sexta-feira, fevereiro 22, 2019

Afasta (miniconto)






por Rafael Belo

A última lembrança eram rastros. Rastros na areia. Meus passos estavam em toda parte. Não sinto ter passado anos em círculos. Tudo parecia ontem. Mas neste longo dia sigo por um caminho diferente, porém a diferença é a  minha atitude. A alteração na chave-geral da minha resistência emocional quase queimou tudo em mim. A cidade está escura e a escuridão total apaga tudo na ausência de resistência por aqui. Assim, sinto tanta gente neste constante desestar.

Há corpos sonâmbulos pensando ser o próprio despertar. Eu estou pensando em quanto e quando fiquei desacordada e disso nada lembro. Nem antes nem durante… Estou neste depois. Sou a energia natural das baterias. Acabei de abrir estas flores. Estou eletrificada. Ando transformando qualquer energia em boas vibrações para mim. Veja como estou arrepiada…! Vou criando transformações e onde elas não tentam me fechar, eu sigo em frente.

Não quero entender qual tipo de Matrix é esta porque está tudo em cinzas. Queimou até tudo ser o mesmo. Não é possível distinguir absolutamente nada. As baterias humanas quebradas na origem, no cômodo acomodado daquele passado repetido exaustivamente enriquecendo as pobres ideias de riqueza e prosperidade. Propriedade humana de um corpo vazio feito de preconceitos e julgamentos. É um stand-by, um estado criogênico reversível, que só eu mulher posso mudar.

Tenho as lembranças de todos e ouço aqui na minha mente definições de preto, negro, carne, mercado, submissão, covardia, gays, gêneros, corpo, peso, raça… Todas as resistências menosprezadas com o emocional reforçado até entre as lágrimas. Talvez eu chore agora com a solidão não permitindo eu me sentir só, mas só sentindo ser tanto e tantas… Nesta exclamação da minha força trarei todas de volta primeiro, depois todos os outros! Urrarei: AFASTA! Será para ninguém e neste depois vou utilizar o desfibrilador na potência máxima torcendo para queimar os neurônios da ignorância e do egoísmo. Por agora, vou agradecer minhas lembranças… Mas já vejo outras despertarem sozinhas.

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