Coma
por Rafael Belo
Ela despertou de
repente. Não era ela. Mas no fundo dos olhos se enxergava. Nenhuma de suas
lembranças tinha vínculo com este corpo. Quantos anos tinha?! Não era 20?!
Porque este corpo de 30?! Quando se esforçava para lembrar sua última
lembrança, apenas vinha a palavra como uma ordem. Hummm... Nãooooooo! Como
uma su- ges-tão. Uma repetição cansativa e exaustiva coma coma coma... Depois a
imagem de suas mão selecionando diversos tipos de alimento e em seguida a
lengua-lengua alucinante: coma coma coma...
Sua cabeça doía muito e sua visão turvava. Depois ficava tão
tonta, mas tão tonta a ponto de acordar muito tempo depois com hematomas e
prometer não tentar se lembrar. Por todos os indicativos lembranças doíam. Mas,
como todo ser humano ela precisava lembrar, nem se fosse para esquecer. Sua curiosidade
sobre si mesma diante de toda aquela ala branca vazia e sem energia a estava
deixando realmente fora de si. Onde estavam todos? Por que tanto silêncio? Afinal
onde estava? Um calor abrasante a fazia encharcar seja lá o que fosse o que a
cobria...
Pensou em fazer o básico. Aliás, atender as necessidades básicas
do corpo. Ao se despir para tomar banho se retraiu de imediato com o reflexo do
pedaço quebrado de espelho. Ela estava cheia de cicatrizes. Estavam em fase de
assimilação, ou seja, estavam sumindo, mas lá estavam... Decidiu fazer uma
cosia de cada vez e se preocuparia com isso depois. Abriu umas gavetas até
encontrar uma toalha limpa. Abriu o chuveiro e esperou. Depois de muito barulho
uma água vermelho-marrom começou a jorrar. Meia-hora depois a água clareou e
ficou com sabor de água, ou seja, nenhum...
Bebeu e se lavou. Ouviu um som próximo, se assustou,
escorregou, bateu a cabeça e apagou. Como se a água a levasse às suas
lembranças adormecidas ela mais uma vez despertou, mas com milhares de imagens
e milhões de sons. Levantou-se atônita e voltou para seu leito. Sim ela estava
em uma ala psiquiátrica. Sentou e viu o avanço tecnológico daquele lugar que. Havia
um estoque de alimento líquido e o conhecido soro, trocado automaticamente...
Afinal ela precisava ouvir uma voz e resolveu falar em voz alta suas
lembranças. Comi algo que atacou minha saúde e me induziu ao coma por dez anos.
Ouvi vozes e mudei sem viver de verdade. Fui mantida viva... Por quê? Doía sua
cabeça seu estômago seus olhos, ela iria desacordar novamente...!
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