quarta-feira, outubro 30, 2019

Eumundo











no olhar parado no horizonte
queima a mente alimentada
mastigando tantos nadas adoentando
vagando uma presença no lugar

há uma fogueira só de fumaça
acompanhando olhos e pensamentos
agindo em um reinado sem fim da vaidade idiota

o invisível fogo queima o bom em mim
todo encharcado de um bem desapropriado 

acabo mau em meu eumundo devastado sem posses do mal afundado na superfície tão fundo que o raso é alto-relevo é irrelevante.

+às 07h13, Rafael Belo, quarta-feira, 30 de outubro de 2019, Campo Grande-MS.+

segunda-feira, outubro 28, 2019

Somos idiotas








por Rafael Belo

É loucura. Só pode ser. É melhor que a alternativa. Esta é nossa constante afirmação diante de algo ao qual não queremos acreditar andando como se fôssemos pessoas embaçadas, sombras de nós mesmos… Preferindo ser idiotas a práticos e educados. No trânsito mesmo é o sinal da revelação das pessoas. É o sinal da preferência por si sempre e por defender um espaço supostamente nosso, supostamente particular, não damos preferência ao outro, não cedemos, preferimos esbravejar e não respeitar nem as leis nem o outro.

Nossa idiotice cotidiana realmente chega a ser  insana. Não há ganho, não há objetivo, não há sentido, não há motivo para uma alteração de humor contida de enfrentamento. O trânsito é o melhor e o pior exemplo disso. É como se fôssemos possuídos pelo desrespeito e pela marcação de território. Como se ainda nos escondêssemos nas cavernas esperando a noite para atacar ou reunir um grupo para dominar. Mas ao invés disso, estamos atrás dos volantes, dos guidões… Das palavras, dos status, das mídias digitais.

Eu diria que nunca fomos tão idiotas. Seria errado dizer. A verdade é: sempre fomos. Agora só é vmais difícil esconder. Se você sinaliza uma mudança de faixa e a outra pessoa dirigindo ou pilotando acelera ao invés de diminuir qual é o nome disso? Por estas atitudes mesquinhas e diminutas… Tão pequenas morremos cedo. Uma raiva, um rancor totalmente sem propósito nos adoece. Nossa sociedade está doente porque nós estamos doentes.

Não é idiotice agir de uma maneira que poderia ser evitada? Algo totalmente desnecessário por orgulho? Por ego? Por não querer ceder? A paz não é melhor? A vida não é melhor? Em qual local batemos a cabeça, afinal? É totalmente entendível termos mágoa, raiva e rancor, mas vai além alimentarmos isso. É uma construção para a destruição. Onde está a educação, a cortesia, o sorriso? Alimentamos nosso demônios pessoais criados no nosso peito e na nossa mente para no final nos resumirmos ao raso, ao idiota.

sexta-feira, outubro 25, 2019

Quero ser a última (miniconto)







por Rafael Belo

Havia uma total ignorância por aqui. Eu me arrastava tentando não me concentrar nas feridas e sequelas de se acomodar, mas a dor era insuportável. A dor era insuportável, mas era incomparável o quanto me incomodava imaginar com tanta certeza o que não haviam dito.

Eu estava em conflito com tudo isso. Alguém ia pagar pelo meu incômodo. Alguém ia ter que saber o quanto eu estava machucada… Veja como não há respeito mais. Basta ver como a intolerância me deixou… Só porque eu estava incomodada. Estou incomodada. Como não estar?! É tanta burocracia para a Justiça funcionar e, logo eu, a própria Justiceira impedida pela Burocracia.

Agora com estas armas em punhos me libertei. Tomei tantos remédios para aliviar minhas dores. Dores físicas causadas pela imprudência, o desrespeito e a bagunça dos poderes. Dores emocionais só por ser mulher, negra e pobre. Dores da alma… É um massacre diário feito para nos perder.

Mas agora que estou disposta  a matar, não me sinto no direito de tirar a vida de ninguém… Vejo medo e raiva como um espelho aqui ao meu redor. Só sobramos nós em todo o planeta. Eu devo exterminar o que seria o restante da humanidade? Todos não estão como eu? Se eu hesitar mais um momento eu serei a primeira e eu quero ser a última. Pela primeira vez na vida eu quero ser a última… Só não entendo por que a Esperança não morreu ao invés de ficar se reafirmando em mim.

quarta-feira, outubro 23, 2019

ninar do silêncio










o desacostume se acostumou incomodado
coceira sem tamanho na mente
demente em pequenez acomodada
cômodo desnecessário no meio do caminho

cômoda sem propósito sentada no desrespeito
sujeito imóvel sem sombra
inflado de um ego próximo ao sol

até cair feito Ícaro perdido
achando a solução na queda

sol sob sombras da paz aquietando no ninar do silêncio o incomodar constante.

