terça-feira, junho 16, 2020

Isto é morte








Rafael Belo

Não há uma maldição implantada em nós. Nem roubo de dados, de identidade ou azar desenfreado. Há repetição. Repetimos fatos e comportamentos. Somos reprodução de exemplos. Somos reprodução familiar e produto do nosso meio. Precisamos apenas deixar esta desolação, este desamparo nos vomitando para ditar nossos caminhos e de fortalecer nossas fraquezas. Isto é morte. 

Não somos morte, mas a estamos reproduzindo. Somos o oposto disso. Somos vida e vida em abundância. Quando não percebemos isso reproduzimos despreparo, desânimo, desilusão e desconexão. Nada disso diz respeito a este smartphone, notebook ou PC sendo ferramenta de acesso ao mundo. Falo da desconexão da nossa alma, do nosso coração, da desconexão com nosso espiritual. A desconexão com Deus

Deus não desliga de nós. Não desconecta mas nós somos iludidos a pensar e agir que sim. Reproduzindo uma oficina vazia ecoando um escoamento nos deixando em um cansaço constante. Sugados para o nada em um sem sentido angustiante arrastando um peso anônimo em nós… Quantas vezes dizemos que estamos cansados? O que nos cansa é esta reprodução da ausência causando uma dor dispensável.

Dispensável feito a reprodução das relações e de identidades criadas por nós. Reprodução é morte! Somos originais feitos para a independência para conectar coração e corpo com nosso abandonado espírito. O espiritual em nós precisa romper todas as barreiras e ser a prioridade de todos nós fortalecendo nossas qualidades para sermos instrumentos do melhor possível vencendo esta morte diária querendo nos assombrar.

domingo, junho 07, 2020

Trincheiras esburacadas (miniconto)










por Rafael Belo

Neste momento a tensão é mais mascarada. Não se identificam mais os amigos nem os familiares. Tudo derreteu. A quantidade de máscaras cobrindo rostos só aumentam a desconfiança e a sensação de morte… É visível o colapso chegando sorrateiro com um taco de beisebol apelidado de Rivotril. Por trás, silenciosamente, a intimidação cria estas trincheiras e não são só as máscaras visíveis e invisíveis que escondem intenções, há uma armadura de policarbonato transparente revestindo o corpo. Há um vírus pior que mortal por aí. Ele revela as pessoas e as transformam em selvagens assustados.

Sou um número perdido na última redação escondida. Houve retaliação e cada um de nós é inimigo do outro. É uma trincheira esburacada. Estes buracos só ampliam e parecem bunkers pós-apocalípticos já sem energia, água e alimentos. As últimas notícias reais nos chamavam de Apocalípticos. Havia algo chamado de Político que era uma classe dividida tentando dividir as pessoas. Não houve extinção desta espécie. Só voltaram para um tempo onde flechas e pedras era poder de fogo.

E Fogo! É o que há. Qualquer dia é guerra, qualquer hora é luta. Houve uma tentativa de nos enfiar goela abaixo o tal do Novo Normal, mas o refluxo foi um vômito equivalente a todos os vulcões do mundo entrarem em erupção ao mesmo tempo. Há enxofre e lava. É o inferno na terra. Há corpos em chamas que não viram cinzas, há cinzas instantâneas de pessoas… Estamos lutando pelas nossas vidas, os corpos estão chamuscados. Todos os corpos estão chamuscados…

Eu sinto que entrarei em combustão. Parece que este incêndio deste mundo vermelho tremendo alagado vai nos afogar nestes buracos onde nos protegemos destes fins constantes. Foi por isso que sobrevivi a ferro e fogo entendi, enxerguei… Agora vejo os buracos virem e meu medo se foi. Sei que não deliro, mas este delírio coletivo ainda está manipulado na mente destes Apocalípticos raivosos. Consegui sair do buraco! Não há destruição aqui em cima! 

quinta-feira, junho 04, 2020

no ato








no ato da cegueira coletiva começar
correm os buracos para o cerco
criados clandestinamente pela surdez
caindo coercivamente contraditórios
os seres provisórios privados de si
no privado cercar de quedas
vivem na realidade improvisada das cavernas
tão paralelas quanto um ginasta pode utilizar
em um salto sem sentir o olfato se esvair
e a saliva levar o paladar à emergência mental
onde não sabemos se vivemos demências nem o significado de normal.

+-Rafael Belo/*

às 10h33, sexta-feira, 29 de maio de 2020, Campo Grande-MS.

terça-feira, junho 02, 2020

Buracos








por Rafael Belo

Nada começa grandioso. Tudo sai do detalhe, do pequeno. Seja uma ideia até a percepção. Para ver o todo a gente toma distância. Diante de uma rachadura a gente procura as possibilidades, origem,  o motivo para agir. Mas às vezes só é possível desviar em um primeiro momento. É o caso de buracos. Eles surgem com o tempo ou simplesmente pela má qualidade do material. 

Se andamos rápido passamos por cima, se corremos nem vemos, se andamos no limite da via ou da vida temos tempo para decidir o que fazer, mas o fato é que o buraco não precisa só ser tapado, costurado, preenchido… É preciso agir com a certeza que ele não vai ficar lá aumentando e provocando outros buracos a surgirem. Quando ignorado, as proporções dele podem perder as medidas. Por isso, chamo os problemas da vida de buracos.

Se não resolvermos no início e até prevermos o surgimento dele, o buraco nos engole. Caímos no buraco e desacostumados a olhar para cima vamos vivendo nele. Vamos o ampliando, o reformamos, o deixamos do jeito que queremos, mas continua sendo um buraco. Continua nos derrubando, nos afetando, desestruturando tudo e gerando sequelas. Dependendo do quando o buraco está desenvolvido, ele faz vista para outros buracos e pode ter outras conotações…

Estamos esburacados. O mundo não precisa de reforma, nosso continente não precisa de reparo, nosso país não precisa de conserto, nosso estado não precisa ser arrumado, nossa cidade não precisa de acréscimos, nosso bairro não precisa de visibilidade, nossa casa não precisa de uma pintura nova e a gente não precisa pensar diferente… Precisamos entender o buraco que cultivamos, olhar para cima e ver a saída. Vamos acabar com os buracos, fazer de novo e da melhor forma até termos o máximo de nós sem cair, causar ou viver em buracos.