quarta-feira, julho 11, 2018

catalisadora (miniconto)







por Rafael Belo

Havia algo atrás de mim. Eu juro! Eu sentia. Mas, ver… Ver mesmo só vultos. Eu me sentia mal. Disseram uma vez eu ter uma mediunidade única. Nunca acreditei. Na verdade eu sabia, mas me escondia. Tinha medo. Tenho medo. Não quero ter nada a ver com essas coisas. Mas, mulher em casa de maioria masculina tem que brigar o dobro e era só eu e meus irmãos. Todos mais velhos. Todos ligados a Igreja. Ninguém se aproximava de mim. Sempre achei que afastavam as pessoas ou eram inconvenientes com quem me visitava…

A verdade era outra. Só descobri hoje e há pouco me aceitei. Eu sentia a alma das pessoas quando me aproximava delas afetivamente. Demorou para eu entender não serem meus sentimentos sempre. Eu sou catalisadora empática, dizem. Não era necessário estar próximo para eu entender sem pensar a necessidade de resolução e fechamento de quem era próximo. Até por WhatsApp rolava. Se fosse no século passado eu seria carne de churrasco dos opressores…

Mas fizeram algo com minha alma logo que me afastei de tudo ligado a alma. Eu definhei, enfraquecimento. Estava aborrecida por ninguém contar o que houve com meus pais. Não sei o que fiz! Porém, sei que fiz.  Há uma pressão terrível no meu peito. Nunca mais frequentei nada capaz de aliviar as angústias da minha alma. Porém, o tal dom seguia… Doía. Imagens terríveis invadiam e invadem minha mente. Eu só consigo pensar como alguém pode desejar o mal. É muito tempo para esquecer de si e viver outras pessoas.

Só corpo, sangue e fome poluíram minha alma. Ela estava cega, voraz, sedenta, faminta e minhas quedas não  pararam mais. Já não sei qual a profundidade que atingi. Mas todo mal desejado a mim gratuitamente não são só palavras e não é grátis para ninguém. Eu voltei a alimentar minha alma, mas ela estava quase vendida para quem quer que tenha cuidado dela na minha ausência… Este retorno. Este retomar meu espaço… Gera um conflito grandioso demais. E eu achava que dormir mal era o motivo da minha energia estar sendo sugada. Agora eu corro desta sombra que tenta de novo me tirar da minha missão. Já houveram vítimas demais, talvez até fatais… E tudo foi omitido de mim. Agora eu sei o que fazer e já comecei a fazer! Não vou parar mais!

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