segunda-feira, outubro 02, 2017

Naturalização dos corpos



por Rafael Belo

A nudez é o mais natural da natureza. Os pudores não estão nos genitais livres, nos peitos expostos e sim na criação, na moralização, na ação do ser humano na sexualização de tudo. Cabe na conduta dos pais entender o momento de expor os filhos porque a liberação geral não faz parte da vida de quem ainda esta se formando. Queimar etapas no nosso crescimento causa lapsos de total perdição no futuro imediato - fora os traumas. Quem aqui não foi proibido de ver desenhos, programas de tevê, novelas, filmes, pessoas... Porque os pais ou responsáveis consideravam impróprio ou inadequado? Nem tudo é permitido para nós adultos quem dirá para a infância e puberdade.

Liberalismo infantil não é inadequado para você? Impróprio ou próprio não cabe só aos pais porque nem todo mundo tem bom senso... Além disso, estamos em um mundo onde existe a "moda" grotesca dos ejaculadores que não fica distante dos abusos sexuais que, finalmente, começaram a ser revelados no meio da dança, por exemplo. Então, é óbvio que a naturalização dos corpos é um tema frágil, delicado quando se afirma que ela nos foi revogada quando os colonizadores chegaram catequizando, escravizando e matando os índios em todo o mundo por terra, por um pedaço de espaço. Por isso, dizer: "imagina um índio dizendo para outro: vai colocar uma roupa que está tua nudez vai provocar os tarados de plantão e você será abusado sexualmente" está distante da nossa realidade. Eles nem sabiam o que eram roupas... Coisas culturais e tal... Claro, que o comportamento sexual da falta de senso sobre praticar sexo parental e com crianças não pode mais ser considerado cultural e é outro tipo de absurdo.

Os colonizados eram libertos sexualmente, estupravam índios e semelhantes, mas os indígenas não estavam longe disso. Não havia limites para o sexo. Era traição, incesto, orgias sem fim e o problema é a nudez? A nudez será um tabu até quando? Ninguém é obrigado a tocar, a ver, a estar presente em qualquer tipo de situação onde há um corpo nu ou cenas consideradas chocantes pelo conservadorismo corrupto e seletivo da nossa sociedade.  Assim como é praticar o contrassenso pedir para uma criança tocar o órgão sexual de um adulto e dizer ser natural. Desde quando vamos onde não queremos ir? Desde quando falamos sobre o que não queremos falar (talvez este também seja o problema)? Somos Adoradores de opinião - principalmente igual a nossa - e de sair moralizando por aí quando nem cuidamos da nossa vida e da vida e do comportamento dos nossos filhos. As roupas foram inventadas para proteger nosso corpo e não para evitar vermos o corpo do outro, mas nestes tempos tão modernos até nisso há de se pensar. Escondendo o natural é que se criou a cobiça, o desejo, a curiosidade...

O desejo pelo outro, pelo não visto, pelo escondido, pelo proibido, pelo não conversado… De onde vem? Não seria da proibição e dos ensinamentos paternos/maternos diferenciando homens e mulheres na criação? Incentivando um a ser recatado, obediente e o outro “promíscuo” e pegar o que quer quando quer? Ou seria o modo de se vestir? Ou como se comportar? Ou seriam as músicas? Ou a televisão? Ou a arte? Para chocar, para pensar, não para agradar… Você acha que os pais ou responsáveis não deveriam ter controle sobre os filhos? Na nossa realidade social quase todos os casos de abuso infantil e de adolescentes começa no lúdico com parentes próximos, amigos íntimos utilizando o papel de autoridade manipulando a culpa junto com ser normal este abuso e quando a arte utiliza crianças para se expressar não está facilitando o papel do abusador?

Nossa hipocrisia condensa tabus criando orgias de adoração ao dinheiro, ao poder, a posse, ao esbanjar e retrai o empoderamento colocando a nudez como exposição da vergonha criando padrões de corpos “perfeitos” e imperfeitos, de coisas ideais e rejeitadas… Mas, a delicadeza da naturalização do nu não pode ser uma via de argumento para um "tio" qualquer violar toda a vida de uma criança, de um adolescente deixando marcas psicológicas indeléveis... Quem sabe se renascermos em outra religião – em outra região, outro continente - venhamos de roupa e lá possamos parar de erotizar quaisquer coisas, quaisquer atos e possamos de fato dialogar para saber a opinião desde uma criança até um septuagenário sobre o que querem e o que pensam. Porém, não podemos ser hipócritas e confundir livre-arbítrio com poder fazer tudo porque assim chegamos onde hoje estamos e olhe bem ao redor.

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