8 as nuvens têm seu tempo de passagem concordado com os fragmentos do vento... Captei no meu céu natal.
por Rafael Belo
Uma vez escrevi sobre o tempo e seu significado. Lembro minha reflexão central do tema: O mundo é o tempo do nosso pensar. Desde então a desculpa do tempo deixou de sê-la porque tempo não é desculpa. Como uma definição passei a torcer os lábios a toda demonstração desta ‘razão’ para não fazer algo. O maior motivo é o fato de nos ocuparmos tanto com formas diversas de ganhar dinheiro para não o utilizarmos da maneira querida.
Cansamos, precisamos dormir, necessitamos de uma fuga ou parafraseando a ironia de Bandeira em seu “Poema tirado de uma notícia de jornal”: viver era entrar em um bar, beber, cantar e dançar... Fora isso eram uma morte simbólica e um cotidiano tachado pelo tempo sobre taxas de uma realidade tarimbada pelo João Gostoso do poema. Viver para trabalhar, trabalhar para viver parece passar pelos olhos dos trabalhadores a cada manhã como se o tempo nada fosse a não ser um castigo, uma repetição até aquele viver.
Tudo passa com o tempo, pois este está no caminho, mas não significa esquecimento nem distância é mais uma constatação a dizer sobre os passos seguintes e isso pode demorar mais ou demora pode ser apenas uma relativização simplista demais. Voltando ao nosso pensar do primeiro parágrafo, este relógio biológico inerente a nós vem e vai daí. Nosso humor e dissabores diários dependem das nossas idiossincrasias e então o tempo pode nem existir.
Não posso ver o amanhã por ele acontecer a todo instante antes de se tornar presente e correr para o passado nesse meu tempo. Sirvo-me do relógio para saber em qual momento do dia vivo e nem sempre isso acontece enquanto trabalho na profissão escolhida porque preciso dos meus momentos comigo, dos meus momentos com os outros como necessidade para respirar e perder a respiração. É a precisão de independência a se manifestar de forma diferente em cada tempo onde somos nós. Espaço aonde nem nós nos controlamos, apenas fluímos.