domingo, dezembro 18, 2011

O casal na terra dos pelados



Trilha do miniconto - O Casal na terra dos pelados - música Pelado - Ultraje à rigor

(*As flores despidas e os espinhos também ,vestí-los seria a nudez)
Foto e palavras: Rafael Belo

por Rafael Belo

Pelados. Assim eles se viam pela primeira vez. Eles desejavam se verem nus com a mão no bolso antes do atracamento fulminante do melhor encaixe da vida deles. Mas, para nós seria engraçado o conceito de pelado dos dois, afinal, eles passaram a vida toda isolados em uma comunidade nudista dos tempos dos primeiros índios amazônicos.  Não havia novidade nenhuma balançado por aí, por ali, por aqui... Ninguém ficava com uma mão na frente e a outra atrás, roupas para eles eram novidade. Logo nos primeiros dias eles decidiram não fazer sexo explícito em público como era costume entre os outros. Mas outras duas decisões os fariam serem expulsos – algo nunca antes ocorrido na história destes descendentes dos tempos.

Tentaram algo novo, manter a relação entre os dois apenas, a poligamia à céu aberto até os reprimia. Mas, o jorro em êxtase das fofocas na comunidade surgiu antes destas duas decisões... Veio logo da primeira.  Eles não passaram a noite entrelaçados com suas genitálias proeminentes... O choque foi total no lugar mais sem privacidade do mundo. Fizeram o pior. Passaram a noite silenciosamente se olhando detalhe por detalhe insones. Nem as orgias, ménages, grupais e todos os seus sons povoadores pareciam chegar até eles. Eles haviam sido corrompidos, mas como nunca antes na história desta comunidade isto havia ocorrido. Decidiram esperar, afinal só podiam ser os espasmos da juventude inexperiente.

Toda a comunidade decidiu insonemente acompanhar o mais improvável: O Casal.  “Um casal? Só duas pessoas em um relacionamento. Como chama isso lá pela terra dos ‘pelados’... Mono... Monoga... Monogamia?! É isso!? Que cruel Que absurdo!! Eles não se tocaram ainda?! Vamos ter... Teremos de... (Longo suspiro seguido de silêncio gerais) Vamos consultar o livro dos primórdios?!” . E lá dizia: “aquele nãofornicador não é de pertencimento desta Comunidade, aquele não gerador de prole logo no primeiro contato pode contaminar toda a Comunidade e levá-la a novas sodomias e gomorrias terminando assim com o fim da nossa Comunidade”. As palavras lidas em voz altas despertaram o furor assassino de tubas reunidas e também das duas mães e os inúmeros possíveis pais – afinal este sentimento ainda não era selvagem.

Em algum lugar enterrado por décadas estava um guarda-roupa pressurizado a vácuo. Só estas duas mães guardavam o segredo. Fizeram os homens cavarem por horas, não sem antes fazerem estes encontrarem o... ooo.. o.. o Casal. O Casal estava por perto, mas escondido por precaução. De onde estavam todos escutavam a destruição da Comunidade a procura do... do.. do.. Casal que afinal ‘lhes pertencia’. Quando chegaram ao ‘tesouro’ fecharam os olhos e vasculharam às cegas. Tatearam duas pequenas malas e ainda na escuridão chamaram O Casal e passaram o tesouro para estes, não sem acrescentar secamente: ‘Corram por suas vidas, mas algo me diz para utilizarem este conteúdo assim que saírem de nossas vistas’.  As mães e os prováveis pais fugiram para o  lado oposto tomando rumo desconhecido. O Casal se despiu pela primeira vez e descobriu aquele desejo de sempre se verem nus com a mão no bolso... Não demorou muito e o atracamento fulminante encontrou ponto seguro onde começaria uma Nova Velha Comunidade.

2 comentários:

Luna Sanchez disse...

Rs

A moral ao avesso.

Prova de que o respeito à opinião alheia é essencial sempre, néam, Rafa?

Muito criativo, gostei.

Um beijo.

Deise Anne disse...

Em alguma dimensão, eles são adão e eva. rsrs

ótimo dia, querido!

Boas festas!

Beijos