+às 16h, Rafael Belo, Campo Grande-MS, quarta-feira, 23 de outubro de 2019+

segunda-feira, outubro 14, 2019

Nao deixe de se incomodar







por Rafael Belo
Já reparou como estamos incomodados? Olhe bem e terá certeza. O que mais nos incomoda é o que incomoda os outros. Ser questionado, ser acusado, ser descoberto, ser enganado, mentir, demonstrar fraqueza, não saber o que está acontecendo, ser esquecido, abandonado, ignorado… Esta é a importância exagerada dada a nós mesmos. Um ego suposto de intocados… Esta grandiosidade fazendo sombra na nossa pequenez nos faz nos achar e é aí que nos perdemos esquecendo que somos todos iguais e a igualdade é o que deveríamos procurar. 

Procuramos, no entanto, disputas, competições, ser o melhor… É uma boa meta, mas só se for pelo melhor possível em nós. Quando focamos em ser melhor que outro alguém além de nós mesmos o fim fica cada vez mais distante ou próximo demais… Fazemos mal ao outro e a nós mesmos, principalmente se não identificamos os problemas e não encontramos as soluções porque de nada adianta apontar as dificuldades, os defeitos, os problemas sem saber ainda como encontrar as qualidades, "facilidades" e soluções.

Eu me incomodo com estar acostumado. Não me incomodo com o outro em si. Porém, quero estar incomodado com situações, ações e inações para não me acomodar, para não fazer o cômodo, mas o melhor. Livrar-me dos meus vícios, implementar minhas virtudes. Somar e não diminuir. Multiplicar e não dividir - a não ser que seja dividir com o próximo. Quero encontrar soluções. Não quero ficar reclamando nem ficar reforçando os problemas. Quero agir. Não quero me incomodar com o outro e sim comigo, com cobrar sempre de quem nos representa porque a função dos eleitos é melhorar nossa qualidade de vida e o direito aos serviços básicos.

Mas não podemos esquecer de fazer o básico: respeitar o próximo. Ouvir, entender o outro lado. Não criar desentendimento. Tentar entender a situação do outro. Discordar sim, dividir não… Hoje não temos mais solidariedade pelos que não são família, amigos ou conhecidos, muito menos empatia. A falta disso me incomoda. Precisamos de pensamentos diferentes no mundo. Não precisamos do ódio, da discórdia e do rancor. Não precisamos de violência, de agressões gratuitas, de fofocas… Somos todos diferentes com direitos iguais e procurar a paz é o início do caminho das soluções.

sexta-feira, outubro 11, 2019

Hoje e ontem fora do tempo (miniconto)









por Rafael Belo

Não sabia de onde vinha a dor. Só via o céu em um azul opaco ressoando a dor irradiando por todos os fatos, finalmente responsáveis pela minha surra. Minha queda… Aqui grudada no chão… Destruída… Ainda ouço a Batalha pela Vida continuando, sem fim, sem mim… Então, não há destruição. Há sequelas, há sangue, há esta gritaria, uma construção desfigurada  e… Tempo. Todos eles são meu alimento. Já estou pronta para passar perto de cada um de vocês mas…

Será que não posso ficar aqui um pouquinho ? Lamentar porque tenho responsabilidades para assumir? Posso me fingir de morta? Queria ficar em silêncio, mastigar minha mudez, conseguir todo meu querer, na minha pressa, no meu tempo, no meu agora… Neste meu eu destruída em um particípio passado, eu estou tão deslocada na incompreensão. Sem mim como construir? Tudo que construí já não é nada ou é quase um infinitivo acordado para a batalha.

Porém, chega né?! Ninguém está me ouvindo porque não podem também.  Levantei-me com todo grito da minha dor… Ainda assim ninguém ouviu. Realmente não podem, mas isto desperta minhas irmãs, enfurece meus irmãos, mas meus pais estão muito além disso. Nem alteram os temperamentos já sabem todas as coisas. São também todas as coisas. São três. São um. Eu tenho minha função. Eu tenho minha missão… Já estou em pé. Já sou necessária.

