sábado, agosto 03, 2013

Frieza (miniconto)


Frieza (miniconto)
por Rafael Belo

Era um frio incomum. As flores estavam mortas. A língua adormecida, não se mexia. Ela própria murchara. Não havia mais beleza, nenhuma. Cultivou seu ego com toda a frieza das vaidades. Portanto, por dentro não era nada. Nada que se pagasse um centavo. Mesmo que em alguma parte - não descoberta - algo ainda valesse a pena. Ela não era soma, nem se somássemos. Ela não chegava a ser nem uma possibilidade. Ela não estava experiente, não estava sábia, não estava aguentando seu inferno gelado. Ela estava velha. Mas ainda tinha 30 anos.

Sem sol. Sem água. Ela levantava o dedo e apontava em riste para o sol. Parecia regada por vento, sombra e vazio. Vagava pela própria frieza, mas mesmo com tanta habilidade para manipular e se disfarçar recebia frieza de volta. Ah, porém não foi repentino. Ela exagerou. Perdeu a mão e, de fato, um dia as máscaras caem. No entanto, ninguém suspeitava serem tantas. Seu rosto era o palco e seu corpo o teatro. Ela se considerava a maior geada. Estragou tantas plantações e nem entrou na lista das possibilidades. Mas, como escrevi, o palco caiu.

Espalhou tanta raiva e rancor que de repente perdeu a cela e a armadura da falsa amazona da guerra, cavalgava mesmo o apocalipse. Percebeu quando as ameaças começaram a chegar no seu celular e as solicitações de marcações e postagens apareciam no seu perfil do facebook. Não era chamada para mais nada. Deixou de ser lembrada. Mas era vista, por toda parte. Tornou- se um Meme, este sim inesquecível. Virou sinônimo de falsidade, manipulação e perseguição no dicionário e no Wikipédia. Seu drama virou comédia, quase uma lenda contada em fim de festa.

Agora era tudo que detestava. Burra, invisível, descartável. Como pensava de todas as outras pessoas. A frieza que sentia e passava era de morte. Não tinha mais orgulho da frieza que carregava. Mas seu orgulho ferido a jogou na depressão da língua adormecida em silêncio. Mesmo aos 30 anos... Estava velha. Uma velha incomum. Ranzinza. Fuxiqueira. Sem ponto. Sem, claro, qualquer tipo de medida para as própria regras. Portanto, esqueceria os tombos dignos de fim de abismo sem fim e mais uma vez faria tudo de novo, afinal, estava velha. Não ficaria mais nova e não queria ser uma cadela velha aprendendo truques novos.

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