segunda-feira, abril 15, 2013

Democracia com carinho


Democracia com carinho
por Rafael Belo

Já imaginou querer dar um passo, fazer um pensamento palavras altas e como um títere (ou fantoche) não pudesse porque cordas invisíveis o controlam? Há pessoas de sobra assim e elas sobram por demais e, portanto, faltam cidadãos no mundo. Esta falta é consequência da ausência real da democracia. Nossa liberdade é cerceada pela desinformação, ignorância e alienação. O maquineísmo (esta constante doutrinação que o mundo é dualista e, portanto, só existe o Bem e o Mal), e a manipulação grosseira dos acontecimentos recentes e históricos nos fazem programados ao silêncio ou incapazes de zapear e desligar a televisão. Quando não, as opções e opiniões são combatidas feito direitos não adquiridos. É o que acontece com a propaganda do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Parece-me uma ofensa.

Começa carinhoso com cafuné nas nossas cabeças, então vem à ameaça escondida de sorrisos e música: "ou você regulariza seu título de eleitor ou ficará em débito com a Justiça Eleitoral e aí não poderá exercer cargo ou função pública, renovar ou matricular-se em instituição pública de ensino e nem mais votar limpo”. Além de pagar multa e outras restrições que não citarei. Mesmo votando quando se deve (porque É um dever) não estamos em uma democracia plena (e este fato é um dos motivos). É uma democracia parcial, principalmente se levarmos em conta que os direitos da Constituição não são, em sua maioria, práticos, ou melhor, não estão em prática, ou não teríamos mais pobres, doentes, despidos, inseguros, pessoas sem moradia, desempregados, sedentos, famintos, analfabetos e pessoas sem diplomas. Se fôssemos bem instruídos desde muito cedo não haveria a cisão da política boa nem a continuação da política ruim (para ficarmos em duas qualidades apenas) e poderíamos ter o direito de não votar sem consequências, porque este posicionamento (como qualquer outro) é um ato político. A falta de filosofia, psicologia, direitos constitucionais, cidadania e ética nas escolas de Ensino Básico e Fundamental ajuda (e como ajuda) a não sermos tão críticos e práticos (e, se possível,  até teóricos - se muita base - em demasia).

Mas somos obrigados a votar em centenas de candidatos, muitas vezes, que nem nos representam de verdade... E diversos subterfúgios são feitos para isso acontecer (e como acontecem!). Se houvessem cidadãos que lutassem pelas maiorias – ditas minorias – o objetivo não seria direcionado a direitos individuais e sim coletivos. Está na nossa Constituição: “Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações; São direitos: Saúde, educação, moradia, segurança, lazer, vestuário, alimentação e transporte são direitos dos cidadãos; Ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; Ninguém deve ser submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante; A manifestação do pensamento é livre, sendo vedado o anonimato; A liberdade de consciência e de crença é inviolável, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto. Além disso – se formos falar de religião – há o maior dos mandamentos: “Amar uns aos outro como a ti mesmo”. Mas, a preferência e a incitação do individualismo nos leva a diversas lutas separadas que no fim tem o mesmo objetivo: o direito de ir e vir. Será que não somos mais fortes juntos? Será?

Há um pedestal, ou a cobertura de uma aranha-céu, onde os que se forjaram (com nossa ajuda) detentores dos poderes visam dar certezas a sua continuidade, equilíbrio e consistência. Como deveriam ser exemplos e nossos representantes (o mesmo é reforçado aos pais, professores, donos de marcas, patentes, concessões de comunicação, marketing e proprietários de revistas e jornais e demais autoridades) misturaram (melhor, se apropriaram) dos deveres coletivos e os tornaram individuais. Nossos deveres ficaram subjulgados. Votar para escolher nossos governantes ficou a critério deles e como eles vestem tais. Cumprir as leis ficou ao nosso cabo, já que muitos deles as distorcem e até mesmo as ditam. Respeitar os direitos sociais de outras pessoas, tornou-se um mito e até uma falácia ou palavras ao vento. Educar e proteger nossos semelhantes, parece inacreditável. Proteger a natureza tornou-se “coisa”, apenas de ambientalistas. Proteger o patrimônio público e social do País, passou a ser apenas a ilógica obrigação dos governantes. Colaborar com as autoridades, bom este ficou direcionado apenas a nós, meros iludidos. 

Mesmo assim, desrespeitados, enquanto pessoas a mais e enquanto cidadãos a menos, devemos continuar a lutar pela Liberdade, principalmente de ser respeitados como pessoas, de não ter medo e não ser discriminado por causa do sexo (ou opção sexual), local de nascimento, raça, idade, trabalho, situação financeira na qual esteve, na qual está e pelos erros cometidos. Por mais que digam que não, temos sim os mesmos direitos nesta democracia inacabada cheia de pedras no caminho, nesta democracia que com carinho afaga nossa cabeça cheia de ideias para adormecê-las.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom..traduz muito bem a "nossa democracia".sos

j disse...

Belíssimo texto,retrata com fidelidade o nosso Regime democrático. Suely