Pelas voltas do tempo
por Rafael Belo
Prefiro sentir muita dor a dor nenhuma. Prefiro aprender com o tempo a dar-lhe o nó e pelos nós no tempo nós nos perdermos. Ficar sem um sentimento desta intensidade vai além do superficial. É viver fechando os olhos. Não me caleja tanta morte e sofrimento nos jornais e todas as demais mídias, pelo contrário. E não quero que isso mude. Quero que doa. Semana passada o assassinato por rejeição - porque discordo totalmente do termo passional - de uma jovem universitária de 18 anos por uma de 16 e uma de 17, me deixaram inconformado e dolorido. Tanto tempo perdido, tanto tempo tirado e não só de quem perdeu a vida, mas principalmente das assassinas e dos sobreviventes. Tudo porque a outra não teve tempo para compreender a dor. Agora a dor se espalha e não vai parar de doer.
Elas esconderam o corpo da garota debaixo da cama e embalaram as armas do crime. É isso que ensinamos com exemplos? Violentamos nossos momentos com um desperdício absurdo se aproximando do fatal. Cada segundo significa vida e morte e não sabemos se queremos economizar o tempo ou desperdiçá-lo. Sabemos o quanto depende de nós a duração do dia. Nosso temperamento muda o tempo. Se estamos muito ocupados o dia acaba rápido. E estamos intensos e entregas ao minuto, viram horas. Mas, às vezes, amanhã e daqui a pouco estão tão distantes que não temos tempo para esperar. Morremos e matamos na véspera.
E nesse matar ou morrer contra o tempo, quantas pessoas têm a vida tirada de maneira absurda e todo o tempo se escoa de uma vez e como se todos os relógios parassem no momento daquela morte, todos perdem também... A cada minuto a mais é uma vida a menos girando nas horas, se perdendo, sendo perdida, deixando para trás o que lá ficou. Nossos desejos de velocidade ou arrastar faz tudo ficar ao avesso e ficamos cuidando o tiquetaquear mesmo que não o ouçamos mais, mesmo que seja preciso a cada movimento apertar o celular.
Então, o rápido fica devagar e o devagar fica rápido. Este tempo entre uma coisa e outra pode muito bem ser a paciência e a calma. Nesta ida e volta, tudo fica parado e temos que pensar, organizar e seguir para não ficarmos presos nas 24 horas. Pelas voltas contando a luz do sol recontadas no escuro pela noite. Aí não importa a idade, não importa o tempo se não nos movimentarmos, se não refletirmos sobre o nosso ciclo, este nosso relógio particular com suas próprias horas, seu próprio clima e seu próprio pensar.
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