quarta-feira, julho 04, 2018

Estendidas sombras (miniconto)




por Rafael Belo

Beija-flores enxameavam por toda parte. Eram do tamanho de abelhas. Pareciam vir de dentro de mim. Eu não sabia se dormia, sonâmbulava, sonhava, imaginava, mas havia pedaços meus em cada um deles. Eram pedaços de dores latejantes, pulsando passado, presente e futuro com tanta intensidade fazendo um vácuo exalando calor parecendo refletir todo minha dor sem explicação para tudo.

Eu olhava para cima, eu olhava para baixo, para os lados e não via medidas, começo nem fim… Eu era aquele abismo em sombras estendidas de escuridão. Meus cabelos flutuavam abandonados. Nem percebia que caia mais… Parecia um filme de terror muito ruim, forçado demais, clichê demais, mas ainda assim incômodo. Um tombo para onde eu voltava, creio que, como ainda volto a ele, é meu inferno particular.

Li em algum lugar fictício que todos tem seu céu e inferno privado. Um reviver sem fim do melhor ou pior momento da própria vida… Parece tudo inferno para mim. Como pode pensar doer? Só penso no que virá sem deixar de pensar no passado e ainda assim me estresso com tudo isso aqui. Eu não me entendo nem quero o entendimento ou aprovação de ninguém, mas é o que penso… Sinto-me totalmente ao avesso…

Há um desespero me apertando como se o ar tivesse as mais pesadas e ingratas mãos do universo… Qual o motivo de me esmagar assim? Ainda assim, estou solta envolta a esta angústia feita da ansiedade dos meus beija-flores ainda saindo como correnteza de dentro de mim ao mesmo tempo voando como abelhas furiosas e agora estes elefantes enfileirados sobre meus ombros tentando me afogar dentro da minha desolação, não sei como seria ter outra sensação. Este deserto que sou fazendo minha própria sombra solitária só tem areia movediça e não sei ficar parada. Só pode ser um sonho. Não posso estar caindo em um abismo sem fim e presa na areia movediça... Ainda assim, estou.

Nenhum comentário: