segunda-feira, maio 31, 2010

Desculpa pelo tempo

8 as nuvens têm seu tempo de passagem concordado com os fragmentos do vento... Captei no meu céu natal.

por Rafael Belo

Uma vez escrevi sobre o tempo e seu significado. Lembro minha reflexão central do tema: O mundo é o tempo do nosso pensar. Desde então a desculpa do tempo deixou de sê-la porque tempo não é desculpa. Como uma definição passei a torcer os lábios a toda demonstração desta ‘razão’ para não fazer algo. O maior motivo é o fato de nos ocuparmos tanto com formas diversas de ganhar dinheiro para não o utilizarmos da maneira querida.

Cansamos, precisamos dormir, necessitamos de uma fuga ou parafraseando a ironia de Bandeira em seu “Poema tirado de uma notícia de jornal”: viver era entrar em um bar, beber, cantar e dançar... Fora isso eram uma morte simbólica e um cotidiano tachado pelo tempo sobre taxas de uma realidade tarimbada pelo João Gostoso do poema. Viver para trabalhar, trabalhar para viver parece passar pelos olhos dos trabalhadores a cada manhã como se o tempo nada fosse a não ser um castigo, uma repetição até aquele viver.

Tudo passa com o tempo, pois este está no caminho, mas não significa esquecimento nem distância é mais uma constatação a dizer sobre os passos seguintes e isso pode demorar mais ou demora pode ser apenas uma relativização simplista demais. Voltando ao nosso pensar do primeiro parágrafo, este relógio biológico inerente a nós vem e vai daí. Nosso humor e dissabores diários dependem das nossas idiossincrasias e então o tempo pode nem existir.

Não posso ver o amanhã por ele acontecer a todo instante antes de se tornar presente e correr para o passado nesse meu tempo. Sirvo-me do relógio para saber em qual momento do dia vivo e nem sempre isso acontece enquanto trabalho na profissão escolhida porque preciso dos meus momentos comigo, dos meus momentos com os outros como necessidade para respirar e perder a respiração. É a precisão de independência a se manifestar de forma diferente em cada tempo onde somos nós. Espaço aonde nem nós nos controlamos, apenas fluímos.

sexta-feira, maio 28, 2010

O Apocalipse de cada um

8 as faces dos sentimentos se multiplicam em desordem da razão, aprisionados em psicodelia... Captei a banda Autoramas
Por Rafael Belo

Parecia sangue em seus olhos e de certa forma era. Resultado de silêncios quando as palavras sufocaram na garganta. Soma de todas as vezes onde o engano tornou-se alguém até então confiável. Multiplicação da quantidade de indigestões ao invés do regurgitar. Era a raiva finalmente solta dos grilhões amargos da contenção indevida, a exalar trêmula de um rosto fechado e injetor do medo. Não havia quem olhasse ou se aproximasse. O cheiro da raiva ardia na pele e no respirar nas pessoas mesmo a quilômetros de distância.

Os pensamentos se perdiam como latidos em uma noite agitada onde as rinhas selvagens eram permitidas na mente sem identificação e todos os cães latiam enfurecidos sem controle. A raiva se personificava na carne latejante, na respiração densa e acelerada e naqueles olhos vidrados por destruição varrendo olhos feitos possessões a encontrar a ira alheia para o despertar. A Raiva, a Ira e a Fúria provavam o sangue diariamente em parcelas pouco satisfatórias. Cada uma agora se procurava e procurava uma a outra. Estavam por aqui com seus olhares sanguinários, por aí com seus dentes afiados e garras assassinas.

Descontrole era a visão daqueles três corpos entregues as próprias barbáries, até então guardadas em um canto sinestésico qualquer esperando ser esquecido... Mas na verdade a espera era para ser lembrado. Bastou o vazio, as mudanças constantes e a derradeira caminhada sem rumo finalmente acontecerem para a dissimulação cheia de água na boca ser enraivecer, se irar e se enfurecer naquele silencio medonho, mas não mais contido, não mais escravo do controle.

Aqueles corpos viam sua capacidade e queriam parar, mas já era maior o sentimento maculado pela revolta e inaceitação. A morte desejada se realizava para cada um capaz de afrontar o ideal daquelas três despersonificações, já desumanas, já arrependidas de terem cedido a sede do corpo para a devastação sem fim. Eram obrigadas por cada instante de eternidade, a se verem de dentro de si acabando com o pouco restante de um mundo tornado vadio e ganancioso. O apocalipse em todos já era certo.

quarta-feira, maio 26, 2010

Humano

8 pelas estradas da vida trocamos sempre de pele... Captei em alguma viagem...


A pele coça, os olhos vidram, terminam os limites
os sussurros vencem os delírios e os demônios saem
pelos tremores do corpo quedando anjos
por todas as partes onde não estejam caídos

em brutos suspiros vermelhos
ensanguentando mãos abrindo feridas nos pés
soltando todos os monstros da alma
pela fúria do coração

com as garras da noite em pleno meio-dia
explorando a raiva em dia por uma simples troca de pele.

às 23h52, (Rafael Belo/Folha de Outono) 25 de maio de 2010.

segunda-feira, maio 24, 2010

Raiva em dia

8 em dia de chuva as gotas se prendem em contraste e conectam o antes solto... Captei do quintal em casa...

Por Rafael Belo

Chove em uma segunda bipolar na felicidade química do fim de semana terminada antes da manhã. Raiva em dia. Dizem ser ruim sentir raiva, esta ira controlada com total necessidade de ser descontrole. Um saco de pancadas, um desabafo algo para esta imprescindível energia irada se esvair. Quando nossas crenças encontram o chão, nosso rosto vai junto e chafurda nos detalhes omissos dos dias de trabalho. Parecem correntes da decepção tentando eternizar este momento obrigatoriamente efêmero.

Uma angústia premonitória da quebra daquela insistente ideologia falsificada nas atuações atuais. Parece mais uma vez uma perda de sentido na profissão, no trabalho e claro, a constatação: nada mudou. Certo, nós mudamos. Aprendemos um pouco, mas voltamos às valas dos nossos desejos nobres ridicularizados pelas grandes corporações. Dificilmente o desânimo deixa de se manifestar. Então, vem o pior. Não foi a vida nossa decepção... Fomos nós.

Temos de nos livrar deste sentimento. Por isso a vontade de largar os afazeres momentâneos e ir de encontro à chuva - nostálgica e eterna catarse dos momentos nevrálgicos das nossas escolhas. É permitido fechar a cara como o tempo se fecha lá fora, mas se amargurar é perder todo o potencial e denegrir o próprio caráter em prol da nossa parte maléfica... Dos maus pensamentos maculando a mente sem aviso prévio. A vitória diária é não ceder nas ações, os sentimentos pesados a nos atracar em situações adversas.

Com a raiva em dia, podemos ver o cardápio dos próximos passos. Respirar fundo todas às vezes necessárias, contar nos números, esvaziar a mente, se livrar das besteiras possíveis impregnando a mente a carregar seus mais próximos consigo. O clichê da vida que segue, então toma conta e a segunda continua chuvosa até raiar o dia com a vontade contínua da chuva em nossa vida vir a nos molhar por completo para limpar toda a mágoa instantânea e levá-la distante.

sexta-feira, maio 21, 2010

Desexistindo

8 Minha terra sem posse, meu banho nu de despossessão... Captei nos fundos de casa...

Por Rafael Belo

Contrariando todos os clichês de desaparecimentos e abandonos, ele reuniu todos os milhares de amigos reconhecidos pela vida e anunciou sua morte. ‘Estou morto!’, gritava para os rostos de interrogação, ‘Estou morto!’Eles o conheciam há tanto tempo e ao mesmo tempo desconheciam o significado daquelas duas palavras tão reveladoras e sem necessidade de muita explicação. A única pessoa a o entender foi a única ausente e ele lamentava isto no fundo de seus olhos perscrutadores.

