quinta-feira, novembro 19, 2020

Não houve tempo de piscar os olhos (miniconto)

 







por Rafael Belo


Foi como se céu fosse rasgado com um força brutal em um instante sem fim. Tudo ruiu. Todos caíram. Muitos sumiram. Pelo menos um membro de cada família. Mas isso, só foi descoberto dias depois. Era tanto caos quando as pessoas despertaram da queda que pensar doía e só se foi perceber as faltas no momento da reorganização da mente e dos sentimentos. Até lá se perdeu tempo e nada se sentia ou pensava.


Não se via o céu. Nada se enxergava à frente. Era uma coleção rara de esquecimento habitando nos restantes. Febre, mal-estar e dor inimaginável percorria os que restaram. Era assim que chamavam uns aos outros… Mas cada vez que pensavam em equilíbrio e em como ser justo mais fazia sentido a situação.


A mente clareava, o coração falava e tudo era possível ver. As conexões se estabeleciam. Havia reconhecimento e já não havia a pessoa ali no momento da aceitação. Mas, antes gritos incontroláveis cortavam tanta cegueira vindos de todas as partes. Eram aqueles que não aceitavam. Aqueles que falhavam no último processo. 


Só quem já não estava ali enxergava. Entendia não poder intervir. Cada um tinha seu momento de escolha. Havia lágrimas escuras da cor de um horrendo odor pairando denso, áspero e barulhento na dominação daquela terra já perdida. Era exatamente A Terra agora se abrindo com o som sangrento aos ouvidos repetindo o rasgar dos céus. Não houve tempo de piscar os olhos diante do fim iminente. 

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