sábado, agosto 10, 2013

Aquela hora (miniconto)


Aquela hora (miniconto)
por Rafael Belo

Ele perdeu a noção do tempo. Há semanas parecia estar no mesmo lugar. Como se estivesse amarrado. Claro, ia ao banheiro, comia, bebia, mas para o mundo desapareceu. Seu celular tocava, a companhia gritava, o telefone da casa berrava e ele seguia de costas. Seu nome era esgoelado, buzinaços aconteciam lá fora, bateção no portão... Mas nada! Absolutamente NADA! Ele continuava cabisbaixo e de olhar fixo nas horas. Horas paradas. Eram as mesmas dez para quatro da tarde desde aquele dia.

Aquele dia... Aquela hora... Ah, mas ele verificou. Olhou todos os relógios, cada celular, tablet,  nootebook, microondas, televisão, telefone, tudo que poderia mostrar as horas... Eram as mesmas 15h50. Ele olhava pela janela e o sol estava no mesmo lugar. Foi assim na primeira semana. Na segundo nada ficou no lugar... Depois ele já variava seu olhar ao redor. Olhos estatelados, pupilas dilatadas, seu sangue acelerava e seu coração parecia corredor quebrador de recordes. Então, um pânico silencioso resolveu morar em todo seu corpo.

Mas, a cabeça era a principal estada. Permaneceu caída depois do depois e fixa naquelas horas. Ele alucinava tudo que vivera até aquela hora. Via no reflexo do tablet. Repetidas e repetidas vezes. Tantas que ao invés de decorar, guardar os detalhes, ele mesmo soltou um grito de "não aguento mais", "não suporto", "pelo amor de Deus"," para essa merda"... Gritou até perder a voz, até perder o fôlego e imitar um asmático sem bombinha depois de correr desesperadamente.

Foi neste momento que ele se quebrou e ouviu o eco dele se desfazendo. A si mesmo caindo, destruindo os joelhos. Uma queda que deveria ser seguida de um histérico grito vazio. Mas, ele estava anestesiado pela paralisia do fracasso. Ele não pensava mais. Ele não pensava menos. Era como se naquela hora tivesse renegado todos os direitos de si mesmo, inclusive o de pensar logo existir... Aí era fácil sumir. Suas memórias sumiram primeiro, na sequência do terceiro depois. Tudo aconteceu dez para às quatro da tarde e ele não se lembrava como levantar... Insistir.... Foi a hora que ele desistiu e desperdiçou o tempo.

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