Os Três Macacos Sábios
por Rafael
Belo
O
apocalipse anda de boca em boca como uma bactéria na saliva. Vem como
obscuridade, como um fim iminente, como uma entidade própria, eminente. Longe do
seu grego original apokalúpsis (ação
de destapar, revelação. Junção do verbo kalýpto
– cobrir, esconder, ocultar, velar - com a preposição apó – indica um movimento de afastamento ou retirada de algo que
está na parte externa de um objeto). Longe de ser o que é, revelação. Porém se
olharmos bem revela sim. Tudo revela se prestarmos atenção. Atentos, vemos o
quanto sucateamos com nosso toque de Midas às avessas.
Não é à
toa que morremos todos os dias. Matamos também. Matamos a cada virada de rosto
dado, a cada atravessada de rua feita, toda a ignorância não assumida e
espalhada por nós, toda vez quando nos fazemos dos três macacos não vendo, não
ouvindo e não falando. Aliás, está aí outra distorção “adaptativa“. São os Três
Macacos Sábios parte de um templo do século XVII. Santuário Toshogu, em Nikko, Japão. Eles ilustram a porta do Estábulo Sagrado. Seus nomes são Mizaru, Kikazaru e Iwazaru. Literalmente não ouvir, não olhar, não falar.
São bons
exemplos, na verdade. Significam que se não ouvíssemos, olhássemos e falássemos
o mal alheio, teríamos comunidades com paz e harmonia. Segundo, o folclore
local, a origem dos Três Macacos Sábios é chinesa e foi levada ao templo por um
monge budista chinês. Se nossas salivas ficassem nas nossas bocas e saíssem
quando trocássemos paz e harmonia poderíamos não ter sucateado o mundo. Mas,
teorias do passado e futurologias são tão precisas quanto encontrar um grão de
areia no meio de uma tempestade no deserto.
Além disso,
estamos tão propensos a avaliar, a julgar, a planejar, dosar revelações a ponto
de perdermos realmente as referências e acreditarmos em tudo, mesmo
desconfiando de todos. Se estivéssemos atentos de verdade, veríamos o kalýpto. Dissimulação e disfarces
divulgados como descobertas, como novidades... Um controle sobre nossas mentes
e corações sempre escondendo “algo pior”. Mas daqueles que desejam o poder,
quais querem paz e harmonia? Preferem usar os Três Macacos Sábios da maneira
que lhes convier.
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