sexta-feira, dezembro 07, 2018

Do outro lado (miniconto)





por Rafael Belo
Já não lembrava a última vez que ficou só. Bem, mais ou menos. Esta medida nova só conta recentemente. Ela passou a vida invisível foragida. Sua memória falha mesmo ao reconhecer… Reconhecer a si mesma. Por isso, se perdeu no tempo ali tentando reconhecer algum traço naquele reflexo no rio silencioso. A floresta toda se aquietou respeitando o momento. A sensibilidade da Natureza era a humanidade que ela precisava. Parada…

Simplesmente parada aqui. Eu só desencaixo. Sempre achei ser ignorada como os demais. Mas… Foragida?! Quem inventou esta coisa de Sociedade Foragida?! Ao invés de ser alimentada, acolhida, mimada… Fui interrogada. Esta história de encantamento .. Que mundo é esse?! Esquecem da gente assim que o sinal, semáforo abre… Quem são essas pessoas? Por qual motivo não vejo mais quem eu via antes? Eu os sinto tentando chamar minha atenção, parece um leve incômodo…

Eu pensava que quando as pessoas sumiam, tinham morrido. Simplesmente deixado de existir, mas eu não posso acreditar nisso. Quem permitiria algo assim?! Como se adaptar com injustiça, exclusão e ignorância… Será que elas também fazem isto? Não. Não sinto nada. Seremos realmente pessoas? Serão estes interrogadores pessoas? Ainda não entendi esta tal dignidade. Ninguém soube dar uma explicação decente e demonstrar então… Decepção! Estou do outro lado e fiquei cega também!

Ouçam meus gritos!!! Saiam do invisível. Sociedade Foragida! Cara, que estranho dizer isso… Hummmm hummmm mmmmmm…. Me solta! P&#$@! Estou enlouquecendo. Virei meu reflexo. Estou de novo aqui ouvindo o silêncio, a respiração das águas, a respiração da floresta… Estou só em um dos pulmões da cidade. Quantos lados existem? O tempo passa? Estou sentido que esta sociedade não é de consciência ou inconsciência é de incômodos e desincômodos. Somo sonâmbulos fingindo ser zumbies. Quero libertar meus pensamentos ruins e descobrir se há um lado para estar.

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