quinta-feira, abril 23, 2009

Som do vibrar(Foto by Rafa Belo - é o Robby Krieger)

Vibram os mais mortos dos corpos
Ouvem os ouvidos mais surdos
E não há mais idades no brilho dos olhos
A alma é atemporal o coração musical
E o corpo uma mera ilusão
Cantando uma canção antiga
Sorrindo para os calos da vida
A deixar de existir então

Vibram os mais frios dos graus negativos
Sentem as peles mais insensíveis
E não há nada a atrapalhar a música

Cantam os impossíveis no ritmo dos invisíveis
E o povo na efêmera massificação
Trazendo o novo para o que não foi
A estrelar a estrela de todas as noites de reflexão

10h53 (Rafael Belo) 23.04.09

quarta-feira, abril 15, 2009

“O feriado” novo

por Rafael Belo

Minha mente às vezes está em tantas partes e com tantos Cosmos gritantes, que só posso sorrir. Nestes dias é como se eu estivesse contendo novos mundos em contrações para nascer de imediato – ou renascer posto a Páscoa. Estou inquieto prestes a acontecer. Me coço me impaciento, olho para todos os lados atento e às vezes sem olhar ouço, vejo, escuto, sinto... É o parto mental nietzschiano, mas terei anestesia ou terei me acostumado com qualquer dor? Claro, só porque pareço não a sentir... Pareço aumentar novos sentidos e as coisas do mundo falam comigo. De alguma forma tudo ficou lento e eu estou na velocidade máxima, sozinho. Ansioso por me acompanhar e me vendo afastar. Novos braços, novas pernas, novos olhos, novas bocas, novos ouvidos tudo em sinestesia, tudo tão claro. Minha mente não me deixa parar. Crio mundos em silêncio e controlo o que penso para calar ao dizer de outras formas, livre. Mas, nem sempre tenho controle sobre meus mundos. Que mundo tem controle, afinal? Nem os que são controlados.

Então, vejo repetir “o feriado” nos sites, na tevê, nos jornais, nos rostos das pessoas e nas igrejas. Não tem o mesmo significado, mas tem. Desenho. Ainda é ressurreição daquele terceiro dia quando o corpo se reunificou com o espírito, ainda é o êxito do êxodo dos israelitas quando fugiram de Ramsés II, da escravidão para a liberdade. Esta é a Pessach do hebraico. A passagem. Passamos... Mas, um fim de semana prolongado. O quê ficou? O quê foi esta Páscoa? Como as coisas deixam de ter sentido com o tempo e como deixamos isso acontecer. Mas não controlamos nada mesmo por muito tempo, o tempo todo então... Ouvi na rádio pessoas que desconheciam o significado do feriado, mas é de praxe que não seja o único e o mesmo “despadrão” prosseguiu na maioria dos canais zapeados da quinta-feira à noite.

Foi “o feriado” novo. Nele vi de uma forma diferente a Páscoa que simplesmente passou. E na segunda-feira parece que nada aconteceu e os mesmos comportamentos da dita hipocrisia e sobraram alguns “magros” chocolates. A passagem da Páscoa... Sendo religioso ou não, é história e de história sempre há de ficar algo. Passou rápido demais, mais um dia de folga... Não... Não consigo ver assim. Vi meu terceiro dia, comi chocolate – muito – mas me senti passando da vida para morte, da morte para a vida em um ciclo de liberdade. Nada fatídico, nada fenomenal, uma experiência pessoal com a transcendência das idéias e o calor da família. Nada passa se você viveu de verdade o passado - ou passa?

segunda-feira, abril 13, 2009

Esvaziar

Há tanto na cabeça conectada
Aos plugues do som sinfônico
Com a melodia das sinapses em expansão
Como um Cosmos infinito de Big Bangs mentais
Nos pensamentos atômicos transcendentais a explodir o silêncio
Feito um atentado da negação de criar no instante

A parecer raiva, a energia locomotora de inspiração
Inquieta dentro da alma chocando forte um coração de pensamentos
Enquanto muitos nãos retêm a arte para amanhã
Música letras, ataque defesa se unem para ontem e nascem depois

Há tanto na cabeça explosiva enviada
Para todos os sentidos aguçados famintos e sedentos demais
Apurando o redor como uma caça pela vida
Fechando os olhos e arrepiando a mente
Cheia de sentido, repleta de ilusão

11h13 – Rafael Belo – 13.04.09

quinta-feira, abril 09, 2009

Espera

Há chamas nesta neblina úmida
Incendiando-me de cegueira

Há instintos, moral, dinheiro e o dever
De vê-los, sei o que fazer, mas o que farei?
Vago na neblina, em chamas

