terça-feira, agosto 11, 2020

Para poder enxergar

 



Rafael Belo


Não liguei a televisão estes dias. Não acessei nada além da editoria do trabalho. Vesti meu anteolhos e trabalhei até o serviço terminar. Nenhum sintoma de COVID, só precaução. Depois me perdia no vazio. Deixei a barba crescer ou simplesmente não a cortei mais... Fiquei meio órfão e meio náufrago. Nada literalmente. Eram só erros insistentes de comportamento solitário, um passo para trás na areia movediça da armadilha do tempo, pois neste agora sou maduro. Não um jovem descartando responsabilidades, mas um adulto fruto de si mesmo. Sozinho se pensa em quem não está fisicamente contigo. Eu poeta.  Eu, marido.  Eu artista.  Eu filho. Eu irmão. Eu  jornalista, eu falido de mim,  longe, isolado, porém, com conexão via web.


É agosto para quem escreve um diário ou precisa se situar pelos anos, meses, datas e horas. É início de terça-feira dia 11 de agosto de 2020. Ninguém entendeu ainda o que está acontecendo, mas todos ficamos especialistas em achar culpados. Melhoramos nossas formas de julgamentos e linchamentos virtuais. Estabelecemos uma censura velada e uma nova guerra de polaridades. São bipolaridades, múltiplas personalidades e uma esquizofrenia enforcada nos horários nobres da tevê e de cada mídia até das sociais. 


São mortes, medo e consequências das mentiras contadas diariamente, dos atos feitos para autoproteção. Pouco se mudou, mas quem não tem caráter segue sem ele, quem ignora a ética tão pouco tem a própria moral bem elaborada. Somos séries de pessoas fatiadas, fragmentadas se escondendo nas desculpas que nem pedimos. Nos tornamos assessores da conveniência, prisioneiros dos sonhos que não sonhamos mais.


Estamos buscando a segurança de dias repetidos, de mortes anunciadas e do salário desafiando o mês. Perguntamos da nossa razão, questionamos a nossa loucura e escolhemos de qual dívida sair primeiro ou de qual maneira trazer a satisfação momentânea gastando… Gastando dinheiro, tempo, mente, corpo e alma barganhando por prazer, trocando consumo por fé. Somos decepções mesmo sabendo pela Luz guardada em nós que podemos nos salvar. Diariamente ajo para poder enxergar.

Um comentário:

Unknown disse...

Diário de um confinado! Perfeito