Ulisses parecia poder ouvir cada mente. Os conhecia bem, mas nunca achou ser imprevisível demais para ser compreendido. Agora não importava. Ele calou-se depois de repetir as duas palavras excêntricas, afinal, quem não está morto? Mas, ninguém ousa dizê-lo... Quanto mais admitir... No centro de todo o burburinho se formando, coexistiam várias fogueiras. Não era mais possível saber os detalhes do material a mantê-las acesas... Para Ulisses, elas tinham cheiro de ‘já foi’. Um aroma pertinente de um passado ditador de quem ele era até então. Não mais. As fumaças subiam e o despersonalizavam de seu antigo nome não revelado. Era Ulisses e ‘ninguém’ mais.

Em sua Odisséia pessoal coletiva fez cada um dos presentes se conhecerem no decorrer de sua vida. Com isto estava satisfeito. Mas quando o sol raiasse novamente... Ele não existiria mais como uma peça política a querer o sorriso e o agrado de todos. Não mais. Sua insatisfação consigo mesmo o fazia desejar sua própria Ilíada. Queria se lançar e se encontrar quem sabe em um conjuntos de mares únicos e distante. No entanto, sua água salgada seria temperada por ele.

Esta festa seria sua Ítaca final. Odisseu também seria seu nome se o chamasse assim... Poderia ser Homero. Queria mesmo descobrir-se por si mesmo sem referências, sem bibliografia, sem qualquer existência a o preceder. No arder daquelas fogueiras estava sua então existência social: roupas, identidade, fotos, escritos, relatos, trabalho, números, som, textura, imagem, digitais... Apagou cada vestígio de lembrança gustativa, degustativa, visual, vocal, olfativa, tátil de todos ali. Aos poucos se misturou até sair sem ser percebido. Saiu de costas precavido...

Ele estava descalço com um saco de estopa no corpo e o desconhecido a frente. Não era ninguém além de um anônimo. Estava feliz com todo o seu não ser e se foi.

quarta-feira, maio 19, 2010

Identidade


8 as belezas enferrujam e morrem pela falta de cuidado, então não há mais identidade... (Captei no quintal do fundo de casa)...

O Tuiuiú bate as frondosas
asas sobre as nuvens
queimadas sobrepostas
ao engarrafado trânsito incontido
nos fragmentos da cidade em cinzas

se envenena aos poucos
com os pedaços concretos
do urbano funesto incendiário
procura um canto verde pré-utópico
para morrer simbolicamente longe
das invasões.

Às 12h51, 15 de maio de 2010 (Rafael Belo/ Folha de Outono)

segunda-feira, maio 17, 2010

* Meu desconhecido

8 a terra do quintal de casa... captei e toquei...


por Rafael Belo

*A terra entre minha mão, escorrendo nos dedos e o cheiro de vento pelo vento. Como se eu me banhasse na característica de onde estou. Sentindo o lugar, trazendo minha alma de um fuso horário próprio tão meu para esta presença absoluta de um não lugar. Observar os arredores e pormenores, fechar os olhos, pender a cabeça para as costas e esvaziar para me preencher daquele momento. Nada de julgar ou me influenciar. Tem de ser puro pelo menos para mim. Este ritual faz parte de mim e até então só eu sabia.

Ver fotografia em uma desconstrução poética e cada encontro, desencontro, conversa ter um início de uma futura obra literária. Mais algo de mim no geral desconhecido. Intuitivamente querer ajudar, partilhar, compartilhar com o próximo ou o distante o ínfimo do meu ‘saber’. Para completar seu segundo desconhecimento da minha pessoa com um terceiro, eis o motivo de eu decidir escrever quando criança: trocar experiências/compartilhar.

Então vem o silêncio. Meu silêncio. Não falo de terceiros não presentes e mediante insistência me calo. Silencio também para me abster ou para absorver várias coisas simultaneamente. Minha identidade me diferencia principalmente pelo próximo quinto fator de qualificação paradoxal. O fato de eu não me apegar a nada e ninguém com facilidade, mas me sociabilizar facilmente. Não significa eu ser fechado, sou um livro totalmente aberto, basta perguntar. Tenho pra mim, ser isto uma facilitação para quando eu paro de dar sinais temporariamente – e é meu feitio.