Minha voz, sem som e estou vago
Não vejo quem me vê, cegueira coletiva

Deixei-me lá, crepitando
No meio de todos, sou pensamento
Luz, vácuo, escuridão com pressa

E o tempo não esperou, ficou cinza
E não olhou para trás

14h45 (Rafael Belo) 27.03.09

quarta-feira, abril 08, 2009

Colarinhos brancos da vida

por Rafael Belo

Cela no senado? Onde mais, não é?! A maior lógica de todos os tempos. Um prêmio para ela. Claro que vai ser mero enfeite, porque sonegadores, fraudadores, “caixadoresdois” e demais eternos reeleitos e colarinhos brancos vão e vêm das prisões como um ensaio da prisão ou apenas da simbologia de ser preso. A explicação é que a estrutura serviria para abrigar quem cometesse delitos na casa. Uau! Perfeito. Está realmente no local mais adequado. O eufemismo da prisão senatoria é sala de custódia?! Aonde fica a sala de justiça?! Alguém chame a liga de super-heróis... Por isso o Brasil vem com piada pronta como diz Zé Simão. Otaviano Costa pensa como eu, para que perder tempo com a construção? É só espalhar barras pelas janelas e portas, assim só sairia o “presidiário” com bom comportamento aprovado. Os pequenos colares brancos dos burguesinhos empáfios têm sempre um final feliz seja lá o que for felicidade para eles – ou para nós.

Outros crimes de lesa-pátria cada um deles tem ou terá o seu. No senado são cerca de mil ocorrências por ano, porém, nem todas levam o infrator à sala de custódia que cabem três pessoas. E se houver superlotação. Temos que lembrar que são 300 senadores? E a mágica da ilusão, bem redundante mesmo, de cortar só 50 diretorias das 190 ou seriam mesmo as 181 no senado como “corrigiram”. Depois disseram extinguir mais 50 e o que fazem todos os diretores lá sem diretoria... Ficariam 81 diretorias ou 90? Bem, então finalmente disseram que são só 38 diretorias... Engolível o número, mas, não a informação, todo o resto são títulos disseram, chega de títulos então... Diretores que se dirigiam, o sofisma como disse Noblat, parece belíssimo. Somos trouxas certo? Diriam que já é um começo a aceitação... Pensem, diretores de: “Check in”, “garagem” e “autógrafos em atas” são os menos chamativos.

Ninguém foi afastado ainda ou deixou de ganhar a gratificação, são diretores gratificados de nada. Foram os publicitários que inventaram essas diretorias? Ou foi um concurso de criatividade? Enquanto suspensa para análise da necessidade da construção... Alguém tem alguma dúvida da necessidade...? Mas, ainda sou a favor de transformar o senado em uma prisão, pois, francamente, três pessoas em uma cela é um bom mito grego. O Senado da Roma antiga e antes da Grécia antiga elegia imperadores e 81 senadores, três por cada Estado. O nosso “elege” um monte de leis que ficam circulando lá por anos - e por que não décadas?! -e não chegam a ser sequer analisadas ou a público. Tenho a “leve” impressão que estamos presos a um passado recorrente sem sequer tentar algo novo não tentado naquelas épocas. Será uma cela nossa democracia em uma sela sobre nós?

Afinal, somos só nós os presidiários? Diria pode ser, mas, “pode ser” são dois verbinhos sem vergonhas... Ah... Suposições me irritam. Não, não me irritam. Mas, não acredito no “poder ser”. “Pode ser” que já estejamos todos gagás a ver o senado lá da Grécia antiga ser um covil como era, aliás, senado tem origem etimológica da mesma palavra: senil... É do latim senex que é igual a velho. Nada contra os idosos também quero chegar lá, mas de sabedoria estes “nossos do senado” só tem o bolso. Li a seguinte frase em um livro sobre a mentira: George Washington não diria uma mentira, Richard Nixon não diria uma verdade e Ronald Reagan não saberia a diferença entre elas. Falando em Washington este discutia com Thomas Jefferson, certa vez, sobre o senado e Jefferson interrogou o motivo de Washington ter derramado, propositadamente, um pouco de café no pires. A resposta foi que o processo auxiliava a resfriar mais rápido o conteúdo da xícara tornando-o degustável, ouvindo o que queria Jefferson disse ser o senado o pires para resfriar os ímpetos revolucionários populares e gerar o equilíbrio necessário para a vitória de um regime político democrático. Idos da criação da Constituição Norte-Americana. Nós, ao Sul, ainda nos encontramos nos achados e perdidos...

