quarta-feira, março 21, 2018

Seria ideal (miniconto)







por Rafael Belo

Achei que era amor e ainda acho. Sempre aprendi que era preciso ter recompensa, retribuição e acabei tentando certo controle no outro, na relação… Ainda achando, talvez sabendo ter algo errado… Sei estar confusa neste meio. Não sei mais se existo, se existe este outro que me beija, que quer que eu mude… Eu fico muda. É muita coisa para mim. Não é como imaginei. Não é como quero. Mas, não me imagino só, eu preciso ficar sozinha para me entender e no fim me envolvo tão fácil com quem me dá carinho.

Não fico só. É difícil sair desta imposição, desta incorporação, desta acomodação e todo este idealismo me destrói. Mas eu nego. Visto um sorriso e conto vantagem para as amigas. É involuntário porque, na verdade, estou tentando continuamente me convencer que é isso, que estou bem! Que está tudo saudável e existe mesmo. O que realmente sinto é que somos dois personagens de filmes bem B precisando atuar da melhor forma para manter os papéis e sobreviver com esta linha arrebentando.

O ideal seria… Olha aí!? O ideal seria não haver ideais. Às vezes sinto que somos marginais perigosos e se nos descobrirem seremos presos no mínimo por falsidade ideológica. Aliás, se tivéssemos ideia do que estamos fazendo e se houvesse alguma lógica… Seria ideal… Não, não seria. Isto tudo é muito material, egoísta, então penso que não existe o amor ou não aceitamos dar sem receber sob nenhuma hipótese, mas fingimos tão bem…

Este sofrimento silencioso mata. Agora não sei se posto isso buscando solidariedade, apoio, reconhecimento, incentivo para continuar, exemplo de como fazer, vitimismo, heroísmo, já sabias, só desabafo… Não tenho coragem de mandar para você no direct, no privado… Não quero demonstrar dúvida, não quero hesitar, mostrar fraqueza, já preciso me provar o tempo todo, não vou admitir o fracasso na minha relação… O ideal era… O ideal seria… Será que vale à pena conhecer o outro de verdade? E a mim mesma? Não quero descobrir!

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