Para completar, aonde quer que eu vá, não me importa o lugar. Importam as pessoas. Para eu me entregar ao lugar e realmente curtir a música, a interação e as pessoas, ‘precisam ser muito bons’. Aí me dizem travado. Bom, eu desminto profundamente. Se o clima me agrada, acabo me tornando o lugar. A entrega é verdadeira. Nada disso quer dizer: “não gostei deste ou daquele show”. Quer dizer simplesmente: “Eu não me entrego às expectativas”.

_________________________________________________________________
*(Este texto foi escrito para a ‘grande’ e talentosa Naty Araújo do Blog  que me inclui entre suas pessoas queridas e portanto escrevi ‘seis’ coisas que não sabiam sobre mim. E repasso para outras seis pessoas que me são queridas: a virtuosa e emblemática Lelezinha ; a verdadeira e talentosa Jamy  ; a magnífica e visceral Mai  ; a amada e multifacetada De  ; a presente/ausente e sagaz Is e a bem-humorada e sincera Kellen  – Nos revelem seis coisas sobre vocês que ninguém sabe - se possível nos seus blog:)

sábado, maio 15, 2010

Alienistas

Cães ladram as loucuras noturnas aos loucos insones pelos latidos quase um bramido aos pesados olhos vermelhos vizinhos sonambulando a noite, zumbi de um dia pregado ao sono encantado escondido pelas cobertas da casa, arrastadas pelos contornos fantasmas das foices dos indivíduos devedores de um Morpheu, corrido de herança grega encalhado em presente, sem sonhos talhados para quem dorme, pois não dormimos pelos latidos dos homens pranteando a lira deformada de Orpheu a não dedilhar, a apenas ladrar os ladrões do tempo gradeados nas janelas de frente aos nossos quintais, paralelos a nós perdidos nos nossos nós mentais gregorianos em uníssono, sem alteração nos distúrbios tão nossos roendo os ossos durante a noite remoída enquanto somos cães Alienistas.

às 20h52, rafael belo (folha de outono) 9 de maio de 2010.

8 estão no começo do quintal da frente de casa, os caminhos alienados dos cabos...tive de captar...

sexta-feira, maio 14, 2010

Foragida

8 uma mistura da definição da 'foragida' que captei no meu bom e velho quintal...
Por Rafael Belo

Não havia por que dizer algo, mas o silêncio atormentava dentro da minha mente acolchoada em total branco sem portas nem janelas. Meus pensamentos pararam, as imagens se foram com as vozes. Até... Até os ecos... Os ecos também me abandonaram junto com aquela camisa única amarrada por tanto em mim. Jogo-me nas minhas paredes procurando meu precipício... Lá no princípio, mas não caio. Não saio de mim. Há gente lá fora, talvez meus outros eus estejam por lá.

Lá aonde não há ninguém. Quando não são parte de quem sou em partes... Uma indefinição com múltiplas personalidades moldadas antes em uma. Nada concatena mais, minhas costuras foram desfeitas para o bem da má sociedade patética. Tenho meus espasmos, minhas síndromes de consciência, mas sou inconsciência estranha a este corpo do mundo montado. Diferente... Quantos eus de vocês não me são? Nada de sanidade por aqui... Ela se baniu por ela mesma... Para ser sã, finalmente...

Meus dados não rolam mais. Estão gastos e ralados. Entorpeceram-me aqui para eu não mais jogar. Todos jogam dados diários... Procuram me negar ou se perguntam se me são. É só rir e falar só. É ‘só’ o sol sair do eixo deslocado da cultura do medo. É só parar e fazer o contrário. É só se importar, tachar se otário... É só rir e falar só.

Assumam-me e parem de sumir. Deixem sua crueldade se acusar. Misturem os dados da falsa normalidade e lancem-os ao universo... Deem meu habeas corpus. Este controle... Deixem-me descontrolar. Debatido. Sinto as barras de ferro geladas, as amarras da maca e meu nome sorri ‘in sano’ de uma dimensão a outra da boca. Estou rouca de tanto gritar o atormentado silêncio. Vou fugir.

quarta-feira, maio 12, 2010

‘Louco’ traz brincadeiras infantis de volta às ruas

8 quase a imaginação captada... há algo mais solto mais... 'louco'? captei exclusivamente para esta tríade...

