sábado, maio 18, 2013

Miniconto - Cilada do Sonho


Miniconto - Cilada do Sonho
por Rafael Belo
Cilada. Só podia ser. Mas ele ainda não sabia. Estava acordado no sonho e consciente que sonhava.  Cedeu - contrariado - tudo. Não soube dizer não nem a si mesmo. Não sorriu, não abraçou, nem olhou apenas deixou ser sorrido, abraçado e olhado como se fosse um reflexo. Não sabia quem era o explorador onírico. Melhor, sabia, mas preferia sonhar não saber e ignorar. Há muito não dava satisfações de seus feitos e para compensar até assinou papéis de sanidade. Consciente. Ele estava consciente da cilada, mas se entregara. Queria outra realidade naquele sonho.

Quando conseguiu se estapear e acordar do sonho acordado, já era toda a manhã. Sua consciência pesara e pesava como se cometesse suicídio e continuasse lá. O inferno era ele mesmo e um pouco... Bem ele não queria ter a certeza, mas a tinha. E nada tinha de pouco. Pouco agora era ele. Um acúmulo de seu eu cansado. Acordado ele não mais ficaria. O outro ele estava lá com domínio motor e, quase completo, mental. Ele era uma pontinha de sentimentos positivos  sem forças, no momento.

Tinha relances dos olhos, mas sentia tamanha pressão, que não passava disso. Relances. Raros relances. Agora ele era algo adormecido colhendo sobras e restos desinteressados e cheios de boa vontade vazados daquele ambiente hostil e ruim. Ambiente hostil e ruim... Era isso seu... O corpo agora. Ele era um hospedeiro de si. Pode isso seu Juiz?  Agora não adianta questionar. Até porque eu já sei a resposta. Eu sou a resposta. Tomei tanto do meu veneno que me transformei em um conto de fadas às avessas e eu sou o adormecido.

Quando “o que sobrou de bom” sobrevive neste entorpecimento: Prisioneiro de mim. Eu hospedeiro... O hóspede maldito está lá fora e ainda sou eu. Não consigo acordar deste sonho acordado. Estou paralisado, sem foco e sou só uma sensação passageira. Mas, não era assim este eu acordado? Sonhando desperto a minha... A Vida?! Não me reconheço nesta sagacidade malandra acabando comigo. Sou uma sombra dentro da minha própria sombra. Estou de olhos bem abertos, mas não sou eu mais...!

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