por Rafael Belo
Havia uma total ignorância por aqui. Eu me arrastava tentando não me concentrar nas feridas e sequelas de se acomodar, mas a dor era insuportável. A dor era insuportável, mas era incomparável o quanto me incomodava imaginar com tanta certeza o que não haviam dito.
Eu estava em conflito com tudo isso. Alguém ia pagar pelo meu incômodo. Alguém ia ter que saber o quanto eu estava machucada… Veja como não há respeito mais. Basta ver como a intolerância me deixou… Só porque eu estava incomodada. Estou incomodada. Como não estar?! É tanta burocracia para a Justiça funcionar e, logo eu, a própria Justiceira impedida pela Burocracia.
Agora com estas armas em punhos me libertei. Tomei tantos remédios para aliviar minhas dores. Dores físicas causadas pela imprudência, o desrespeito e a bagunça dos poderes. Dores emocionais só por ser mulher, negra e pobre. Dores da alma… É um massacre diário feito para nos perder.
Mas agora que estou disposta a matar, não me sinto no direito de tirar a vida de ninguém… Vejo medo e raiva como um espelho aqui ao meu redor. Só sobramos nós em todo o planeta. Eu devo exterminar o que seria o restante da humanidade? Todos não estão como eu? Se eu hesitar mais um momento eu serei a primeira e eu quero ser a última. Pela primeira vez na vida eu quero ser a última… Só não entendo por que a Esperança não morreu ao invés de ficar se reafirmando em mim.
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