por
Rafael Belo
O mundo lá fora não importava. Eu
escutava minha música, tentava me livrar da minha dor e se possível sair ilesa
sem causar nenhuma morte no caminho. Minha boca vivia amarga, meu corpo sempre
ardia e, às vezes, eu nem respirava. Não sabia como parar de me comportar
assim. Era uma má-selvagem capaz de morder alguém só por me olhar... Tinha o
desejo de não me preocupar, de ter paz... Queria saber se aguentaria todo este
oposto imposto à mim. Eu batia palmas e ouvia palmas irônicas ecoarem por aí.
Eu conversava sozinha, brigava sozinha... Eu passei dos limites sociais. Era
uma foragida e agora, calma, livre da raiva, eu deveria me entregar...?
Seria justo dizer ser injusto?
Justo agora que finalmente percebi ainda ser um ser humano, minha vida chegaria
ao fim? Eu que era fria como água gelada no chuveiro em um inverno de 50 graus
negativos. Era cortante e mortal, não mais. Mas, todas as vidas que transformei
em morte precocemente serão cobradas. Sentir muito, pedir desculpas são só
palavras... Minha consciência desperta, alerta é masoquista. Eu quero incomodar
as pessoas, mas não quero ser incomodada... Esta gente se acha inteligente e eu
me sinto equivocada quando dou a chance de provarem... É como querer água calma
jogando milhões de pastilhas efervescentes.
Viro as costas e vou embora. Grosseira
mesmo... Este é o menor dos meus problemas... Serei eu má e toda esta definição
de mal caricato equivocada? Eu serei merecidamente enjaulada, humilhada, a
escória da sociedade... Todo mundo julga, ojeriza, me chama de monstro e no
final sou uma mulher como as outras. Elas só não admitem e nem têm coragem de
agir como eu... A ideia da música absurdamente alta era eu não escutar sequer
meus pensamentos, mas estou aqui sendo cercada por populares e policiais
brigando por jurisdição. Se eu tivesse nascido em outra época eu teria o demônio
em mim ou seria uma bruxa... Queimada ou exorcizada e só por quem está à frente
dos religiosos...
Pelo visto serei executada e o
problema será eliminado como se não existisse. Não sou a única. Só criei uma consciência.
Assassinas com consciência se sobrevivem enlouquecem. Terei paz se estou
arrependida de verdade? Minha raiva me abandonou, agora não posso nem odiar ninguém
e a culpa vem como um conta-gotas com ácido aplicado direto na garganta. Sinto que
minha hora vai chegar e passar sem eu nem perceber... Será que como Caim e
Judas um plano me trouxe até aqui ignorando meu livre-arbítrio? Ou meu
livre-arbítrio me levou a escolhas e independente de quais fossem ainda assim
eu acabaria no fim de um plano? Ironia ou não enquanto os tiros me tiram desta
existência eu sorrio ouvindo a música mais conhecida da banda Europe: The Final
Countdown... Melhor assim!
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