matam… O cantor campo-grandense responsável pela música mais chiclete de todos os tempos, levou todos a descrença, questionamentos e pela trajetória do jovem, Gabriel Diniz, só havia alegria e união na vida dele. Por isso, é tachado de não-natural, de acidente, mas há taxas emocionais mais caras que quaisquer impostos. Invariavelmente, nos faz refletir.
É natural a gente acreditar ter motivos para tudo porque não gostamos de não saber, não gostamos da insegurança, do desconhecido e ainda que possamos falar só por nós mesmos, há alguém que nos ajuda a juntarmos nossos próprios pedaços. A olhar por vários olhos. Eu acredito nas pessoas, não em todas e cada vez em menos gente. Olho para a nítida diferença pela janela e tento apenas sentir. Tenho fé e pratico minha vontade de mudar para melhor. Sigo em upgrades e atualizações constantes para jamais cair em desunião e desesperança. Fomos lembrados mais um dia que o fim é a morte e ninguém pode evitar, mas todos podemos ser os melhores possíveis pelo caminho até ela.
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