sábado, maio 11, 2013

Miniconto - Cidade sem reflexo

Miniconto - Cidade sem reflexo
por Rafael Belo

Havia tanta plástica naquela feiura a ponto de arrepiar o corpo como se algo morto nos tocasse em plena meia noite silenciosa de uma sexta-feira 13 supersticiosa. Era como encontrar no meio da pista um acidente monstruoso e fatal para aqueles com fobia de lugares abertos, fechados, sangue e estradas. Mas mesmo assim era real. Insuportavelmente real e palpável. Esta certo que a estética tem seu padrão e cada um seus olhos para a dita beleza, mas aqueles dois eram o pesadelo de todos, tinham um pouco do medo de cada um. Feito erros impossíveis da criação.

Viviam isolados e a força da atração chamada natureza os uniu. Eram a única companhia um do outro. Podiam até dizer que eram Quasímodos trabalhados profundamente em Jason Voorhees e Freddy Krueger. Estavam à margem de tudo, não exatamente porque queriam ou porque não suportavam o bullying - o que era fato árduo - mas porque tinham vergonha da crueza da própria plástica derretida. Quebraram todos os objetos que refletiam a distorcida imagem possuída, inclusive vestiam roupas com capuz para entrarem na cidade, retirar os espelhos e quebra-los em outro lugar qualquer.

Uma noite observavam a cidade e riam do Amor que retribuíam um ao outro. Eles haviam passado a semana inteira desta maneira. Imaginavam o que ocorria nas festas da Semana da Arrecadação. Enquanto percorriam o olhar parte por parte da cidade, toda detalhada da morraria onde estavam, várias luzes começaram a riscar o céu com uma luminosidade que ligava as estrelas, o firmamento, eles e o chão. Ao chegar nesta última parte um pequeno tremor era sentido. Certamente só por eles... Então um maior e mais próximo caiu perto da concentração de toda a pequena cidade.

Sem sequer pensar, vestiram suas roupas e capuzes ao mesmo tempo que um segundo risco caia do outro lado da concentração como um cerco celeste. Eles sentiram uma vibração e caíram. Levantaram e seguiram correndo para o local. Estavam todos desmaiados como se tivessem recebido uma pancada na cabeça. Após leves sacudidelas começaram a carregar cada cidadão que os temia e desprezava. Mais e mais riscos luminosos bombardeavam a cidade e eles não paravam. 

Quando o último foi carregado até o topo da morraria era como se esses riscos luminosos fossem fósforos acesos jogados em álcool e palha seca. A cidade inteira se consumiu. Simultaneamente acordavam os habitantes... Os sobreviventes procurando entender o ocorrido. Não foram felizes nem ao menos para imaginar o motivo de estarem onde estavam. A cerca de 50 metros, do lado oposto da fumaça, viram dois vultos com formas duvidosas e capuzes se distanciando com o que parecia poucos pertences. Muitos diziam serem herois, poucos vilões, mas aqueles dois sim estavam felizes... Metade pela queima total, metade pelos que não queimaram. 

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