Mesmo depois que se vão
por Rafael Belo
Se de repente a temperatura varia de 12 graus a 3 graus sem falar na sensação térmica e os fortes ventos gelados em pleno feriado, esperamos que pouca gente apareça em um evento público à céu aberto. Mas, nossa baixa expectativa dificilmente corresponde ao nosso desejo e subitamente milhares de pessoas estão reunidas. É bonito ver tantas pessoas dispostas a estar onde querem pela única vontade de se reunir por um objetivo. Não importa o quanto tenham que andar durante horas para se sentirem bem e entre iguais e, mais, se sentirem aceitos.
Ah, se sentir aceito e mover uma multidão como um coração de fé, aquece até o vento cortante deixando vermelhos nossos rostos. Mas estamos ali e aqui no meio de tudo para ouvir, seguir e avançar até liderar a própria multidão, nem que esta seja do reconhecimento do mutirão de sentimentos se organizando dentro de nós, encontrando nossa voz e ajudando outros a encontrar a própria fala. E se conter em meio de tantos é o mesmo que tentar represar o rio de uma emoção até então escondida. No meio de tantos rostos anônimos nós reconhecemos e sorrimos porque encontramos respeito.
Respeitar o espaço, o tempo e a pessoa as reúne e reforça cada vez mais o desejo de estar junto e não há clima, temperatura ou mentiras que façam uma manifestação espontânea se acabar, se dispersar por qualquer nuvem escura que esconda o céu e suas estrelas, porque sabemos que atrás disso tudo o céu continua lá. Toda base deste firmamento brilha e se move para o infinito contínuo do nascer do universo e se olharmos bem de perto, de repente descobriremos a semelhança entre nossos olhos e o reflexo deste nosso olhar para cima para além da noite.
Para isso precisamos entrar nesta multidão e deixar nossos olhos entrarem no olhar do próximo, se permitir ser um bem cuidado corpo para uma bem cuidada mente para uma alma iluminada, sendo Luz e sendo imperfeito, aceito e esta multidão que caminha em nós e pelas ruas firmadas pelo firmamento e pela afirmação do respeito. Aprendendo a humildade ao olhar direito para o outro, para imensidão ao horizonte e pela extensão do universo, nossa extensão, nossa reação ao brilho das estrelas que continuam brilhando mesmo depois que se vão.
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