segunda-feira, março 04, 2019

desunião diária





por Rafael Belo

Acabei de ouvir no filme “O Menino que Descobriu o Vento” que a Democracia é igual mandioca importada: apodrece rápido. O olhar de quem não é negro - sobre o negro - segue o mesmo processo. Tudo está podre e mais uma vez vivemos em um ciclo de retrocesso. A representatividade tão reduzida em um Brasil onde mais da metade da população é negra mostra o pensamento dos governantes que tivemos até aqui. Ignorando totalmente a fachada de democracia (do grego antigo “governo do povo”).

Onde está o povo? Não  adianta dizer que cota é mimimi. Não é! Nunca será! É uma tentativa falha de pagar a dívida com os africanos, e nós descendentes, por toda a destruição feita aliada a escravidão. Hoje ainda há pessoas discriminadas pelo simples fato de serem negras e pessoas se achando no direito de ofender alguém que já sofreu abuso racial. O olhar preciso e intenso do negro só é visto por ele mesmo, quem não vive esta realidade só consegue ser solidário e apoiar em lutas pela igualdade, além de se posicionar contra esta segmentação cruel.

Mas como na África, onde muitas guerras  aconteciam para escravizar os derrotados desde os primórdios, aqui quem sofre diariamente de desconfianças e ofensas revoltantes, também é capaz de tratar os irmãos com pedradas e segmentação ao invés de estender a mão, conversar, ajudar a esclarecer ou simplesmente apoiar. Um amigo novo me relatou coisas absurdas onde o condenaram por tentar algo relacionado com representatividade e união. Pela fala dele eu vi o que li em “O Destino da África - cinco mil anos de ganância e desafios”. Vi a desunião.

No livro Malawi está presente, que é onde  acontece o filme citado no início. Este filme, baseado em uma história real se passa no país de Malawi, no continente africano. Malawi vem do nianja (língua original local, mas a lingua nacional é  o Chewa, mesmo com a língua oficial sendo inglês) e significa “o sol nascente”. Há 50 ou 60 mil anos, o primeiro ser humano habitou a região e os exploradores só chegaram por lá no século XVI. A partir daí milhares de habitantes locais foram escravizados e mandados para outros continentes, a maioria sempre morria no caminho.

Mesmo com as missões escocesas, que converteram chefes e reis para assim toda a população se converter ao cristianismo, elas também tentaram acabar com a escravidão, mas o tráfico de escravos seguiu até o fim do século XIX. Toda a África foi invadida, teve a cultura renegada e explorada, principalmente, por portugueses, ingleses e espanhóis. Eles descobriram que o mais lucrativo comércio era de pessoas seja em xhosa, zulu ou algum dos outros nove idiomas nativos sobreviventes. Ou seja, convém a quem está no poder o manter e o mantém com dinheiro e poder recheados a ganância, a discórdia e a desunião dos negros e toda a maioria levada a crer ser minoria.

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