por Rafael Belo
Não sou agradável. Talvez seja desagradável. Ninguém me disse. Eu vejo na reação das pessoas, na expressão facial delas… Não me dizem por medo. Eu posso ver também… Não sou mulher de muitos sentidos. Tenho os normais, mas presto atenção a cada detalhe. Eu não entendia o porquê. Hoje, sozinha, pela primeira vez há não sei quantas relações… Enfim, eu tenho raiva crônica. Diagnóstico próprio. Sou especialista em mim, então, eu sei o que sinto. Sinto muito pelo que fiz há tanto tempo, aquele atropelamento fatal...
Nao fui presa nem julgada, não estava estava errada, mas seria possível evitar...? Bem ontem, eu estava dirigindo quando me dei conta. Percebi que eu gritava para os outros motoristas. Estava bufando como um touro faminto sedento por sangue. Comecei a pensar na minha sinceridade, na minha honestidade e do respeito que tenho.. Mas fazia tempo que nem isso mostrava. Estava silenciosa e distribuía patadas ainda sem saber o motivo. Eu sou algo nocivo a mim mesma. Estava me descontrolando, quase babava… Buzinava como se não houvesse amanhã…
Mas houve. Sobrevivi a mais um dia dirigindo como louca nas vias egoístas e de outros motoristas igualmente loucos. Pilotos também são insanos. Parei para pensar… Quer dizer, não parei… Fiquei pensando o motivo de eu estar agitada, o coração doendo, a respiração alterada… Era infarto? Não! É raiva aguda. É porque quero ser totalmente moral, todo o tempo ética e a maioria, dita burra como unanimidade, só quando convém, apenas quando a envolve. Não, não sou melhor que ninguém. É mais provável que eu seja um vaso ruim…
E você sabe… Vaso ruim não quebra! Eu… Eu… Não tinha raiva deles não estarem respeitando as regras nem os sinais ou que isso também significava arriscar ainda mais minha vida… Eu tenho inveja e não consigo fazer igual. Quero trocar de faixa sem dar sinal, colar na traseira dos veículos, fechar motos, carros, ônibus e caminhões, furar o sinal vermelho, simplesmente correr como se tivesse atrasado para sempre, não parar antes das travessias de pedestres, estacionar na faixa de pedestres, na vaga de idosos, grávidas e deficientes… Aí minha máscara cairá. Será que terei coragem de me revelar?
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