sábado, maio 23, 2020

A mudez (miniconto)









por Rafael Belo

A mudez é total. Até os animais emudecem quando o Silêncio fala. Espalha-se pelo mundo. Nada foi combinado. Pelo contrário. O combinado era fazer muito barulho, invadir, derrubar, ocupar, substituir… Até milhares de pessoas começarem a morrer diariamente sem qualquer ação eficaz para mudar a situação.

Agora, tantos anos depois, O Silêncio vem falar com a gente. Nos conforta… Mas quem não tem conhecimento, quem não lê, quem não busca, quem não trata com igualdade tudo e todos, enlouquece. Desconhece e não difere palavra minúscula da Palavra maiúscula. 

Com Nova Normalidade, a realidade seria desconfiar sempre. Mas, quem compreende o Silêncio, quem ouve e participa deste diálogo, sabe em quem confiar. Mesmo com os caos e mortes terem mudado o comportamento humano, principalmente dos brasileiros.

Fomos isolados. Somos párias mundiais. Traidores da vida… Alguns países nos acolheram, mas com três principais exigências: despatriar do Brasil, tornar-se cidadão natural do país em que estava e não ter qualquer contato ou fazer qualquer menção ao país de origem. Assim, o Brasil foi esquecido. Não consta em mapas, é área escura de satélites, tem barreiras impenetráveis camufladas com árvores geneticamente modificadas extremamente venenosas. Elas são fatais ao toque, mas para isso teria que ser possível se aproximar vivo…

Quem se lembra do Brasil, como eu, não pode falar sobre. Tem que se manter na Mudez. Nós, ex-brasileiros, nos reconhecemos apenas pelas artes e cultura que possuem uma linguagem secreta para manter nossa origem viva e nosso plano de retorno em construção.

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