por Rafael Belo
E de repente o coração gela e pesa.
Todo o corpo se assombra e arrepia eriçado. Foi um susto. Foi um instante. Bastou
à distração para a freada brusca a milímetros do acidente. Não é a toa que
manhãs de segundas-feiras cinzentas são ditas tristes. Parecem entristecidas
pelo fim dos fins de semanas. Por isso, às vezes, gostariam de nem ser. Talvez por
isso o segundo lugar não é uma meta nos estudos e treinamentos. É consequência.
Basta um desvio, um segundo para o coração ficar nesta garoa sem cor caindo lá
fora com o vento, começando no branco horizonte tombando para um cinza
neblinando nos olhos.
É como se para onde olhássemos fosse
preciso desembaçar. Mas, dizer que é um dia triste só por ser segunda é brigar
consigo mesmo quando um segundo é tão importante e pode ser a diferença entre a
vida e a morte, entre o sorriso e a dor, no meio do caminho entre a alegria e o
lamento. Condenar o dia gratuitamente é tolice, para amenizar o adjetivo. É criar
um escudo de eufemismo para nossas escolhas, com tanta futilidade que exaltamos
e elevamos a tanta importância que tudo fica descolorido. Então, protegemos a
cabeça com uma bandana preta, só que ela parece ir direto esconder o cérebro e
dopar os sentidos para uma viagem alucinógena.
Daí entre o emissor e o receptor
cai toda a rede de conexão e as mensagens se perdem. Quando chega todo o meio
foi contaminado pela vitimização e nós somos as vítimas de tudo, principalmente
da nossa caverna. Perdemos a percepção. Pois, não somos nem emissor nem
receptor, que me perdoe McLuhan, somos o meio, somos os mensageiros, somos a
mensagem. Qual mensagem interpretamos por aí? Qual mensagem transmitimos? Parece
que no meio da fala falta o som, no meio da imagem falta a luz, no meio do sabor
falta o gosto, no meio do cheiro falta o odor...
Temos mesmo nossas extensões na
tecnologia como acreditavam McLuhan e Steve Jobs? Sou mais o belga René
Magritte: Ceci n’est pas une Pipe. (Isto não é um cachimbo.) Que causou polêmica no final da década de
1920 ao afirmar o óbvio ululante. Parecia literalmente inspirado em Fernando
Pessoa: O poeta é um fingidor/ Finge tão completamente/ Que seja a fingir
que é dor/ Dor que deveras sente. Representar algo não é ser algo... Não há
dúvida nisso. Mas, então porque fingimos tanto sermos dores e cachimbos, se na
verdade não sentimos quase nada e não fumamos? O que isso representa? “Certamente”
não a mim. Enquanto isso, o suposto tempo triste avança pela segunda-feira.
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