quarta-feira, setembro 12, 2012

Miniconto – Pequenitude


por Rafael Belo
Ele estava preso em suas orgias trabalhistas de horas extras e coberturas. Passava 24 horas recebendo novos trabalhos, novas encomendas e virava as noites se arrastando entre um serviço e outro assombrando seus sonhos com os barulhos de suas correntes, afastando a vida com os sustos de suas ausências. Era tudo para uma vida – esta da qual não participava – ser melhor. Era um receber sem comer direito ou se alimentar demais. Era um receber sem destino, pois, o futuro vinha, ia e no fim não chegava. Ele se consumia feito um canibal capitalista lendo era uma vez...

Leitura esta a beirar a indecência capital no escravizar a um dinheiro a o desejar de tal forma e com tamanha lascívia a deixar o ultraje rigoroso profundamente envergonhado. A imoralidade não custava, recebia. Neste constante receber a prisão uivava por mais, mas era destemperada e ele sabia não ter sentido... A anestesia não permitia quaisquer percepção, sensação e entendimento de toda aquela atuação vívida se desfazendo feita a verdadeira miragem diante dos espelhos. Enfeites do encontrar desencontrado de um despedaçar de um ser não juntado.

E... Aqueles olhos se esvaziavam ao encontrarem seus escuros e obscuros reflexos apáticos em um encarar oco ecoando um vácuo entre um receber e outro. Um despropósito inconsequente de um planejamento arbitrário para uma vida futura, para a ausência presente, para uma negação confusa significando o querer sempre receber. Desconhecendo o distante doar enterrado em algum coração vagando em um deserto de mágoas irreconhecíveis sob um teto de ovos apodrecidos na delicadeza de soltar o verbo correto, desenhar o sorriso da alma, apertar o abraço da sinceridade acolhedora... No haver das entranhas...

Havia um entranhamento visceral tão estranho a ponto dele não existir... Pelo menos ele era invisível fora de suas funções assinadas na carteira de trabalho. Por dentro sua pequenitude sofria o efeito da gravidade em um abismo sem fundo, em uma ilusão encontrada matando a sede na lagoa do oásis. Sobre estas águas alusivas caminhava sua sombra. Um fantasma de si procurando voltar a si...  Ao longe vinha um acolhimento. Eram vários encontros possíveis passíveis do, então, estranhamento. Mas as reações nunca eram medidas ou especuladas e uma arma carregada surgiu diante do armado abraço. Foi um som seco, uma queda sem quique e até ao amanhã as correntes tilintam.

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