quarta-feira, outubro 27, 2010

Levando a vida na ladeira de anteolhos

*(As pequenas coisas têm o poder de nos alterar mais do que imaginamos ...Captei na entrada do serviço)

Por Rafael Belo

Uma conspiração! Só podia ser! Enervava-se Falius Idío. “Tanto cheiro podre nesta cidade e esta podridão é lançada contra mim”. Ainda é só um forte sentimento. Não, pressentimento. Mas, tudo que eu pré-sinto acontece. São novos caminhos jogados como se tudo fosse um precipício esperando para me devorar. O universo zomba das minhas escolhas erradas. Pisar em sentimentos mortos e plantar sementes em pedras pontiagudas não dão nem frutos. Ai vou ver a minha fabricação de feitos. Bem, parece eu estar colhendo algo não plantado. Se bem... Feitos e não feitos vêm nos cobrar de qualquer maneira...

Falius saiu. Ao volante se sentia um lunático. “Sinto-me com uma raiva silenciosa e com a cara fechada como se matasse com o olhar”. Não sou como essas pessoas sempre com pressa e furiosas com ‘sei lá’... Mas, elas também não devem ser assim o tempo todo... - indicou com o queixo para ninguém as pessoas passantes - Fechou os olhos no primeiro sinal fechado e deixou um arrepio sorridente tomar conta. Tirou o cabresto e principalmente os anteolhos podendo assim deixar de ver só para frente. Mas, mesmo assim era forçar muito sorrir de repente com todo aquele pesado sentimento dentro de si.

Estão tramando contra a minha pessoa, não preciso de nenhuma certeza física. Preciso me calar e me ouvir. Este calor tomando conta quando paro só... Ouviu o som do freio do seu carro ficar cada vez mais agudo. Abriu a porta e se jogou entre o asfalto e o canteiro, parando com alguns ferimentos no gramado central abaixo de uma árvore quase centenária. Seu carro seguiu alguns metros e deu um mortal para frente... Como se uma força o esmagasse na frente de cima para baixo. Não havia ninguém no horário de pico... “Como pode ser? Onde estão todos?”

O barulho seco da batida do carro no chão era como uma lata gigante sendo amassada para reciclagem. A explosão sequencial sim o surpreendeu. Surpresa maior foi sentir 50 anos passarem em sua mente subitamente no espaço vazio onde só reluzia fumaça e chamas e metal retorcido e sua vida ida sem chegar aos 30 anos. Idade da parada dos sonhos. Quando teve de decidir se sonhava ou vestia o anteolhos. A conspiração era ter prendido a respiração e a perdido então.

quarta-feira, outubro 06, 2010

Todas as bocas

*(a janela das horas pode ser passada... Em qualquer tempo! Imagem de hoje mesmo)


Está na hora de soltar a escora
e deixar a Alma dominar
se equilibrar nas suas expansões
e se devorar para mastigar limitações


comendo todas as sensações
sentindo os sentidos nas pontas dos dedos nos limiares dos olhos no cingir dos sorrisos

com toda a fome do todo
de um prisioneiro faminto
dono de todas as bocas
danadas da desnutrição do mundo.


Às 14h42 - Rafael Belo, 04 de outubro de 2010.

segunda-feira, outubro 04, 2010

Terceiros minutos

*(as correntes de arrepios percorrem os utensílios do meu corpo junto ao foco do sol... Captei em casa a imagem)


Arrepio percorre o corpo louco por toque
toca a alma um silêncio encantador, expressivo
expressa o coração uma infinitude incabível em qualquer arrepio


pêlos se eriçam atiçam a Força Maior em mim
um fim de começos precipitados por meios
alheios aos fins do mundo constantes,
guardados em fileiras no destruir das estantes

instantes restantes destes precipícios de suicídios inversos
indo em impulso reto para as palavras do coração
dando a cada três minutos uma nova ressurreição.


Às 11h57 (Rafael Belo) 4 de outubro de 2010.