sexta-feira, outubro 06, 2017

A tempestade não parou (miniconto)





por Rafael Belo

Ninguém conseguia falar nada. Ou era a comprovação visual e audível de um milagre ou só as mídias digitais sabiam quais eram as opiniões. Quais seriam as novas velhas divisões a se formarem de um novo Marco Zero nem se formulou como pergunta. Não havia inquietação nem burburinho. Só o silêncio. Nenhum questionamento surgiu. A polícia não a prendeu por atentado ao pudor. Sei ser incrível, mas ninguém se horrorizou acredite. Este foi o dia profetizado por Raul Seixas, mas ninguém tocou Raul. Só a Terra parou mesmo.

Foi neste dia. O dia em a que a Terra parou. Só eu lembro até agora... Acordei com o ímpeto de acabar com toda essa palhaçada e sei lá... Só comecei a juntar roupas, peças íntimas, calçados e carreguei aos poucos até a praça central. Não sabia ser possível ter tantas roupas e insistir não ter... Nova nunca tem. Repetida sempre... O dia começou a silenciar. Era uma sexta-feira. Outras pessoas simplesmente começaram a me imitar... a pilha cresceu... Parecia com nossa expressão para os poderes: uma trouxa imensa...

Nem fui eu a responsável pelo álcool. Juro! Procure... Deixa quieto. Não vai achar. Esqueça. Só pode acreditar em mim ou não. Enfim, o rolê ficou mais tenso sem tensão nenhuma porque o fogo também não fui eu quem iniciei. Sou responsável apenas por começar a levar roupas e de subitamente me despir com tanta naturalidade a ponto de todos fazerem o mesmo. Procurei não me assustar com esta força tamanha... Este movimento nudista sem razão. Nudista da emoção? Bem, tudo realmente estava parado quando a multidão se aproximou daquilo a representando: uma imensa trouxa.


Será impossível... Aliás, seria impossível dizer quem jogou o isqueiro aceso... Mas, naquele momento parecíamos estar no meio de uma escuridão densa e, metamorfoseados em insetos, corrêssemos em direção a uma lâmpada. O calor começou a chamuscar pelos e peles. Aquele odor de humano queimado aliado ao suor fez as pessoas se afastarem, porém só até um ponto onde o calor não as abrasava. Todos nus sem perceber. Então, houve um clarão e um temporal começou. A tempestade não parou até agora.

Um comentário:

Anônimo disse...

Assunto que já deu pano pra manga....gente que se diz magistrada... escancarar falas imbecilóides.. Logo passa. Tudo sempre passa só não a arte. Cinthia