por Rafael
Belo
Prestar atenção deixou de
ser de utilidade pública nestes nossos idos anos. Olhar nos olhos e enxergar os
detalhes na face é raridade digna de extinção. Ouvir e distinguir o significado
do dito pelo não dito já não é mais captado pelo tom. O corpo nunca falou tão
bem quanto agora, mas a surdez de todos os sentidos dessignifica até o
silêncio. Não há mais contextos. A ignorância chegou ao seu mais bruto estado
novamente e as conversas são ensaios de monólogos ansiosos por terem razão e
serem aceitos.
Calar e falar... Tanto faz. A
beleza dos significados parece ter se tornado tão insignificante a ponto da
eterna dúvida sempre estar no apertar e morder dos lábios, no espremer dos olhos
e no erguer das sobrancelhas. Mas, isso não diz nada mais. Os detalhes se
profissionalizaram e abandonaram a riqueza popular. Tudo se tornou casca de
ovos e desconhecimento. Nada literalmente, claro... Por isso, ontem quando
observei cada rosto envelhecido sentado, prestando atenção, tive de sentar e
digitar para dividir isso. Ainda há o reconhecimento de todos os tipos de sons e silêncios...
Cada idoso sentado oferecia
atenção de uma maneira própria ou forçada pelo avanço da idade. Alguns nem
olhavam o orador da noite e estavam cabisbaixos. Outros não tiravam os olhos dele.
Uns ainda concordavam, sorriam, se ansiavam, viravam o rosto, tentavam
aproximar o ouvido dos lábios de quem falava. Não era dispersos de maneira
alguma. A vida lhes deu o diploma da experiência sofrida. As faces marcadas demonstravam
suas lutas. Cada sulco, cada ruga, cada olheira trazia uma história pronta a
ser contada.
Quando finalmente chegou o
momento de interagirem com o orador, mostraram a simplicidade do tempo e o quão
pouco é suficiente. Queriam apenas atenção, com isso respeito. Passando a marca
dos sessenta são os mesmos. Os mesmos destes seres conhecidos como eu e você. Mesmo
com toda essa nossa carência e armaduras enferrujadas, porém, reluzentes. Porque
se prestássemos atenção aos nossos próprios sinais e ao nosso redor, poderíamos
ser melhores ou pelo menos tentaríamos ser. Assim, me diz se a vida não seria
outra.
2 comentários:
O mini-conto retrata a velhice,onde as pessoas ficam cada vez mais solitárias.Quando aparece uma oportunidade para elas participarem de alguma atividade,então ficam deslumbradas.
Parece mais uma criança tudo é novidade.
Seus mini contos são para ler, deliciar-se e refletir muito.
bj
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