segunda-feira, janeiro 21, 2019

Despropósitos







por Rafael Belo
O vazio cresce sem controle. Vejo tanta falta de objetivos reais. Pessoas enraivecidas no trânsito, mortes por nada e ainda nos escondemos atrás do fútil, do banal em todo tipo de coisas minúsculas e materiais que acabam. Não valorizamos o outro, desperdiçamos nosso tempo... Poderíamos nos unir e fazer tanto por tantos, mas não. Vivemos digitando, registrando, distantes e usamos o espiritual como barganha para algo que queremos. Estamos tão pequenos que já não é uma questão de cegueira, realmente não podemos ver mais. Não somos visíveis à olho nu. Somos um acúmulo de despropósitos nos levando a todo tipo de doenças e distúrbios mentais. Somos ansiosos, depressivos e imediatistas.

Nossos propósitos são carnais, são de pele, são de sensações, fogem ao chegar ao fim porque focamos em algo que perpetua nossa insatisfação. Queremos mais e mais em uma gula material orgulhosa, avarenta, preguiçosa, raivosa, invejosa e com todo tipo de luxúria. Ou seja, passamos do ponto ou desistimos antes de chegar nele. Espiritualmente falando nem se sabe mais se temos medo do inferno ou de simplesmente de não ir para o céu. Seja na versão católica, protestante, islâmica, budista, umbanda ou a crença que cada pessoa possui no que lhe é mais aceitável. Porém, se olharmos bem transformamos em um comércio, um mercado de troca de favores... Quando o cerne de todas é não julgar, não dar às costas... é o Amor.

Este Estado de evolução ainda não alcançamos porque queremos as pessoas para nós, queremos retribuição, reciprocidade, não aceitamos simplesmente que o outro esteja bem, feliz, alcançando as conquistas sem nós. Temos este amor minúsculo que é facilmente chamado de sentimento de posse. Nos falta gentileza e paciência. Nos sobram desculpas porque nos transformamos em raspas, restos, migalhas, em mentiras sinceras de interesses. Este engano constante ao qual nos sujeitamos diariamente acaba explodindo. Somos pessoas-bombas porque nossa alma nos escapa. Vivemos tratando o corpo, destratando o coração e nem percebemos para onde está indo nossa alma.

Desalmados, somos frágeis em uma falsa carcaça forte e determinada. Ficamos agressivos, violentos, nosso psicológico chora ao anoitecer, no debandar das pessoas, quando no momento de desespero só temos nós mesmos e apelamos ao que possa estar nos ouvindo. Nesta nossa hipocrisia acabamos nos agarrando a defesa de uma causa, uma entidade ou uma pessoa e colocamos à nossa frente cegamente sem questionar arrumamos justificativas, justificando os fins pelos meios e maquiando isso de um propósito. Quando aceitamos que este propósito é um despropósito e acaba, voltamos a nos perder e procurar outro despropósito parecido. Não enxergamos o todo, não vemos os detalhes, não ouvimos nossa intuição e nos agarramos a um algo qualquer capaz de nos trazer satisfação imediata.

Então, estamos desgarrados, sem um propósito sequer... Esta é nossa tristeza, nossa crise existencial porque sem propósito questionamos a nossa própria existência. Eu acredito sermos bem mais. Eu acredito termos propósitos espirituais. Eu acredito sermos seres espirituais em uma experiência carnal e enquanto esta frase forte, de impacto, não for ação continua a ser hipocrisia.

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