quarta-feira, novembro 04, 2020

Estamos indo repetir nosso fim






por Rafael Belo


Estamos em uma sociedade culposa às avessas, ou seja, que tem intenção de fazer o que faz, mas finge demência. A injustiça reina nas brechas da lei, na imoralidade e até na amoralidade pregadas como liberdade de expressão. Os limites foram esquecidos em algum tapete perdido encostado em qualquer lugar varrido para baixo de outro esconderijo. A Justiça é minúscula e parcial diminuindo todos os que deveriam - por lei ou por consciência - serem iguais. A verdade é que tudo feito às escondidas antes, agora é exposto com orgulho.


É vergonhosa a desigualdade e a exclusão ensinada longe de quaisquer faces do Amor. O medo está mais forte na atuação dos nossos governantes, na imposição dos líderes ou simplesmente daqueles que falam enquanto outros calam. As conquistas da humanidade sempre chegaram atrasadas no Brasil, mas o retrocesso sempre chegou antes do entendimento dos acontecimentos. Assim, na hora das injustiças brilhamos em descaso, covardia e humilhação. Inventamos um crime. Estupro Culposo jamais será aceito. 


A legalização de tudo no Brasil depende de quem privilegia.  O voto feminino aconteceu em fevereiro de 1932, mas somente para as mulheres casadas e com autorização do marido, viúvas e solteiras com renda própria estavam previstas no Código Eleitoral, baseados no Estatuto da Mulher Casada, onde a mulher só podia fazer o que o marido permitia. Apenas em 1934 acabaram todas as restrições e em 1946 a obrigatoriedade do voto alcançou plenamente as mulheres. Nesta época já haviam passados 12 anos da única e primeira mulher eleita deputada federal, a médica, escritora e pedagoga Carlota Pereira de Queirós. Ela também foi a única mulher participante da Assembleia Nacional Constituinte (responsável pela Constituição de 1934).


Ainda assim, só na Constituição de 1988 os direitos das mulheres ficaram realmente garantidos. Esta repressão patriarcal machista voltou sem precedentes lembrando a filósofa existencialista, Simone de Beauvoir. No livro O segundo Sexo, Simone de Beauvoir diz:  Em verdade, a natureza, como a realidade histórica, não é um dado imutável. Se a mulher se enxerga como o inessencial que nunca retorna ao essencial é porque não opera, ela própria, esse retorno. Os proletários dizem" nós ". Os negros também. Apresentando-se como sujeitos, eles transformam em" outros "os burgueses, os brancos. As mulheres - salvo em certos congressos que permanecem manifestações abstratas - não dizem" nós ". Os homens dizem" as mulheres "e elas usam essas palavras para designar a si mesmas: mas não se põem autenticamente como Sujeito.


Somos sujeitos aos desmandos e injustiças, mas a fé sim salva. Fé e esperança com atitude e posicionamento na realidade. Então, ainda há quem se escore pela diferenciação de tratamento entre gêneros na Bíblia. Basta lê-la para saber ser ao contrário. Em Deuteronômio 16:19 está escrito: "Não torcerás o juízo, não farás acepção de pessoas, nem tomarás suborno, porquanto o suborno cega os olhos dos sábios e perverte as palavras dos justos." Sabemos bem qual caminho tomamos e para onde tanta desigualdade e humilhação nós leva. Se não sabemos, já chegamos ao lugar onde todos estão se permitindo ir.