Usando os pés e tendo fé
por Rafael Belo
É apenas ir ou vir. Passar ou deixar ser passado.
Nessas idas e vindas há outros caminhos pela estrada, mas dirigindo na mão ou
na contramão sempre há acidentes e erros de percurso, porém sigo me assustando
com a imprudência humana. Um desperdício de tempo na ultrapassagem, na
velocidade, na pressa inimiga, na dor de passagem envolvida como mensagem das
consequências de muitos atos velozes. Há um desrespeito muito grande nas
rodovias, um desprezo disfarçado de descaso pela vida.
Ao chegar às cidades continua o caos, ainda mais
naquelas onde sedes da Copa estão sendo construídas. Nelas parece que há ainda
de se inventar uma palavra que descrevae a situação, mas por enquanto o caos
cabe bem. Sinalização em falta, energia elétrica oscila, água também, fora a
corrupção borrifada por toda parte... Um país com as dimensões do nosso, não
comporta tantos veículos particulares, ônibus e caminhões circulando por aí,
ali, acolá, invadindo pistas, provocando mortes... O planejamento do Brasil não
existe, mas sempre que é feito, uma verba desviada aqui ou adiante não permite
que desenvolva.
Se tivéssemos aeroportos que não ficassem com os
rins em troca de alimentação, hidrovias, trens, metrôs e transportes coletivos
em geral de qualidade, o país escoaria sua riqueza, acabaria com distâncias e
cresceria realmente. Mas enriquecer ilicitamente e causando efeitos dominós
avassaladores “é mais importante”. Quem precisa utilizar o transporte público
hoje é obrigado a acordar beeeem antes e acaba dormindo bemmmmm depois, terminando sempre
cansado o cidadão. Quem pode ter um veículo particular enfrenta os caóticos
horários de picos, a falta de educação, respeito e de carteira nacional de
habilitação, além da má organização da sinalização e dos semáforos.
Mais de 40 mil pessoas morreram no trânsito brasileiro
em 2010, e apesar de tantas falhas estruturais, a maioria é por falha humana. O
trânsito mata 400 vezes mais que o terrorismo ou guerras (segundo dados do site
atividades rodoviárias). Circular entre cidades e estados no nosso país é quase
uma roleta russa. É ver a morte e a vida se digladiando vorazmente a cada
quilometro percorrido em curvas bruscas, velocidade acima do controle, desvios
inusitados, freadas repentinas e, principalmente, ultrapassagens imprudentes.
Com acostamentos decadentes e até inexistentes, as nuvens baixas parecem nos
dizer algo o tempo todo até ficarem cinzas, escuras e dissiparem em chuva.
Dirigir pelas estradas e cidades brasileiras dá um novo sentido aos nossos pé e nossa fé.
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