Por Rafael Belo

A brincadeira se misturou logo pela manhã. Ninguém sabia mais se era pega-pega ou esconde-esconde, o certo era o retorno das brincadeiras infantis, porém renovadas. Porque agora o legal é no esgoto e todo mundo correndo e procurando uma só pessoa. No caso o ‘João’ louco. Foram ‘apenas’ quase quatro... Quase quatro horas se “divertindo” no lugar mais cheiroso de uma cidade! Isso foi na sexta-feira (7), em Campo Grande. Munido de uma peça de ferro, ‘João’ evitava a aproximação. Mas, centenas de pessoas acompanhavam o mais próximo possível.

Talvez em sua mente confusa e aversa a qualquer tipo de confinamento, fugir de uma ala psiquiátrica era o caminho. Há algum tempo, no dos Manicômios, o choque sofrido por ele - mas choque mesmo, não um susto ou trauma - não surtiria efeito algum senão, o das risadas. Quando suspenso do bueiro mais próximo, ele estaria nu se não fosse à solidariedade de uma moradora - acompanhado tudo em primeira mão. Ela doou camiseta e shorts para ‘João louco’ deixar de ser oficialmente um foragido. De volta à ala psiquiátrica.

E daí se falava sozinho, se estava naquele ‘hábito hospitalar’ com a bunda de fora e corria e se camuflava no escuro e tirava a roupa...? Não seria loucura maior o fato de vivermos confinados por vontade própria? Confinados a estigmas e paradigmas e claro, rótulos? Claro, há os medos e receios... Mas, às vezes não seria melhor ser um foragido da nossa loucura cotidiana a fingir uma pseudoescravização ao trabalho, ao dinheiro, ao mais... E enfrentar uma afronta as narinas: o esgoto? Porque é difícil saber aonde fede mais...

Por aí entende-se o fato de nem todos aguentarem a pressão e a vida cotidiana por hábito ou acomodação e acabam mobilizando metade de uma cidade, bombeiros e policiais trazendo velhas brincadeiras infantis de volta enquanto temos a empáfia ou a maldita convencida arrogância de julgar com olhares superiores as desrazões de um ‘João’ nem tão louco quanto aparenta.

segunda-feira, maio 10, 2010

Casal Carnal

8O que dizer das sombras das vestes despidas...? Tirei no meu quintal
Por Rafael Belo

As roupas se espalhavam em meio aos suspiros e gemidos e estalos das bocas enquanto as línguas se amansavam na selvageria de se sugarem em busca de uma alma. A trilha das vestes terminava nos corpos despidos encharcados de excitação química cantando a melodia da cama em intervalos de recuperação quase instantânea, sem ligar para os dias e as horas acumulados em poeiras e cartas e email empilhados nas entradas reais e virtuais de um casal carnal.

Bastava se verem para dizerem não. Não quero te ver e logo quem dizia já ligava querendo ver. A atração era irresistível e os lençóis vibravam. Uma estava entorpecida de paixão e o outro não dizia, até dizer. Foram três enquanto ficavam e um namorava. O namoro acabou, mas ficar continuou, com a outra. A outra deixou de ser outra. Mas, engana-se quem pensa só haver sexo entre o casal. Havia o encaixe em todas as cenas dos atos da vida dos dois. Assim era.

Eles se davam muito bem e se dão constantemente. Abraçam-se vestidos, dançam ao som dos corações negativos para na soma positivarem. Há um incêndio geográfico apossando ambos em proporções extintas, em escala avassaladora. Vai aquecendo a pele ao olhar vindouro, começa a espalhar a chama pelos curtos pelos da derme e quando a pele começa a derreter as bocas se encaixam e as vestes voltam às cinzas como jamais foram, vendo do chão os amantes rolarem.

Ele a olha embebido de torpor e contaminado de sexo, pura carne. Pede para se despir. Ela retira lentamente a blusa a friccionando propositalmente na pele, passa as mãos sobre os fartos seios, enrijecidos de prazer antecipado e se expõe com o sorriso despido. Malícia sincera nos lábios. Língua umidecendo como uma labareda fugidia da devastação. A água na boca se espalha nos dentes mordendo a boca saliente. Ele só vê os seus olhos incendiados.