Veja agora a cidade… Está vazia. Eu cheia.  Destruir-me é a destruir. Eu a destrui. Esta missão é inglória? Não! Destruir é tão bom ou melhor que construir. Mas destruir por destruir é anulação, inexistência imediata…! Destruir com propósito é diferente. É minha força. É construir. É tempo de destruir e esta mania de dizer que também sou Construção, me destrói, me surra e me surta porque ninguém pode saber…

Será que ainda existe cidade ou pessoa para eu destruir? Deixa eu silenciar para ouvir onde agora devo ir. Ainda resta Humanidade para destruir? Sou a Destruição hoje, ontem era Construção. 

quarta-feira, outubro 09, 2019

esconderijo









Caem os céus se abre a terra
a destruição do não construído 
interrompido pela pressa olhuda
mudando o tempo em dilúvio

nestas mudas da inundação
não há roupa capaz de cobrir
nenhuma voz sai da nossa mudez

saiu o silêncio pelo deserto na real loucura da realidade insensata
o dito fato é desdito pela voz ingrata procurando a verdade gratuita

atualiza-se o aplicativo esquecido na tela desligada dos nossos olhos
todo o visto visto até o brilho desviar o olhar na fuga contínua de se esconder do tempo.

+às 07h11, Rafael Belo, quarta-feira, 09 de outubro de 2019, Campo Grande-MS.+

segunda-feira, outubro 07, 2019

Destruir e construir o dia









por Rafael Belo

Estava pensando em um frase atribuída a Emmanuel: “O tempo destrói tudo aquilo que ele não ajudou a construir”. Atualmente, eu só escuto as pessoas reclamando do tempo, principalmente da falta dele. Eu vejo o quanto ele nos faz falta… Nas atualizações da vida a reclamação é a mesma. Mas esta nossa vontade de abraçar o mundo, abafar as dores e sair atropelando a forma como nós e os outros lidam na execução das propostas do cotidiano distanciam qualquer reflexão até sair tudo das nossas mãos.

Um descontrole vindo da falta de planejamento, da falta de capacitação, da falta de...  E as desculpas não são a falta de prioridades, segue sendo o tempo. Eu teria um pouco de pena do tempo se não acreditasse que ele destrói tudo aquilo que ele não ajudou a construir. Como desorganizado que somos não damos tempo ao tempo nem a nada praticamente. Queremos tudo para ontem pedindo para agora e o resultado tem a qualidade que poderia ter? Não. Sem tempo não há sequer planejamento.

Pensei na linha do tempo deste sete de outubro de 2019 e percorri algumas décadas. Neste dia, há 65 anos, em 1954, quando Marian Anderson tornou-se a primeira cantora negra a ser contratada pelo Metropolitan Opera ela queria ser a dona do seu tempo e revolucionou primeiro os Estados Unidos para depois mostrar ao mundo que questões raciais e sociais persistiram, mas seriam destruídas pela reação do tempo.

Também reagiu o tempo com superação e dom quando há exatos 48 anos, o brasileiro Henrique Costa Mecking, o Mequinho, com 19 anos de idade conquistava o Campeonato Internacional de Xadrez na Iugoslávia e hoje é o maior enxadrista brasileiro de todos os tempos. Ah, ele também foi o terceiro maior jogador do mundo... Quando pensamos sobre propósitos e Deus… Como temos nos preparado para o objetivo que desejamos atingir? Como temos nos dedicado aos familiares, aos amigos, ao amor? Quanto temos dado paz a nós mesmo? Há 22 anos, o telescópio Hubble descobria uma estrela quase dez milhões de vezes mais brilhante que o sol e este brilho inimaginável também pode ser descoberto dentro de nós. A vida não é aleatória  Não tente a sorte. Construa com o tempo porque tudo está ao alcance da nossa trajetória e fugir da nossa missão muda o tempo.

sábado, outubro 05, 2019

(In) diferença (miniconto)








por Rafael Belo

Fiquei contando o tempo vestido na palavra alheia. Sentada na beirada de mim onde o vento me puxava para cima e aos poucos eu subia enquanto cada palavra caia. Eu sou assim o Detalhe. Meu nome é Detalhe e, leve como sou, flutuo fácil. Vejo de qualquer distância os detalhes. Eu sou responsável por eles e como partes minhas não os perco, nego nem ignoro.

