Por
Rafael Belo
No domingo o almoço costuma
ser mais tarde então, antes da 13h, eu ainda faminto, seguia para casa quando vejo
um senhor premeditado pelo cheiro alcoólico no ar no meio da Avenida Albert Sabin.
O primeiro dia da semana parecia o esquecimento. Os carros desviavam e ele
esbravejava como se não fosse um obstáculo, mas a própria rua. A frustração
podia ser sentida. Não dava para ter certeza se o efeito do álcool era
permanente de quem sobrevive às ruas ou de quem costuma ceder ao vício ou ainda
a vontade do entorpecimento. Talvez a certeza fosse a dúvida de como ele
terminou por ali.
Podia ser um parente meu ou
seu de milésimo ou primeiro grau, um amigo, um conhecido, uma vítima... Mas
nossa demagogia nos mantém distante. Ficamos desviando do estender da mão
verdadeiro e do abrir do ouvido atento. Quem consome bebida alcoólica ou se
reconhece ou deseja nunca o fazer, mas na superfície prefere mesmo ignorar e
esquecer antes da próxima esquina. Bem ali no meio da rua podemos até reprimir
a situação lastimável, porém se nos colocarmos no lugar, para onde voltaremos?
Quem sabe chegaremos onde
está o bom senso. Lá podemos nos perder nesta perdição porque nem ao menos
sabemos se o bêbado no meio da rua procura bom senso ou se dirigimos em busca
deste. Não reconhecer pode ser o mais aceitável, mesmo se este tal de... For o
corpo estranho dentro dos nossos olhos. Quanta dor pode ser entorpecida e por
quanto tempo? Esta nossa
vontade de ignorar, esquecer, entorpecer... Não pode ser antagônica ao paradoxo
do bêbado no meio da rua.
Então, somos este cheiro etílico pairando no ar seco, envoltos a um
mormaço angustiante sob o sol incandescente. Quase metáforas irônicas sem
sentidos funcionais capazes de entrar em combustão por um pouco de nada. Diante
de toda uma semana a percorrer dentro de uma crise identitária, ficamos a mercê
de decidir o quão bêbados equilibristas estamos dispostos a ser, bem ali no
meio da rua tentando não cair da faixa contínua totalmente em chamas.
3 comentários:
E o álcool devora neurônios e escolhas...
é ... e ás vezes o embebedar dos outros resulta na nossa embriaguez! obrigado Lele!!!
O bêbado,quando sobrio já vive se equilibrando,porque é um cidadão brasileiro,talvez está seja a causa da sua embriaguês.Mas o conto diz da indiferença nossa ao ser humano quando se encontra neste estado lastimável.
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