“Pronto”, pronuncia ela entre os dentes em um suspiro corrente em calor. “Não! as calças”, diz com o olhar lambendo o espaço entre eles. Ela o faz. “Me abraça”, Ele diz em tom de entrega. E suavemente se encostam e se encaixam com o êxito de um quebra-cabeça angélico decaído. A pele se sente como se antes não existisse. A cabeça se mexe como um tardio instinto animal roçando uma face na outra. Só há respiração profunda e os braços se apertando nesse abraço de súplica. A carne casa em um sexo de pele e o mundo enfim termina a dois.

sábado, maio 08, 2010

Cafajestes

8 a intensidade natural da beleza sob a cerca a passando, a pulando, mesmo aos choque, tão elétrica... Tirei no fundo de casa registrando a bela invasora...


Eram três corpos no início sem fim
pela atenção de um, enfim virara dois
sem um seriedade por um lado e de um lado para outro,
havia a carne cafajeste nas entranhas dos cafajestes

em um encaixe corpóreo flamejante de gestos da pele
emaranhada a sensação da sensualidade rebolada
no suor da cama felada da felação da troca de línguas e genitais

nos gemidos suspirados na gama dos alfas alcançados
na pele respirando a outra pele no alfabeto sexual de ais
em compromissos fluídos nos fluidos do fim dos atos finais

às 21h44 Rafael Belo (folha de outono) 3 de maio de 2010.

quinta-feira, maio 06, 2010

A carne lateja em êxtase

8e o encaixe acopla a terra e se alonga... Tirei no meu quintal

Por Rafael Belo

Esta semana um casal foi preso praticando sexo oral em público durante plena embriaguez em Dourados. Estavam praticamente nus e o homem fugiu assim que a polícia chegou. Bom ele tentou fugir, pois com as calça arriadas caiu - suponho eu, porque pode ter caído de bêbado. Quando li a notícia fiquei pensando no atentado ao pudor, na covardia do infeliz e na quantidade de hormônios explodindo para acontecer ali e naquela hora. Além disso, me veio à mente se o ato libidinoso aconteceu “apenas” pela bebida correndo nas veias ou se era a realização de uma fantasia.

Mas, era meio da tarde. Exatas 15h de um domingo, horário de outra excitação brasileira (futebol). Será que a carne estava sedenta por expelir seus fluídos. E não! Não haveria tempo hábil para encontrar um local menos inadequado... Ali, no meio da rua aquela cena clássica entoando nos filmes de terror nudez e perigo, álcool e excitação acontecia para os olhos calejados dos voyeurs procurando prazer com a “coragem” alheia.

No meio da rua talvez nem fosse um ato exibicionista. Para os dois poderia não haver mais nada além do encaixe de uma boca e uma genitália. Talvez fosse romântico... E no mundo daquele domingo só os dois faziam sentido e gemiam... Até... Até a polícia chegar e o egoísta correr... Quem recebia a língua torneada de lábios entre as pernas não importa... pelo menos para nós... A maioria tão criteriosa com o sexo, tão cheia de regras, tão tensa a perder o tesão na autocensura de se expor sobre o assunto.

Clara é nossa exposição constante ao erotismo e sensualidade em toda parte ativando nossa sexualidade irracional. Tendencionados a uma excitação cerebral lá do cerebelo, nosso cérebro primitivo a impedir a hipocrisia do corpo entregue a primeira oferta de sexo sem ofensa, até ofender o respeitável público bipolar. Então, usamos o fingir e as dores de cabeças casuais para separar a alma do corpo ereto percorrendo a pele arrepiada e a mente em psicodelia a deixar a carne latejar em êxtase. Como se a sociedade não nos fosse.

terça-feira, maio 04, 2010

Derrete o verão as palavras vazias

8o tom das cordas vai no tom da verdade e quem alcança todas as notas? Tirei esta há muitos meses...


por Rafael Belo

Mais um verão ido. Terminaram as férias, mas o calor continuava fosse inverno ou outono. Não importavam as flores espalhando seus parcos perfumes ao meio de tantos cheiros sem autenticidade, a não ser para os animais. Não importavam as folhas caindo em um fluxo de tempo determinado pelas horas a se olhar para as árvores e delas para o chão. O autêntico não vinha com as estações. Era mais uma fuga, um segredo, uma mentira vestida para depois ser lavada e posta no guarda-roupa junto a tantas outras.