Meus detalhes se perderam e eu não os deixo desanimarem. Conversando com você aqui neste ar rarefeito você vai explicar esta conversa como ilusão… No futuro. Mas deixará todos em dúvida por contar tantas de mim. Vão dizer ser loucura e você como única prova, uma hora vai deixar de acreditar neste passado também. Mero detalhe porque eles vão ficar indo e vindo…

Como este sentimento no peito. Eu me apaixonei pela pessoa Indiferença porque ele não exige nada sabe e não se importa com meu interrogatório sem fim. Contei isso, porque é o motivo dos detalhes não fazerem tanta diferença nesta atualização… Ele, Indiferença, é contagiante. Ficamos todos distantes. Fica um acúmulo de ausências e só quando se percebe meus detalhes faz sentido.

"Detalhe… " Você ouviu? Ele me chama… Que tipo de efeito no mundo teria se o Indiferença se apaixonasse por mim? Será que eu me perdi em mim mesma e estou mentindo ou por ter me perdido pareço uma mentirosa? O Indiferença me ama e, portanto, não faz diferença… Mas viver sem motivo, sem fazer diferença é viver? Não seria como viver para si mesmo sem nenhuma pessoa para saber feitos, defeitos e… Bom vou deixar o vento me levar. Deixe Indiferença se anular por ele mesmo. Você já pode descer ou vai chegar lá embaixo só quando anoitecer. 


quinta-feira, outubro 03, 2019

Inconsciência









Por um detalhe passou as mentiras
acreditou-se na nudez obscura coberta
vestiu-se como roupa íntima e de conforto sobre esta
aconchegou-se ao entardecer sem conhecimento de si mesmo

passou-se adiante com medo de ficar
estava distante quando despercebido
era intensa distração das importâncias

tantas desimportâncias desapercebidas...
as quais agradeço o despreparo deste eu

conto minhas terceirizações em nunca mais quando esqueço-me outra vez 

contabilizando não usou-se em primeira pessoa nas oportunidades indiferente a diferença onde incomodo-me na minha ignorância.

+às 12h09, Rafael Belo, quarta-feira, 02 de outubro de 2019, Campo Grande-MS+

terça-feira, outubro 01, 2019

Detalhes







por Rafael Belo

Uma palavra. A ausência desta. Um gesto. A falta deste. Um olhar. O desviar dos olhos… São detalhes capazes de mudar tudo. Enquanto a gente tem uma pressa desnecessária e despercebidos seguimos. A menos que acelerar seja para salvar vidas, aí nada passa ou pelo menos não deveria. Mas estamos vivendo no extremismo repleto de excesso de passado, excesso de presente e excesso de futuro, desconhecendo de imediato onde está a mentira. Porém, se prestarmos atenção saberemos. São os detalhes.

É quando nós percebemos desapercebidos. Não é a mesma coisa que despercebidos, este estado de distraídos crônicos que estamos. Estar desapercebido é não estar preparado, não ter cautela, não ter cuidado, não ter precaução…  Estamos além de despreparados, distraídos. Claramente os detalhes nos escapam assim. Então, nos apegamos a momentos passados, reviver ao invés de viver. Paramos ao menor sinal de dor, de obstáculos, desperdiçando nosso tempo e espaço mesmo as oportunidades voltando a acontecer porque pessoas não são desperdícios.

Nos agarramos a um sentimento e esquecemos todo o resto. Como se quiséssemos viver aquilo como único, mesmo este sentir sendo prejudicial não só a nós mesmos como aos outros. Não é uma mentira? Estamos mentindo para nós mesmos e nos incomodamos com a mentira dos outros… Temos ainda aquele medo das pessoas das cavernas. Medo de sairmos do conforto do lar confiável e aquecido onde até uma sombra de fora nos assusta. Se somos de bem e do Bem não podemos nos ausentar, no silenciar e nos trancar distantes da realidade.

Somos a diferença, somos o Jardim, mas vivemos no orgulho correndo para acumular as riquezas erradas nos levando a ausência das nossas possibilidades, das nossas potencialidades, somos responsáveis pelo mundo onde vivemos e se temos algum conhecimento, alguma clareza sobre algo, devemos ajudar o próximo a ter também. Somos os detalhes para acabar com as mentiras e não criá-las e espalhá-las. Como podemos ser o detalhe para mudar?