sexta-feira, abril 24, 2020

Sombra do Poder (miniconto)







por Rafael Belo

Há muito tempo a Escuridão se mantém sobre nós. Não há vestígio de Luz em lugar algum. Há a Sombra do Poder pairando mais densa que a Escuridão consumindo qualquer boato sobre a presença da Luz. Mas até agora ninguém tinha presenciado esta presença. Nossa História conta que há muito tempo líderes tentavam ser a própria Luz e se queimavam com o tempo por não serem  capazes de chegarem sequer próximos a Fonte Primordial. Alguns diziam ser o Sol outros o próprio Deus… Mas há quem diga que havia quem seguia luz artificial e estes, mesmo assim, não resistiram a esta energia.

O que restou deles são rangidos, gritos e gemidos do passado. Também dizem que estes eram os insetos sem identidade, memória nem personalidade que pairavam e se jogavam em qualquer luz que ousava brilhar. Queriam o mesmo poder da luz mas não conseguiam. Insetos zumbindo tentando manipular e desestabilizar qualquer tentativa de Luz. Então, o mundo simplesmente ignorou a Escuridão e as Sombras do Poder. O medo, a insegurança e a descrença ocuparam corações desorientados.

Esquecemos. Somos Luz. Somos A Luz. Nenhuma Sombra, nenhuma Escuridão é capaz de desestabilizar. Cada Luz desperta precisa resgatar as demais da Insanidade e do Esquecimento. Resgatar de um tormento disfarçado de seguidas tormentas buscando nossas fraquezas para nos enterrar na escuridão tentando nos habitar. Esquecemos o tamanho que somos quando de joelhos dobrados e um sorriso desenhado em todo o rosto.

Onde estão os sorrisos neste velho mundo novo? Onde estão os olhos? Não há um olhar iluminado por aqui. Estão todos se escondendo, evitando olhar em outras janelas humanas com medo de revelarem a Sombra do Poder tão disseminada por um constante disputa fadada a morte. Tantas vezes vencida, porém, sem Luz não é possível enxergar a saída a um minuto de silêncio nem uma salva de palmas… Não nos vemos por dentro e nem toda a Força estrondosa presa em uma prisão sem grades, cercas, cadeados, correntes ou sequer uma porta e um portão.

quarta-feira, abril 22, 2020

confinados








calados ficamos parados
atormentados pela superfície da nossa profundidade 
cutucados pelos abismos nos olhos
nos engolindo sem parar no nosso lar
expondo quem somos sem desculpas
nas grades das coleções de culpas
pendurados no meio da imaginária lua 
confinados na absurda rua da natureza
e cárceres cativos das nossas escolhas
vivemos bolhas estouradas em busca da cura
que começa com pequenos movimentos em nós mesmos.
+-Rafael Belo/*
às 23h20, 05 de abril de 2020, domingo, Campo Grande-MS.

segunda-feira, abril 20, 2020

Confinamento







Por Rafael Belo

Talvez a terra seja plana e todo conhecimento inútil, diante da petulância humana de dominar o mundo… Não. O descaso habita em nós quando não nos damos o trabalho de se importar, de se esforçar diante de tantas dores psicológicas insistindo em confundir quem muitos são e quem nossa sanidade diz que somos. Somos sãos? Como seremos depois de restritos e confinados? 

Esses dias de convivência "obrigatória" intensa foram de renascimentos. Mesmo saindo ainda confinados e ainda restritos neste relaxamento do isolamento, ficou mais fácil perceber que muitos de nós, inclusive eu, mantemos muito de quem somos confinado e restrito, por isso o lapidar necessário cego até outrora fica evidente, grita no ouvido, nos abala, desaba e nos mostra nossa fragilidade. Ou a gente sai ou entra no casulo. Nesta possibilidade de se transformar, se esconder ou revelar, a certeza é a necessidade de limpeza, de fazer legalmente nossa própria obra e descartar o entulho no lugar certo.

Mas, como tudo na vida, é preciso reconhecer e assumir cada erro para realmente se libertar, para realmente mudar. Aliás, tudo mudou menos a necessidade das pessoas de estarem certas batendo no peito que não acontecerá com elas enquanto o mundo segue morrendo e vamos ensaiando o mais novo fim do mundo chegando diariamente depois de tentarmos voltar a fazer as mesmas coisas que nos trouxeram até aqui.

Aqui onde estamos na necessidade de eufemismos e diminuição do outro e dos acontecimentos com diferentes finais diários, porém, sempre colocando o foco na política, na ideologia, nas divergências, nas diferenças e tantos abismos que nos separam. Mas sabe de uma coisa? Tudo isso não significa nada. A vida nos junta. Nosso destino muda. Nossa missão é bem maior. Crescemos e os abismos parecem pequenos buracos. Sem união, fé e bom-senso nossa sanidade se liberta e ficamos confinados na insanidade que criamos hipnotizados pela escuridão do abismo preso no nosso olhar.