Chuva
de insetos (miniconto)
por
Rafael Belo
Como
uma metamorfose ambulante, pouco antes de Raul Seixas, aquela de Franz Kafka,
ela se arrastava. Não era sua preferência nem havia se metamorfoseado em um
inseto do tamanho de um dinossauro pequeno. Nada tão absurdo, mas quase. Este detalhe
a afastava por milímetros praticamente invisíveis aos olhos nus. Como os
olhares estavam vestidos, porém em alto e bom sono... Nada viram. Ela tinha sua
particular chuva. Se isso só já não bastasse não era uma qualquer, era uma
chuva de insetos.
Ela
vagava exausta sem conseguir enxergar qualquer claridade. Aqueles insetos
choviam em sua cabeça, rosto, pescoço, tronco, braços e pernas sem piedade. Ela
estava de olhos fechados há tanto tempo que chegou a duvidar se um dia enxergou.
Sentia-se cega e aquela tortura realmente sem motivo só podia ser o
renascimento de uma das pragas do Egito, só que esta nunca foi relatada. Ela preferia
ter uma nuvem negra como o azarado Uruca dos Flintstones... Tantos milhares de
insetos só poderiam provocar aquele zumbido ensurdecedor que ela nunca mais teria
fora de sua cabeça.
O
som só aumentava como a escuridão. Uma escuridão que se movia e a perseguia por
todos os lados, em cima e em baixo. Ela passou toda sua vida sem graça e as
sempre perguntas insistentes de onde vem esta luz irradiando de você?!... Chamavam-na
de Vaga-Lume Completo, o porquê vocês já sabem... Aqueles insetos choviam tanto
e pareciam querer invadi-la. Demorou a se dar conta que estava tudo escuro lá
fora, longe de seus olhos fechados e sua nuvem de insetos chuvosos. Porque não
bastava devorar zumbidamente a luz de fora... Como gafanhotos em vistosas plantações.
Mas eles não eram gafanhotos... Era todo tipo de insetos.
Por
um instante ele pensou ouvir vozes em meio à infinita multidão de zumbidos...
Ao abrir os olhos pode jurar que era minipessoas cascudas, alongadas,
espremidas, achatadas e foi esse seu erro. Por outro instante tudo parou. Dois focos
de luz atravessaram aquela escuridão e chegaram aos extremos do horizonte e,
então, o primeiro inseto entrou no olho direito e o seguinte mais abaixo na
narina direita ao mesmo tempo em que dois invadiam os ouvidos e um quinto já descia
no engasgo da garganta... Seguidos de milhares. Impossível emitir qualquer som. Em poucos segundos só restavam à escuridão e os
silêncios. Incontável escuridão e muitos ecos dos silêncios.
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