por Rafael Belo
Não
somos inteiros. Ser inteiro é ter um fim em si mesmo. É o centro da perfeição. Mas,
estamos longe. Somos beiradas. Somos imperfeitos. Esta imperfeição nos torna
perfeitos em busca da evolução. Portanto, somos fragmentos. Fragmento de nós mesmos, fragmento do
universo, fragmento do outro, fragmento da vida, fragmentos do fragmento... Por
isso, a busca da felicidade é nosso direito porque se fôssemos completos a
felicidade também seria parte de nós e nossas linhas não seriam mais tortas e
nem misteriosas. Como viver assim?
Quanto
tempo duraríamos se não nos faltasse nada, se nossos desejos fossem realizados,
se alcançássemos todos os nossos sonhos? Muito pouco ou quase nenhum. Seria o
fim. O nosso fim. Creio que seja este o motivo de sermos imperfeitos,
incompletos, fragmentos, incomodados... Mesmo na confusão com acomodados...
Mesmo muitos levando esta confusão à risca... Enfim, este incômodo, esta
insatisfação é o que nos move. Somos movidos para frente, nos impulsionamos no
meio do caminho para avançar, evoluir, mas não há um fim em nós mesmo. Sempre encontramos
algo para nos ocupar.
Ficar
sem ocupação é vegetar nos próprios fragmentos que somos. Tudo se torna
desconfiável, arriscado e assim é. O mundo é sempre novo e se renova. Este fragmento
do universo se move no mesmo princípio que nós, mas nós não temos a mesma consciência
e nos confundimos além do acomodar com o egoísmo e a autossuficiência. Somos novos
e renovados todos os dias, mas nossa falta de consciência, de autoconsciência,
nos deixa no escuro na balada das ladainhas contadas da nossa extrema
importância enquanto indivíduos solitários e insubstituíveis.
Estes
contos de fadas de viver feliz para sempre são grandes estímulos remontando a
perfeição das coisas, dos humanos, a uma aquarela de camuflagem criando apenas
dois lados de tudo. Mas no fundo sabemos que é impossível viver e ser feliz
sozinho. Só se é inteiro quando se descobre fragmentos espalhados pelo coração
dos outros, ai temos a felicidade passageira. Passageira do mesmo transporte
coletivo chamado vida. Depende apenas de nosso posicionamento, da nossa construção,
de quantas vezes ela passará porque se a queremos podemos buscar seus fragmentos
todos os dias, pois ela passa diariamente.
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