Era quem queria ser? A resposta era mais vaga ainda... Talvez. Pudera. A vida foi uma mentira, fugindo sabe-se lá por que. O nome era uma incógnita pela ausência do paradeiro da família ou um documento qualquer. Estes espalhados na fogueira? Todos falsos. Quem não pode sentir o cheiro de tanta mentira? Se um cachorro a fareja a irritante distância... Esta falta da verdade impregna como tecido vivo queimado em agonia no silêncio do grito das expressões malpassadas. É assim por trás das palavras daquela língua venenosa.

Tanta pestilência para proteger suas areias edificadas na beira do penhasco e um simples vento desconfiado abre um buraco no chão para simplesmente preenchê-lo com o proprietário da peste. Cada verão um personagem diferente, uma fronteira invadida e uma nova vida a espera de desmoronar. Quem sabe desta vez não dure mais... Quanto tempo até a mentira anterior se esbarrar com a nova?

Quem sabe este outono seja diferente e as folhas não caiam e o tempo não se prepare para o inverno inexistente em rigor por aqui... Disso eu sei. Não vai acontecer...! É mais fácil continuar me enganando e fingir saber quem eu sou a pretender dizer sobre as estações marcadas em quatro pela razão da natureza, pela sua definição variante. Fui ao topo das minhas mentiras como uma multidão feita de ninguém a ser passado constante.

Minha natureza era outra, era órfão de virtudes, de moral, de ideia da ética... Decidi entrar no guarda-roupa, me trancar e morrer aos poucos de outra maneira, ao lado do meu mundo de mentiras nuas e nu na minha escuridão... Tentei em vão deixar de ser de mentira.

domingo, maio 02, 2010

É tudo mentira!

8 a mentira é como estar preso com uma onça selvagem e a onça selvagem estar presa dentro de você. Ela te devora por dentro e por fora... Tirei na base aérea, ela é símbolo do esquadrão onça...

por Rafael Belo

Compulsivamente surge a mentira para aquele “autoengano” de um vício qualquer tão avassalador para o viciado seja em fugir do mundo ou de si mesmo, normalmente de ambos. Mas, há tantos vícios neste nosso mundo a desvirtuarmos com voracidade. É uma psicologia reversa tão palpável na clareza de uma certeza camuflada daquele nosso falso olhar entendedor da vida. Para ficar mais fácil usamos exatamente isso, a medida da facilidade. “É mais fácil para você, é mais fácil para fulano...” E sobe nosso dedinho podre apontando um julgamento insosso sobre o outro. Mas, serão estas linhas amontoados de mentiras para fugir de um assunto...? Não quando o assunto é mentir para o espelho.

Você já mentiu hoje? Pelo menos o sorriso do dia já fez esboço na boca... Mas, realmente parece uma compulsão por parte de quem o faz e culpa a sociedade pela pressão. Acaba tornando-se aquele em quem não acreditam... Fica marcado e fica fato consumado a pessoa ser apresentada como não confiável. Uuu! Pesado... Não. Quem mente torna-se... Exato. Mentiroso. É difícil desgrudar deste rótulo grudento e ninguém gosta de rótulos. Não diga mas é uma mentirinha só... Mentirinha, mentirão... É tudo mentira... certo...

Mas, mesmo assim é uma sociedade da mentira a qual somos vendidos. Ambição para ganhar mais e mais e trabalhar mais e mais para mais trabalhar, claro. Nada de usufruir do furto fruto de tanto trabalho, no futuro quem sabe... Não tem aquela frase clichê...? O futuro é agora...? Bom, daí devem vir as mentiras e o vazio formado entre as pessoas e entre o mundo por onde passamos. Estamos sempre nos preparando para o porvir e o agora? Este nosso automático consumismo, esta nossa fuga para as frustrações de algumas outras mentiras contadas a nos impedir de ver além das mentiras protegendo os seres falsamente frágeis por trás delas, nós. E nos dizemos tão inteligentes...