terça-feira, abril 07, 2009

Cópias


O balir de bailar a música hipnótica em ótica
De não entender o que enxerga
Vai nas superfícies, escondidas
em profundidades, confusas
sem saber o som saído, ao balir

Entre lobos e cordeiros, há troca de peles
Os cordeiros, em matilha, fingem uivar da lua
Os lobos, ao balir de seus rebanhos, simulam pastar, sem fugas
E quando o luar vem cheio, os dedos mudam
Não há origens, nem originais
Há cópias de seres, humanos
Apontado, para o outro

14h30 (Rafael Belo) 27.03.09

segunda-feira, abril 06, 2009

Menos

Ninguém se virou, enquanto a destruição seguia
Lenta e sistemática entre mentes da orgia democrática
Sem vestígios da democracia bradada, atrás de palavras

Entre povo e poder, há quem manda
Sob uivo de cordeiros covardes
Os círculos se formam e terminam no mesmo lugar
Mas, não foi bom caminhar?!

Sobre carnes artificiais da gula, só há sangue
E palavras mastigadas, de indigestão
Balem os lobos, verborragias
Do momento passado, do momento seguinte,
onde não somos mais, nem mesmos

14h15 (Rafael Belo) 27.03.09

sexta-feira, abril 03, 2009


Criança cruel e seus brinquedos

Por Rafael Belo

Senti-me adulto quando a infância tentou me derrubar. Era apenas mais um dia de sobrevivência na selva urbana nos devorando sem sabermos ao certo. Mas, uma súbita clarividência me afetava dias antes de me defender perante o tribunal de ninguém e colocar as palavras e as imagens nos devidos lugares. Fui absolvido. Mais que isso, a selva se tornou mais interessante como se eu fosse um mosquito vegetariano em toda parte.

Sugava imagens e sons sem zunir ou não estava ali para quem me visse. Silencioso e calado. Quase uma abelha com silenciador, já que estamos nos insetos e tive uma vontade incontrolável de polinizar. Como no Bee Movie a morte das abelhas significa o fim de tudo. A morte sem sentido, por uma decisão sem medir conseqüências a quantidade de afetados, leva a um suicídio coletivo inconsciente. Como se o ar fosse tocável.

A rasteira da infância não mexeu com o meu físico, mas meu psicológico gritava por revanche. Não havia reação, era continuar e melhorar a captação de sons e imagens com uma adaptação de ferroadas que não levassem minha vida. Em uma sociedade da mentira, há um monte de mentiras. Faltam adultos que saibam cair das árvores ou deixar de ser verdes. É uma selva falsa que pensa saber rugir e caçar solitariamente fazendo aliados duvidosos.

Sabia o que aconteceria daí por diante, aliás, a clarividência súbita já me “premonia” disso. Alguma retaliação deveria ser feita, mas era racional demais para permitir transparecer qualquer coisa e analisei palavra por palavra quando a selva me disse do ataque espreitado que tomei no mesmo dia em que era uma ave emplumada repetidora de reações alheias. Foi o derradeiro ultimato. Lembrei de dias antes quando estava vestido de outro.

O tribunal era escasso e só havia eu e o juiz. Um olhava nos olhos que desviavam e outro desviava dos olhos que olhavam. Houve um tremor intenso e insano dentro de quem olhava. Algo mudava no mundo e um envelhecimento centenário se formava nas olheiras. Passaram-se anos naqueles minutos derramados e acelerados em um coração passivo para quem não o via e tão ativo e insuportável de conter para quem enxergava que iria adiante formando novos continentes. O mundo é uma criança cruel e gozadora inconseqüente.

quarta-feira, abril 01, 2009

Jovem envelhecer


Envelheceu o tempo renascido, no mundo de ilusão
Não se passava pelo ar, ele nos retia no vazio
Não havia mais espaços disponíveis, para os de fora
Nem um passo a frente nem uma palavra atrás
Era a prisão aérea no solo, sem moral

Em sequência, Sibilava silêncios
Em dúvidas em defesas, atacados
Atados a golpes baixos estremecidos
Entorpecidos de qualquer revolta mal-resolvida
Amortecida pelo impacto não visto, mas assinado

Com tinta invisível simulada, alérgica
Métrica pelas medidas sem volume, anunciada
Pelas vidas nubladas no céu escuro, mormaço
De um leve amasso profundo de antigas crenças, no mundo
A girar para o mesmo ponto humano, parado

(Rafael Belo) 09h58 – 1º de abril