Coloridos demais (miniconto)
por Rafael Belo
Um arco-íris geral. Por toda
parte sorrisos duvidosos de diversas cores o abordavam. Óculos de grau com todos os formatos
coloridos o cercavam. Reparando bem, todos usavam óculos e aparelhos... Era
tudo uma bizarra aquarela. Bem, menos ela. Sakura Suze. Em seus 30 anos nunca
havia visto nada assim. Pensando com cuidado, sua mente era um branco total ou
um blecaute. Só sabia seu nome, sua idade, sua cidade e o local onde estava
morando. Mas sabia, aliás sentia estar tudo errado. Aquele mundo de
fadas bêbadas não podia ser real, podia?
Só havia ela no prédio em que
morava. Olhando do terraço via toda a cidade... Casas amontoadas. Algumas de
tijolos, mas a maioria de restos de materiais, lona e até papelão. Forçando bem
os olhos, não era bem uma cidade. Não para Suze. Era um mar revolto de
destroços. Não. Destroços, não. Pessoas sobrevivendo
da melhor maneira possível e tentando morar da forma mais adequada, dentro de
suas limitações. Ela não diria ser tudo favela. Alguns poderiam encarar como
ofensa. Ela não queria ser encarada de jeito nenhum. Não mesmo.
Um novo apagão a fez querer ter
sido tudo um sonho. Não era. Foi acordada com o prédio tremendo enquanto o rádio
e a televisão noticiavam a ostentação do
aparelho e dos óculos. Repetidamente. Depois insistiam que a felicidade era
morar lá fora com pouco amparo e direitos básicos precários. Repetidamente. Ela
se levantou e da sua janela via todos na rua. Ela sabia, aliás sentia...
Todas as pessoas estavam nas ruas. Ninguém entendia, mas andavam juntos. Mesmo porque
o espaço reduzido não permitia outra forma. De repente seu quarto estava lotado
de fadas bêbadas de todos os sexos...
Por meses gritavam ao seu redor.
Repetidamente. o rádio e a televisão noticiavam a ostentação do aparelho e dos óculos. Repetidamente. Depois insistiam
que a felicidade era morar lá fora com pouco amparo e direitos básicos
precários. Repetidamente. Além disso, continua a transitar entre o deu branco e o seu blecaute. Começou a
sorrir abobadamente. Começou a olhar de um modo enviesado, doidivana...
Mãos se ocupavam de sua boca,
seus dentes, seus olhos... Dia após dia. Até o dia do não. Neste dia não
trocaram nem colocaram óculos ou fios em seus dentes. Angustiada e perdendo seu
ar vazio, procurou e encontrou as cores de seu gosto. Saiu. Fugiu para o meio
das outras fadas bêbadas. Tudo era ostentação
e felicidade. Nunca mais sairia
dali, não moraria em outro lugar jamais.
Um comentário:
Olá.
Passei aqui, para lhe desejar um bom tempo de Carnaval
Um abraço abraçado.
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