quinta-feira, dezembro 20, 2018

Uma benção e uma maldição (miniconto)





por Rafael Belo

Havia tantas máscaras nele. Ainda mais a daqueles para aliviar a própria culpa o livravam da dele. A palavra monstro vinha estampada em toda boca e mídia, mas não significava nada para ele. Não haviam monstros. Ele só fazia o que queria e como queria. Ainda podia se gabar do próprio poder. Nem sabia mais quantas mulheres havia usado, sabia sim que estava satisfeito, por enquanto… Ele era o símbolo de algo contrário ao que fazia. Mas, para ele aquilo era só para satisfazer as próprias necessidades biológicas.

Uma benção e uma maldição. É algo atribuído a quem tem dons. Algo considerado até sobrenatural e assustador para quem nega ter algum poder. Neste mundo é preciso chegar aos dois extremos dos limites: o bom e o ruim, o bem e o mal… Foi nas mãos deste falso profeta que tudo em mim se dissolveu, derreteu, virou nada… Mas neste meu universo nada fica desocupado, qualquer vaga recém aparecida é ocupada de imediato. Foi durante meu segundo estupro assistido que eu realmente me assustei e me despedacei…

Virei pó. Sai de mim. Ainda sentia toda a dor no corpo, a dor na alma, a humilhação… Eu não via o mal nele, não via nada bom naquele momento nojento e horrendo, mas eu via negatividade, via escuridão e via aquele ser humano desprezível me destruir. Fui destruída. Talvez até tenha morrido. Não diria ser o destino. Seria cruel ter que passar por algo assim para descobrir meu destino… Não. Foi obra de um homem e todo o poder dado a ele. Que não tem nada a ver com o divino. É o desespero… A fé que há algo além de nós!

Como nada fica desocupado. Nada fica desequilibrado. Eu estava dividida entre tirar todo aquele peso esmagando tantas mulheres como eu, as ajudar a descobrirem também serem Maravilhas, Mulheres Maravilhas ou ser mais uma vítima atormentada por aquele homem e pela sociedade me acusando de… Enfim, eu decidi o expor e revelar a minha mediunidade. Mas, naquele momento do meu Despertar eu pude escolher entre matá-lo e sofrer todas as consequências, morrer continuamente com minha dor ou ser a Luz para despertar o poder das mulheres humilhadas… Eu sou as três escolhas. Equilibrei a balança porque sou mais humana a divina. O deixei com a marca da dor constante. Teve consequências para mim, além das sequelas que ele me deixou, porém nenhum homem mais vai estuprar e humilhar mulheres esta é minha benção e minha maldição. Eu sou a balança e minha Justiça tem um moderado molho de vingança.

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