por Rafael Belo
Para um mundo acostumado a torcer em realitys shows, a
ganância violenta transmitida ao vivo na tarde do domingo (09/12), por longos
70 minutos foi grotesca, chocante e absurda. Aos 16 minutos, mal começados
entre Atlético Paranaense e Vasco, os jogadores pararam para assistir seus
torcedores se espancando em tempo real. A torcida engalfinhada para o mundo
contemplando dor e sangue acompanhava pelas mídias digitais o falso boato de um
morto aumentando ainda mais a tensão. Mas não foi suficiente para encerrem o
campeonato Brasileiro 2013, com tanto dinheiro envolvido, não bastou. O jogo
continuou.
Com resultado de 5 a 1 para os paranaenses, o chocolate em
campo ficou em outros planos, o sangue na arquibancada é destaque mundial e serviu
para mostrar que a lei 10.671 de maio de 2013 é mais um 171 brasileiro. Uma “solução”
que começou a entrar em pauta em 1995, e quase 20 anos depois ainda não saiu,
não foi resolvida. Desde então, pessoas são mortas e muitas feridas, com o
estatuto do torcedor rasgado. Neste o artigo 13 garante: “O torcedor tem
direito a segurança nos locais onde são realizados os eventos esportivos antes,
durante e após a realização das partidas”. As provocações já estavam acalentadas
bem antes do apito inicial do juiz. Mas fica evidente a função do futebol para
emissoras, times e governos. Na época da aprovação da lei, o então ministro do
esporte parabenizou a efetivação da lei e destacou: “É importante não apenas
para o torcedor conhecer as regras, mas para a economia do futebol”. Com certeza
a ênfase é para quem lucra com a arrecadação do futebol.
Tudo que não aconteceu na Arena Joinville, nem há 18 anos
quando começou uma guerrilha em campo, uma guerra campal entre a torcida da
Mancha Verde e a Independente na Supercopa São Paulo de Juniores. De lá até
agora o problema paulistano, chegou a toda parte do Brasil. Na tarde de domingo
milhões de pessoas se aterrorizaram, quatro foram hospitalizadas e três presas.
Onde estão os cadastros atualizados das “torcidas organizadas”, cadê a “central
técnica de informações” para monitorar o público por imagens? Se estivesse
realmente em vigor a lei 10.671 não haveria mais cartazes com mensagens
ofensivas, fogos de artifício e nem "cânticos discriminatórios, racistas
ou xenófobos". Mas a ganância compra os horários... E os tumultos “promovidos
por torcidas organizadas” nem são punidos, pois se fossem, de acordo com a lei elas
seriam impedidas de acompanhar os jogos por até três anos.
Que tal imitarmos os turcos e sua federação? Esta obrigou o
Fenerbahçe a jogar para uma plateia somente de mulheres e crianças até 12 anos
em uma partida oficial de campeonato. Em 2011, no dia 20 de setembro contra o
Manisapor, no estádio Sükrü Saracoğlu, em Istambul. A “punição” foi aplicada
devido à invasão de torcedores durante um jogo pela Copa dos Campeões da Europa
e agressão a jornalistas. A partida teve a torcida diferenciada, mas apaixonada
de mais de 41 mil pessoas que não pagaram ingresso e foi aplicada e outro dois
jogos. Em todas as três partidas a segurança foi feita por mulheres. Claro, que
muitos pagam por poucos e as punições brasileiras (mandos de campo perdidos,
jogos sem torcida, vez ou outra...) não são soluções, só intensificam o
problema. Deve ser pelo lucro... Mudando de assunto, correspondentes garantem que a torcida turca é mais fanática
que a brasileira, argentina... E eis aí a rosa ao invés dos espinhos.
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